O problema do inter-relacionamento de história e literatura vem cada vez mais ocupando tanto os críticos literários como os próprios historiadores. Para o crítico, o problema se torna importante, mesmo fundamental, por duas razões principais. Primeira, em virtude da necessidade de compreender como um todo e historicamente as produções literárias de diferentes autores, épocas e nações. Segunda, ampliar os critérios de compreensão do que seja a obra literária, do que deva ser considerado como literário quando as modas e as pressões ideológicas não se fazem mais presentes. Sucede então que muitas obras, que em seu tempo conheceram o sucesso, passam com a moda. E outras, rejeitadas em seu tempo, são resgatadas literariamente. Importa, pois, ao verdadeiro exercício crítico, não só fundamentar o fenômeno literário mas igualmente histórico.
Na medida em que o literário se institui como um fazer histórico, o crítico e o historiador literário não lhe podem ser indiferentes. Toda história literária, implícita ou explicitamente expõe um conceito de história.
(...)
Pensar a história literária é pensar o histórico, o literário, a crítica em seu fundamento. A amplitude e radicalidade do conceito de crítica é que dará, em última instância, os parâmetros para a realização da história literária. Não podemos, é evidente, confundir crítica literária exercida historiograficamente com história literária. Algumas perspectivas críticas negam ou abandonam inteiramente o histórico, embora sejam posições críticas históricas, apesar de.
(Manoel Antônio de Castro, O acontecer poético. Editora Antares, 1982, págs. 117 e 118).
domingo, 21 de outubro de 2007
sábado, 20 de outubro de 2007
Homem e mundo
A arte é um dos meios de que se vale o homem para conhecer a realidade.
Esta última se efetiva na constante relação entre homem e mundo, vale dizer, entre sujeito e objeto, como costumam lembrar os filósofos.
Nesse jogo dialético, o homem busca aceder à interioridade de sua essência, para melhor saber de si e situar-se. E, no seu percurso existencial, tem procurado conhecer a si mesmo, o mundo, a sua relação com os outros, a sua relação com o mundo.
Todo conhecimento se caracteriza como uma representação, como um tornar de novo presente a realidade em que vivemos, para que dela tenhamos uma visão mais clara e profunda, que escapa a nossa percepção imediata. Toda representação, nesse sentido, configura uma interpretação. "O homem é a presença de todas as determinações de uma interpretação. Rejeitá-las seria negar a própria existência. Portanto, o homem é um arranjo existencial definido, articulado, situado. É uma circunstância, dizia Ortega y Gasset" e lembra Archangelo Buzzi, na sua Introdução ao pensar.
Esse interpretar se clarifica através de uma linguage."
(A linguagem literária, Domício Proença Filho, Ática, 2001, págs. 14 e 15).
Esta última se efetiva na constante relação entre homem e mundo, vale dizer, entre sujeito e objeto, como costumam lembrar os filósofos.
Nesse jogo dialético, o homem busca aceder à interioridade de sua essência, para melhor saber de si e situar-se. E, no seu percurso existencial, tem procurado conhecer a si mesmo, o mundo, a sua relação com os outros, a sua relação com o mundo.
Todo conhecimento se caracteriza como uma representação, como um tornar de novo presente a realidade em que vivemos, para que dela tenhamos uma visão mais clara e profunda, que escapa a nossa percepção imediata. Toda representação, nesse sentido, configura uma interpretação. "O homem é a presença de todas as determinações de uma interpretação. Rejeitá-las seria negar a própria existência. Portanto, o homem é um arranjo existencial definido, articulado, situado. É uma circunstância, dizia Ortega y Gasset" e lembra Archangelo Buzzi, na sua Introdução ao pensar.
Esse interpretar se clarifica através de uma linguage."
(A linguagem literária, Domício Proença Filho, Ática, 2001, págs. 14 e 15).
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
"Teoria Literária: coleção de ciências"
A teoria literária reúne uma coleção de ciências que alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de “teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária” se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra, da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura como objeto do saber.
A primeira tarefa da teoria literária consiste em saber o que é literatura.
A teoria literária funda um tipo de atividade intelectual chamada crítica literária. Muitas vezes só conhecemos a crítica, da qual se depreende a teoria. Por exemplo: os estudos de psicanálise de Freud ou a crítica da economia política de Marx, apesar de não serem literários, influenciaram nossos estudos.
Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é a literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o texto? Como interpreta-lo? Quais os interesses ocultos do seu saber?
(trechos do Novo Manual de Teoria Literária, de Rogel Samuel, Editora Vozes, 2002. pág. 7. A obra já está na terceira edição. O autor foi muito feliz ao afirmar o que citamos no título. Este livro deriva de pesquisa nos Estados Unidos, França e, principalmente, Canadá, na University of British Columbia).
A primeira tarefa da teoria literária consiste em saber o que é literatura.
A teoria literária funda um tipo de atividade intelectual chamada crítica literária. Muitas vezes só conhecemos a crítica, da qual se depreende a teoria. Por exemplo: os estudos de psicanálise de Freud ou a crítica da economia política de Marx, apesar de não serem literários, influenciaram nossos estudos.
Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é a literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o texto? Como interpreta-lo? Quais os interesses ocultos do seu saber?
(trechos do Novo Manual de Teoria Literária, de Rogel Samuel, Editora Vozes, 2002. pág. 7. A obra já está na terceira edição. O autor foi muito feliz ao afirmar o que citamos no título. Este livro deriva de pesquisa nos Estados Unidos, França e, principalmente, Canadá, na University of British Columbia).
