Na página 298, da ótima biografia Heidegger – Um Mestre Da Alemanha Entre O Bem E O Mal, de Rudiger Safranski, em excelente tradução de Lya Luft, editora Geração, 2000; ficamos sabendo que Eugen Herrigel elogiou o discurso de posse de Martin Heidegger como reitor da Universidade de Freiburg. Herrigel era professor de filosofia na Universidade de Heidelberg.
Mas, quem é Eugen Herrigel? Nada mais, nada menos que o consagrado autor de um pequeno grande livro, publicado em diversos idiomas. A Arte Cavalheiresca Do Arqueiro Zen, editora Pensamento, em 2005, já havia passado da 21ª impressão no Brasil.
Martin Heidegger (1889-1976), Eugen Herrigel (1884-1955) eram colegas docentes, portanto, um conhecia o trabalho e a pesquisa do outro.
Herrigel tem também um outro livro, na área, bastante traduzido e como o anterior, bem respeitado, O Caminho Zen, editora Pensamento, em 1987, estava na segunda impressão.
Com freqüência nosso blog fala muito em Heidegger, vamos hoje falar também de Eugen. Herrigel era um conceituado kantiano, seu primeiro livro na academia Urstoff Und Urform, publicado em 1926 falava naturalmente do seu então objeto de estudo, o filósofo conterrâneo Immanuel Kant (1724-1804). Quanto ao segundo livro, editado em 1929, ainda na área universitária, teve uma coincidência interessante, Die metaphysiche Form, também sobre o pensamento de Kant, foi lançado quase que simultaneamente ao Kant Und Das Problem Der Metaphysik, de Heidegger. Seria muito bom que alguma editora brasileira ou portuguesa, publicasse os dois.
Eis então que a Universidade Imperial de Tohoku, Sendai, no Japão oferece a Eugen o cargo de professor convidado de História da Filosofia. Ele prontamente aceita. Segue com a esposa para o Japão onde fica 6 anos. É aí que Herrigel tem iniciação no Zen-Budismo. Nessa universidade Eugen recebe o título de doutor honorário (Bungaku Hakushi), pelos relevantes serviços prestados à filosofia oriental, sobretudo, o pensamento japonês.
Voltando à Alemanha, Herrigel ocupa a cátedra de Filosofia e Teologia Sistemática da Universidade de Erlangen, e se torna membro da Academia de Ciência da Baviera.
domingo, 30 de agosto de 2009
sábado, 22 de agosto de 2009
Primórdios da Literatura em Myammar
A literatura da Birmânia, atual nome de Myammar, é uma das mais antigas do sudeste asiático.
O país é cercado a oeste, leste e norte por cadeias de montanhas muito íngremes e inacessíveis, com a Índia, o Tibet e a China. Ao sul tem o oceano índico, caracterizando aquele povo como se vivessem em uma “ilha”.
A História documentada começa no século 8. A língua é tonal, com elementos monossilábicos e faz parte do grupo tibeto-birmanês, sintaticamente bem diferente do antigo chinês.
O rei Anoratha (1004-1077) unificou a nação. Em 1044, aceitando o conselho de um monge, elevou o Budismo à condição de religião oficial, mas tolerava o animismo, o tantrismo budista e a adoração à divindades hindus. Chamou então de Budismo Meridional, em função da geografia do país, é uma espécie de Theravada misturado com os demais credos citados.
Os documentos literários mais antigos remontam ao século 5, eram escritos em folhas de palmeiras misturadas com barro, formando finas placas argilosas. Escavações arqueológicas encontraram inscrições em língua páli e em pyu (o idioma nativo) nas pedras e em tábuas. São trechos conhecidos do Cânon Páli do Budismo Theravada.
Em 1495, o monge Shin Thila-wuntha escreveu, na forma de poesia didática, as 10 Perfeições do Budismo. Em 1495, no mesmo gênero, escreveu a Prece pela Comunidade Budista. A partir daí, outros autores, em geral monges e poucos nobres, escreveram mais poesias didáticas com os temas das vidas pregressas do Buddha que se encontram nos chamados Jatakas.
