“Dentro do conceito de uma filosofia da ciência literária, assim como queriam os alemães por volta de 1930, tentarei estabelecer, da maneira mais sintética possível, uma impossível unidade de idéias em torno do termo POÉTICA, que designa nos meios especializados uma ciência cujo objeto é toda a literatura – criação e arte, gêneros e formas, texto e contexto, autor e leitor, enfim, uma matéria aparentemente sem “fronteiras”, e que, situando-se no seu tempo e espaço, abre-se utopicamente para outros tempos e espaços do imaginário de todos os tempos.
A constituição da Poética como Ciência da Literatura, iniciada com Aristóteles e prolongada no Ocidente sobre os princípios da geometria euclidiana, foi-se fazendo dentro das Ciências Humanas, com o material recortado da Filosofia, da Filologia, da Gramática e da Retórica. No Oriente, a ciência desenvolveu-se não com a lógica mas com a analogia e com a álgebra, possibilitando, pelo tipo especial de cada escrita, um modo visual e anagógico de se pensar a produção literária.
Mas para a compreensão mais profunda do conceito de Poética, preferimos trata-la como Ciência da Poesia, como, aliás, o quer o grupo de Liège. E tanto no Ocidente como no Oriente, é preciso que ela seja percebida nos seus dois sentidos fundadores: um que trata da invenção, da criação ou da recriação; outro que olhe sobre essa criação, que olhe, que ache conforme e que a julgue de algum valor como forma artística, assim como Deus fez com a sua Criação.
Elas são as duas faces da moeda literária – uma que, a priori, especula a fenomenologia criadora; outra, a posteriori, que examina o sentido de originalidade da obra em consonância com o cânone e com os elementos novos que essa obra acrescenta à tradição”.
(trechos do discurso de posse de Gilberto Mendonça Teles na Academia Brasileira de Filosofia, 2005: “Para uma Filosofia da Criação Poética”.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
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