“Amigos de Deus”
O movimento Cátaro tem
origem nos primórdios do Cristianismo, só reconheciam e aceitavam o Novo
Testamento, como livro básico, principalmente o Evangelho de João. A
interpretação que fazem das Escrituras é bem original: não crêem no Juízo
Final, nem na Ressurreição de Jesus. A salvação se obtém mediante a
transformação interior de cada praticante. Neste sentido os Espiritualistas
contemporâneos se aproximam do Catarismo. Não têm a paixão redentora de
converterem outros “ímpios”, “pagãos” que não professam a fé que eles cultivavam.
Cada um na sua respeitando os outros. Não tinham dogmas, uma linhagem que se
espalhou por várias cidades da Europa, mormente França, onde até hoje existem
ruínas da cidades, povoados e lugarejos cátaros. Os reflexos podem ser vistos
até na Bulgária, Turquia, Inglaterra, Itália etc. Mas, com toda essa
“liberdade” ameaçavam os poderosos da época e entre os séculos X e XV foram
sumariamente executados. As cruzadas mataram todos os cátaros.
Quem afirma é o
especialista no assunto Michel Roquebert, no livro La Religión Cátara, Editions
Loubatieres, Toulouse, 1990. Estudiosos afirmam que sofreram influência do
Gnosticismo, esoterismo e há quem diga que são precursores dos espíritas e
kardecistas atuais.
Michel declara que há
um equívoco na tradução do grego katharos, muitos pensam e falam em “puros”,
esta, na verdade, era a forma irônica que o sistema da época os chamavam e por
isso os exterminaram. Roquebert vai além, cita várias fontes e escreve que
chamar os Cátaros de puros é “infamante”, pois eles eram simples, tinham
consciência da imperfeição humana e a melhor tradução é como eles se
auto-identificavam: “Amigos de Deus”.
Os cátaros não
professam a Santíssima Trindade, afirmam que Jesus era um mensageiro, e não Deus,
como conhecemos hoje, popularmente. Cristo não veio para morrer na cruz, não há
esta missão redentora. Não existe isso de redimir os pecados com o sangue
derramado no madeiro. Para os cátaros, Jesus foi um Mestre, um professor, o
“Pai Espiritual” de uma corrente de filosofia de vida e não o Deus Criador.
Mesmo o Novo
Testamento, algumas partes, eles questionam a autenticidade. Os cátaros vêem na
Cruz um instrumento de suplício e assim não há veneram. Dizem que Jesus foi
crucificado, mas não morreu na cruz, neste item aproxima-se de muitos budistas,
maçons, esotéricos que afirmam o mesmo.
Eis uma pergunta
cátara: “Se tivessem enforcado o seu pai, você iria adorar, reverenciar e
tornar sagrada a corda que o estrangulou?”
O batismo era
espiritual, sem água, com imposição de mãos, como se fosse uma passe espírita.
No final há uma boa
bibliografia pra quem desejar os conhecimento desta bonita Fé.
Modernamente os
cátaros estão aos poucos ressurgindo, renascendo, reencarnando, através de
praticantes solitários, pesquisadores e na França existe o Centro de Estudos
Cátaros.
Michel afirma que a Fé
Cátara: “Era a mensagem de amor mais bonita que se conheceu no Ocidente, desde
os tempos apostólicos”.
Um comentário:
Parabéns pelo texto. Sendo de família Kardecista, identifico-me como um dos que menciona como "cátaro de hoje, praticantes solitários, ou reencarnados...". Grande abraço.
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