sábado, 6 de setembro de 2008

Revista Tempo Brasileiro, nº 171

Acaba de ser lançado, mais um volume, 192 páginas, desta importante publicação trimestral. “Permanência e Atualidade da Poética” é o tema de reflexão:

“O presente número deve-se à iniciativa de Manuel Antonio de Castro, Professor Titular de Poética, do Programa de Pós-Graduação de Ciência da Literatura – Área de Poética/Faculdade de Letras da UFRJ, tendo sido co-organizado pelo Prof. Jun Shimada de Vasconcellos Brotto”.

Eis o sumário:

Antonio Jardim – Apenas um convite ... 5.
Manuel Antonio de Castro – Poética:permanência e atualidade ... 7.
Emmanuel Carneiro Leão – Permanência e atualidade do poético: lógos, mýthos, épos ... 33.
Gilvan Fogel – O desaprendizado do símbolo (a poética do ver imediato) ... 39.
Maria Lúcia Guimarães de Faria – Bachelard e a permanência poética ... 53.
Carlos Alberto Murad – Fotopoética e o pensamento da imagem criadora ... 75.
Werner Aguiar – Poética da interpretação musical ... 89.
Fábio Santana Pessanha – Poética do teatro – reunião de corpo, terra e mundo -101.
Andréa Copeliovitch – A noite do Sagrado ... 115.
Cláudia Andréa Prata Ferreira – Poesia – palavra – linguagem na narrativa bíblica .. 129.
Ronaldes de Melo e Souza – Poética da narrativa de primeira pessoa ... 141.
Antonio Carlos Pereira Borba Rocha – Diálogo com Chuang Tzu hoje ... 161.
Jun Shimada de Vasconcellos Brotto – Os três lobos da estepe e a aprendizagem do mistério ... 175.

A revista, que circula no âmbito das faculdades de letras em todo o Brasil, já está nas livrarias especializadas, pode também ser solicitada no site: www.tempobrasileiro.com.br

domingo, 27 de julho de 2008

Fernando Pessoa Hoje

Fernando Pessoa deixou, dispersa por folhetos, jornais e revistas, uma imensa obra literária, constituída por mais de 25.000 documentos originais, a grande maioria não publicados em vida. Aliás, Pessoa, enquanto tal, só publicou, e tardiamente, um volume de poesia – Mensagem – aprontado em 1934. Por tudo isso, a consagração nacional e internacional só surgiram posteriormente.

O conjunto dos seus escritos apresenta-se assinado com o seu nome e por vários “heterônimos” – Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Bernardo Soares etc -, que tem sido considerados autores fictícios por ele criados. Mas o poeta dizia não se tratar de pseudônimos, antes de personalidades distintas, com estilos próprios. Hoje há quem considere que muito do que escrevia era psicografado, ou seja, Pessoa seria apenas o meio através do qual alguns seres já fisicamente mortos se expressavam.

Em carta de junho de 1916 à sua tia Anica, já o autor afirmava: “Aí por fins de Março comecei a ser médium. Imagina !... Comecei, de repente, com a escrita automática. Estava uma vez em casa, de noite, tendo vindo da Brasileira (cafeteria), quando senti a vontade de, literalmente, pegar numa caneta e pô-la sobre o papel. É claro que depois é que dei pelo facto de que tinha tido esse impulso... De vez em quando, umas vezes voluntariamente, outras obrigado, escrevo”.

E, mais adiante, na mesma carta: “Guardo, porém, para o fim o detalhe mais interessante. É que estou desenvolvendo qualidades, não só de médium escrevente mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam a visão astral, e também a chamada visão etérica... Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente bocados de visão etérica – em que vejo a aura magnética de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no... A visão astral está muito mais imperfeita. Mas, às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muito rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer coisa no mundo exterior)... E há - o que é uma sensação muito curiosa – por vezes o sentir-me de repente pertença de qualquer outra coisa. O meu braço direito, por exemplo, começa a ser-me levantado no ar sem eu o querer. (É claro que posso resistir, mas o fato é que não o quis levantar nessa ocasião). Outras vezes sou feito cair para um lado, como se estivesse magnetizado, etc... Não sei se realmente julgará que estou doido. Creio que não. Estas coisas são anormais sim, mas não antinaturais”.

