domingo, 8 de março de 2009

Texto Oftálmico

Antonio Carlos Rocha*

Para gáudio
Dos olhos meus
As minissaias
Voltaram

E hoje,
As moçoilas em flor
Não mais
Raspam as coxinhas
Deixando-as felpudinhas
Tal e qual
A protuberante semente
Que brota
Entre as mesmas.

Antigamente,
As calcinhas
Eram de cores fortes
Hoje, porém,
Transparentes, furadinhas
Diminutas
Até inexistentes
Alegrarão meus
Míopes e fotofóbicos
Olhos.

As adultas
Esmeram-se, à moda antiga
Em insinuar
Sob vestidos longos e translúcidos
Suas balzaquianas ancas
- Ainda bem que aboliram as anáguas !

As de meia-idade
Oriundas do colonialismo
Apertam-se em calças justas
Querendo dar forma
Ao que não precisa de forma
Pois já é a própria forma.

E por favor,
Não me venham
Com interpretações,
Acabo de vislumbrar
Meu costumeiro
Colírio.


(*) O autor participou, no Rio de Janeiro, anos 1980, representando o Estado de Pernambuco, sua terra natal, do Movimento de Poesia Pornô - Pornopoema. Na “direção” do movimento estavam os consagrados poetas Eduardo Kac e Kairo Assis Trindade.

- a poesia acima foi publicada nas páginas 75 e 76 da revista Aió, nº 2, abril de 1984. O fundador e editor da citada revista é o também consagrado escritor e professor Rogel Samuel.

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