“No início da era cristã, chamava-se crônica a uma relação de acontecimentos organizada cronologicamente, sem nenhuma participação interpretativa do cronista. Nessa forma, ela atinge o seu ponto alto na Idade Média, após o século XII, quando já apresentava uma perspectiva individual da história, como fez Fernão Lopes, no século XIV. As simples relações de fatos passam, então, a chamar-se “cronicões”. E, no século XVI, o termo “crônica” começa a ser substituído por história.
“A partir do século XIX, a crônica já apresenta um trabalho literário que a aproxima do conto e do poema, impondo-se, porém, como uma forma especial, porque não se permite classificar como aqueles.
“Ligada ao tempo (chrónos), ou melhor, ao seu tempo, a crônica o atravessa por ser um registro poético e muitas vezes irônico, através do que se capta o imaginário coletivo em suas manifestações cotidianas. Polimórfica, ela se utiliza afetivamente do diálogo, do monólogo, da alegoria, da confissão, da entrevista, do verso, da resenha, de personalidades reais, de personagens ficcionais... afastando-se sempre da mera reprodução de fatos. E enquanto literatura, ela capta poeticamente o instante, perenizando-o.
“Conscientemente fragmentária (e essa é a sua força) pois não pretende captar a totalidade dos fatos, a crônica vem-se impondo nos quadros da literatura brasileira...”
(Angélica Soares in Gêneros literários, 6ª edição, Ática, 2000, págs. 64 e 65. A autora é doutora em Letras e professora de Teoria Literária na UFRJ).
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
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