- trechos do livro À janela da vida, do médico e escritor português Luís Portela, Edições Asa, Lisboa, 1997, p. 160 a 162.

sábado, 24 de maio de 2008

A Inspiração Espiritual na Criação Artística

A autoria deste livro é da escritora, professora e poetisa Cristina da Costa Pereira. A primeira edição saiu pela editora Lachâtre, de Niterói, em 1999; a segunda pelas edições Celd, em 2002 e a terceira, agora, neste ano de 2008, também pela Celd, que fica em Bento Ribeiro, RJ. Visite http://www.celd.org.br

Assim explica a autora: “A proposta deste livro é sugerir que a inspiração do artista pode também lhe chegar pela via espiritual e, nesse momento específico, ou o artista perceberá a sua voz interior, o seu próprio espírito, com toda a bagagem adquirida ao longo das várias encarnações, ou será uma antena, exercendo um tipo de mediunidade, o que lhe exigirá disponibilidade e humildade, através da consciência de que, por vezes, ele é um canal da espiritualidade para conduzir a arte à Terra.

Isto sem nos esquecermos do sonho, pois, durante o sono, ao se libertar da matéria, outros espíritos podem inspirar-lhe músicas, poesias, pinturas, coreografias etc.

A criação do artista parece-me então marcada de fenômenos anímicos e mediúnicos.

E isto, em absoluto, não significa que não há todo um árduo trabalho do artista no sentido de burilar, aprimorar sua criação. Paralelamente à inspiração, existe a necessidade da busca de informação, de pesquisa intensa, de estudo teórico e prático.

Não partilha este livro a idéia de que a obra cai pronta na mente, nas mãos do artista, como num passe de mágica, nem se tem a intenção de tirar o mérito e o valor do artista.

É preciso também ressaltar que neste livro não trataremos da arte mediúnica, pois já há uma vasta literatura neste sentido.

Interessa-nos abordar aqui a relação que se processa entre os componentes material e espiritual na criação de uma obra de arte. Se o artista consegue processar estes dois elementos com harmonia, despojando-se da vaidade e desvestindo-se da arrogância, tanto melhor”.

(Cristina é autora também de outros livros que, mais adiante, resenharemos).

sábado, 22 de março de 2008

Espaço e Tempo

“Vários autores têm sublinhado que espaço e tempo são noções relativas, que não existem em termos absolutos, sendo apenas uma questão de perspectiva; à medida que modificamos a nossa perspectiva, experimentamos a realidade de formas diferentes.

“Tal como se olha para uma pedra aos nossos pés e se vê a pedra, nesse preciso momento e nesse lugar, inteira, completa e perfeita. Mas, mesmo na fração de momento em que a pedra se mantém na nossa percepção, passam-se muitas coisas nela – um movimento incrível, a uma velocidade incrível, das partículas (átomos, prótons, nêutrons e partículas subatômicas) dessa pedra. E que fazem essas partículas? Fazem da pedra o que ela é.

“Ao olharmos para essa pedra, não vemos este processo. Mesmo que, conceptualmente, estejamos conscientes dele, para nós está tudo a acontecer “agora”. A pedra não se está a tornar uma pedra; é uma pedra, aqui e agora mesmo.

(...)

“Assim sendo, os fenômenos “espaço” e “tempo” são funções da perspectiva. Se resolvermos assumir uma perspectiva diferente poderemos deixar de ver a micro-realidade para passar a ver a macro-realidade. Ou vice-versa. Ou poderemos passar a perspectivar em simultâneo a micro e a macro-realidade.

“O “espaço” e “tempo” serão, então, perspectivas; não existem nem deixam de existir. À medida que cada ser vai modificando a sua perspectiva, vai experimentando a realidade de uma forma diferente. Provavelmente cada vez mais abrangente. Provavelmente cada vez mais próxima do Todo, desde o infinitamente pequeno até o infinitamente grande”.