O teatro popular também se desenvolveu muito, mas dessa vez, só grupos leigos, sem a presença dos monges. Havia uma festa anual, tipo carnaval onde os grupos cantavam e dançavam nas aldeias, faziam procissões com carros de bois, cenas pantomímicas inspiradas na vida do Buddha, algumas de teor solene e sério, outras com toques de irreverência e até ridicularizando o público, lembrando a interação entre palco e platéia.
Com o passar do tempo foram surgindo também, no meio do leigos, cantadores camponeses contando histórias de espíritos, baladas de amor, humorismo refinado, generosa compreensão das fraquezas humanas. Tudo sob as bênçãos e o esplendor do Buddha.
Fonte: História das Literaturas Universais, editora Estampa, Lisboa, 1974.
O país é cercado a oeste, leste e norte por cadeias de montanhas muito íngremes e inacessíveis, com a Índia, o Tibet e a China. Ao sul tem o oceano índico, caracterizando aquele povo como se vivessem em uma “ilha”.
A História documentada começa no século 8. A língua é tonal, com elementos monossilábicos e faz parte do grupo tibeto-birmanês, sintaticamente bem diferente do antigo chinês.
O rei Anoratha (1004-1077) unificou a nação. Em 1044, aceitando o conselho de um monge, elevou o Budismo à condição de religião oficial, mas tolerava o animismo, o tantrismo budista e a adoração à divindades hindus. Chamou então de Budismo Meridional, em função da geografia do país, é uma espécie de Theravada misturado com os demais credos citados.
Os documentos literários mais antigos remontam ao século 5, eram escritos em folhas de palmeiras misturadas com barro, formando finas placas argilosas. Escavações arqueológicas encontraram inscrições em língua páli e em pyu (o idioma nativo) nas pedras e em tábuas. São trechos conhecidos do Cânon Páli do Budismo Theravada.
Em 1495, o monge Shin Thila-wuntha escreveu, na forma de poesia didática, as 10 Perfeições do Budismo. Em 1495, no mesmo gênero, escreveu a Prece pela Comunidade Budista. A partir daí, outros autores, em geral monges e poucos nobres, escreveram mais poesias didáticas com os temas das vidas pregressas do Buddha que se encontram nos chamados Jatakas.
O teatro popular também se desenvolveu muito, mas dessa vez, só grupos leigos, sem a presença dos monges. Havia uma festa anual, tipo carnaval onde os grupos cantavam e dançavam nas aldeias, faziam procissões com carros de bois, cenas pantomímicas inspiradas na vida do Buddha, algumas de teor solene e sério, outras com toques de irreverência e até ridicularizando o público, lembrando a interação entre palco e platéia.
Com o passar do tempo foram surgindo também, no meio do leigos, cantadores camponeses contando histórias de espíritos, baladas de amor, humorismo refinado, generosa compreensão das fraquezas humanas. Tudo sob as bênçãos e o esplendor do Buddha.
Fonte: História das Literaturas Universais, editora Estampa, Lisboa, 1974.
domingo, 16 de agosto de 2009
Jaspers e o Zen
Mestre Taisen Deshimaru (1914-1982) foi um dos grandes monges Zen-Budistas do século 20. Nasceu no Japão, mas cedo fixou residência na França, de onde tratou de divulgar o Zen por toda a Europa.
Em seu livro La Voz Del Valle, editora Paidos, Barcelona, 1985, ele conta, à página 232, que certa feita conheceu pessoalmente o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969).
Jaspers andava estudando a vida e a obra do monge budista Dogen (1200-1253), fundador e patriarca da linhagem Sotô Zen, considerado o Pai da Filosofia no Japão. Segundo Deshimaru, o filósofo alemão estava “profundamente surpreendido e impressionado”.
