sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Literatura Cátara



“Amigos de Deus”

O movimento Cátaro tem origem nos primórdios do Cristianismo, só reconheciam e aceitavam o Novo Testamento, como livro básico, principalmente o Evangelho de João. A interpretação que fazem das Escrituras é bem original: não crêem no Juízo Final, nem na Ressurreição de Jesus. A salvação se obtém mediante a transformação interior de cada praticante. Neste sentido os Espiritualistas contemporâneos se aproximam do Catarismo. Não têm a paixão redentora de converterem outros “ímpios”, “pagãos” que não professam a fé que eles cultivavam. Cada um na sua respeitando os outros. Não tinham dogmas, uma linhagem que se espalhou por várias cidades da Europa, mormente França, onde até hoje existem ruínas da cidades, povoados e lugarejos cátaros. Os reflexos podem ser vistos até na Bulgária, Turquia, Inglaterra, Itália etc. Mas, com toda essa “liberdade” ameaçavam os poderosos da época e entre os séculos X e XV foram sumariamente executados. As cruzadas mataram todos os cátaros.

Quem afirma é o especialista no assunto Michel Roquebert, no livro La Religión Cátara, Editions Loubatieres, Toulouse, 1990. Estudiosos afirmam que sofreram influência do Gnosticismo, esoterismo e há quem diga que são precursores dos espíritas e kardecistas atuais.

Michel declara que há um equívoco na tradução do grego katharos, muitos pensam e falam em “puros”, esta, na verdade, era a forma irônica que o sistema da época os chamavam e por isso os exterminaram. Roquebert vai além, cita várias fontes e escreve que chamar os Cátaros de puros é “infamante”, pois eles eram simples, tinham consciência da imperfeição humana e a melhor tradução é como eles se auto-identificavam: “Amigos de Deus”.

Os cátaros não professam a Santíssima Trindade, afirmam que Jesus era um mensageiro, e não Deus, como conhecemos hoje, popularmente. Cristo não veio para morrer na cruz, não há esta missão redentora. Não existe isso de redimir os pecados com o sangue derramado no madeiro. Para os cátaros, Jesus foi um Mestre, um professor, o “Pai Espiritual” de uma corrente de filosofia de vida e não o Deus Criador.

Mesmo o Novo Testamento, algumas partes, eles questionam a autenticidade. Os cátaros vêem na Cruz um instrumento de suplício e assim não há veneram. Dizem que Jesus foi crucificado, mas não morreu na cruz, neste item aproxima-se de muitos budistas, maçons, esotéricos que afirmam o mesmo.

Eis uma pergunta cátara: “Se tivessem enforcado o seu pai, você iria adorar, reverenciar e tornar sagrada a corda que o estrangulou?”

O batismo era espiritual, sem água, com imposição de mãos, como se fosse uma passe espírita.

No final há uma boa bibliografia pra quem desejar os conhecimento desta bonita Fé.

Modernamente os cátaros estão aos poucos ressurgindo, renascendo, reencarnando, através de praticantes solitários, pesquisadores e na França existe o Centro de Estudos Cátaros.

Michel afirma que a Fé Cátara: “Era a mensagem de amor mais bonita que se conheceu no Ocidente, desde os tempos apostólicos”.

Um comentário:

Christina Nunes disse...

Parabéns pelo texto. Sendo de família Kardecista, identifico-me como um dos que menciona como "cátaro de hoje, praticantes solitários, ou reencarnados...". Grande abraço.