- PORTELA, Luís. Encarar a realidade. Porto, Asa, 2004, págs. 21 e 22.

(o autor é médico, escritor e jornalista português).

domingo, 16 de março de 2008

Metáfora Rural

“Para muitos que leram Heidegger não ficou instantaneamente claro de que diabo ele está falando. Felizmente o próprio Heidegger tinha consciência dessa dificuldade e da necessidade de tratar dela. Para esclarecer seu pensamento nesse ponto, usou simples uma metáfora rural. O método para compreender a questão do ser, disse, era como o de abrir uma clareira na floresta. Limpamos a mata cerrada e a vegetação rasteira de modo que a luz possa se irradiar no terreno da clareira. A palavra alemã Lichtung, que significa “clareira”, contém a palavra Licht, que significa “luz”. Espalhamos luz sobre o terreno limpo que está oculto sob o que é imediatamente aparente. Expomos seu substrato, que é assim “desvelado”.

Mesmo para Heidegger, porém, há uma dificuldade aqui. Quando pomos à mostra o ser que estava velado, nós o desvelamos. Ele chama o que é desvelado aletheia. Essa é a antiga palavra grega para “verdade” – mas significa também não-esquecimento ou desvelamento. No entanto, segundo Heidegger, esse mesmo desvelamento produz velamento, encobrimento. Como pode ser isso? Ao desvelar revelamos o ser de um modo, mas ao mesmo tempo velamos todas as suas outras possibilidades. Ao escolher uma revelação, bloqueamos as outras revelações possíveis. Isso explica como o ser pode ter uma história, que não é necessariamente de progresso. O que os gregos antigos revelaram do ser perdera-se agora para nós em nossa revelação tecnológica do ser. Nosso desvelamento resultara em ocultamento”.

STRATHERN, Paul. Heidegger em 90 minutos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004, págs. 41 e 42.

sábado, 15 de março de 2008

Heidegger e o Sagrado: uma leitura budista

Tese de Doutorado de Antonio Carlos Pereira Borba Rocha na Faculdade de Letras da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendida em 26 de abril de 2007.

Tese completa em PDF, 235 páginas, acesse:

www.ciencialit.letras.ufrj.br/trabalhos/2007/antoniocarlospereira_umaleitura.pdf-

domingo, 9 de março de 2008

Bloglit Memórias de Lásaro

“Entrei na fase reflexiva em que resolvi mudar de vida. Depois de muitos conflitos comigo mesmo decidi dar um tempo, (...) por isso larguei tudo, entrei em uma fase, digamos Zen de vida.

Eu passei a encarar seriamente, pela primeira vez na vida, um problema existencial de frente, surpreendi-me recentemente quando procurava finalizar estas memórias, haver anotado em uma caderneta de endereços as observações que se seguem, deste período de profundas reflexões. “Mesmo o mais descrente dos homens em momentos de aflição, quando no limite da existência corpórea, quando o seu espírito se encontra despedaçado, a alma em frangalhos, olhando para todos os lados e não vislumbrando uma única saída do labirinto em que está sucumbido, é capaz de apelar para qualquer ente transcendente que lhe esteja acima de seu domínio de percepção, seja Ele chamado Deus, ou um Poder Superior a nós mesmos. Ele tenha ou não a existência em si mesmo, é chamado por nós na esperança de aliviar a nossa dor, de nos tirar do buraco, daquele infortúnio sem saída, dentro do campo da razão ditada pela lógica do ser. É aí que ele descobre a Fé como único meio de salvação, não uma salvação futura, mas imediata”.

(trechos do livro Memórias, de Lásaro Venceslau dos Santos, Editora Caetés, 2008, p. 111 e 112).

- O autor nasceu em Francisco Santos, Piauí, reside no Rio de Janeiro desde 1968, é professor de matemática e física na rede estadual.