E, mais adiante, Jaspers declara:
- Se eu pudesse voltar e começar a minha vida, não escreveria livros. Eu, simplesmente, sentaria e guardaria o silêncio.
Na linguagem Zen, sentar e guardar o silêncio equivale a fazer Zazen, isto é, meditar.
Em seu livro La Voz Del Valle, editora Paidos, Barcelona, 1985, ele conta, à página 232, que certa feita conheceu pessoalmente o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969).
Jaspers andava estudando a vida e a obra do monge budista Dogen (1200-1253), fundador e patriarca da linhagem Sotô Zen, considerado o Pai da Filosofia no Japão. Segundo Deshimaru, o filósofo alemão estava “profundamente surpreendido e impressionado”.
E, mais adiante, Jaspers declara:
- Se eu pudesse voltar e começar a minha vida, não escreveria livros. Eu, simplesmente, sentaria e guardaria o silêncio.
Na linguagem Zen, sentar e guardar o silêncio equivale a fazer Zazen, isto é, meditar.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O Pastor que era Amigo de Freud
Em 1962, em Londres, Anna Freud, filha do Pai da Psicanálise afirmava sobre o pastor Pfister:
“No ambiente dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes, aparência e atitude de pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente, com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a nossa família – como uma interrupção das suas discussões teóricas e clínicas.
“Pelo contrário, seu calor humano e entusiasmo, sua viva participação também nos fatos mínimos do cotidiano entusiasmavam as crianças da casa e faziam dele um hóspede bem-vindo em qualquer tempo. Para elas Pfister era, segundo um dito de Freud, não um santo homem, mas um tipo de flautista de Hamelin que só precisava tocar seu instrumento para ter um bando inteiro obediente atrás de si”.
Os dois parágrafos acima estão no livro Cartas entre Freud & Pfister – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã, publicado pela editora evangélica, Ultimato, de Viçosa, MG, 200 páginas.
O pastor protestante Oskar Pfister, doutor em filosofia e teologia, nasceu eu Zurique. E como educador foi pioneiro em interligar psicanálise e pedagogia.
Veja as palavras do próprio Freud ao amigo, em 04/10/1909: “Uma carta sua faz parte do mais belo que pode recepcionar a gente no regresso para casa”.
E, em 30/12/1923, Pfister escreveu: “Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem-se na casa do professor Freud !”.
Claro, nem sempre os dois se entendiam: Pfister, religioso; Freud ateu, mas nasceu daí uma grande amizade. E o livro cobre 20 anos de cartas, de 1909 a 1939.
Uma leitura saborosíssima.
“No ambiente dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes, aparência e atitude de pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente, com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a nossa família – como uma interrupção das suas discussões teóricas e clínicas.
“Pelo contrário, seu calor humano e entusiasmo, sua viva participação também nos fatos mínimos do cotidiano entusiasmavam as crianças da casa e faziam dele um hóspede bem-vindo em qualquer tempo. Para elas Pfister era, segundo um dito de Freud, não um santo homem, mas um tipo de flautista de Hamelin que só precisava tocar seu instrumento para ter um bando inteiro obediente atrás de si”.
Os dois parágrafos acima estão no livro Cartas entre Freud & Pfister – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã, publicado pela editora evangélica, Ultimato, de Viçosa, MG, 200 páginas.
O pastor protestante Oskar Pfister, doutor em filosofia e teologia, nasceu eu Zurique. E como educador foi pioneiro em interligar psicanálise e pedagogia.
Veja as palavras do próprio Freud ao amigo, em 04/10/1909: “Uma carta sua faz parte do mais belo que pode recepcionar a gente no regresso para casa”.
E, em 30/12/1923, Pfister escreveu: “Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem-se na casa do professor Freud !”.
Claro, nem sempre os dois se entendiam: Pfister, religioso; Freud ateu, mas nasceu daí uma grande amizade. E o livro cobre 20 anos de cartas, de 1909 a 1939.
Uma leitura saborosíssima.
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