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Terra di Poesia
“Desde há bastante tempo que nutro certa simpatia pelo povo cabo-verdiano. As imagens dos tempos de liceu, os colegas de faculdade, o conhecimento pessoal da colónia cabo-verdiana de New Jersey, terão contribuído para isso.
Contudo, quando visitei Cabo Verde pela primeira vez, fiquei encantado com o olhar sereno do homem da rua, a forma harmoniosa como aquela gente vive, a maneira delicada como recebem quem chega.
Durante perto de um mês pude constatar que raramente aquele povo eleva a voz. Passeei sozinho de dia e de noite em cidades como Mindelo ou em pequenas povoações como Santa Maria, parecendo-me que o banditismo, a segregação racial e a falta de respeito pelo semelhante não existem naquelas terras.
(...)
Quando comprei umas blusas para os meus filhos que traziam estampada a frase “Cabo Verde – terra di poesia”, pensei que, de facto, aquele povo tem o seu fascínio e aquela é uma terra de poesia”.
(o texto acima é de autoria de Luís Portela, médico e escritor português. Excelente cronista. Seus trabalhos são publicados em diversos jornais de Portugal. O trecho citado encontra-se no volume Para além da evolução tecnológica, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 27, 28 e 29).
Contudo, quando visitei Cabo Verde pela primeira vez, fiquei encantado com o olhar sereno do homem da rua, a forma harmoniosa como aquela gente vive, a maneira delicada como recebem quem chega.
Durante perto de um mês pude constatar que raramente aquele povo eleva a voz. Passeei sozinho de dia e de noite em cidades como Mindelo ou em pequenas povoações como Santa Maria, parecendo-me que o banditismo, a segregação racial e a falta de respeito pelo semelhante não existem naquelas terras.
(...)
Quando comprei umas blusas para os meus filhos que traziam estampada a frase “Cabo Verde – terra di poesia”, pensei que, de facto, aquele povo tem o seu fascínio e aquela é uma terra de poesia”.
(o texto acima é de autoria de Luís Portela, médico e escritor português. Excelente cronista. Seus trabalhos são publicados em diversos jornais de Portugal. O trecho citado encontra-se no volume Para além da evolução tecnológica, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 27, 28 e 29).
sábado, 13 de outubro de 2007
Prefácio de Cromwell (trecho)
“Pode ousar, arriscar, criar, inventar seu estilo; ela tem o seu direito. Pois, se bem que certos homens tenham dito que não haviam pensado no que diziam, e entre os quais é preciso colocar especialmente o que escreve estas linhas, a língua francesa não está fixa e não se fixará.
Não se fixa uma língua. O espírito humano está sempre em marcha, ou, se se quiser, em movimento, e as línguas com ele. As coisas são assim. Quando o corpo muda, como não mudaria a roupa? O francês do século XIX não pode mais ser o francês do século XVIII, tanto quanto este não é o francês do século XVII, tanto quanto o francês do século XVII não é o do século XVI.
A língua de Montaigne não é mais de Rabelais, a língua de Pascal não é mais a de Montaigne, a língua de Montesquieu não é mais a língua de Pascal. Cada uma destas quatro línguas, tomada em si, é admirável, porque é original.
Toda época tem suas idéias próprias; é preciso que tenha também as palavras próprias a estas idéias. As línguas são como o mar, oscilam sem parada. Num certo momento, deixam uma costa do mundo do pensamento e invadem uma outra. Tudo o que suas ondas assim abandonam seca e se apaga do solo. É desta maneira que idéias se extinguem, que palavras se vão. Sucede com idiomas humanos como com tudo.
Cada século traz e leva alguma coisa. Que é que se pode fazer? Isto é fatal. Seria, pois, em vão querer petrificar a móvel fisionomia de nosso idioma sob uma forma dada. É em vão que nossos Josués* literários gritam à língua para que se detenha; as línguas nem o sol não mais se detêm. No dia em que se fixarem, é porque estão mortas”.
(*) Josué, personagem bíblico, do Antigo Testamento. Era o sucessor de Moisés; fez parar o curso do sol, a fim de prolongar o dia e conseguir a vitória durante uma batalha.
(Vitor Hugo, Do Grotesco e do Sublime, Editora Perspectiva, 1988, págs. 71 e 72).
Não se fixa uma língua. O espírito humano está sempre em marcha, ou, se se quiser, em movimento, e as línguas com ele. As coisas são assim. Quando o corpo muda, como não mudaria a roupa? O francês do século XIX não pode mais ser o francês do século XVIII, tanto quanto este não é o francês do século XVII, tanto quanto o francês do século XVII não é o do século XVI.
A língua de Montaigne não é mais de Rabelais, a língua de Pascal não é mais a de Montaigne, a língua de Montesquieu não é mais a língua de Pascal. Cada uma destas quatro línguas, tomada em si, é admirável, porque é original.
Toda época tem suas idéias próprias; é preciso que tenha também as palavras próprias a estas idéias. As línguas são como o mar, oscilam sem parada. Num certo momento, deixam uma costa do mundo do pensamento e invadem uma outra. Tudo o que suas ondas assim abandonam seca e se apaga do solo. É desta maneira que idéias se extinguem, que palavras se vão. Sucede com idiomas humanos como com tudo.
Cada século traz e leva alguma coisa. Que é que se pode fazer? Isto é fatal. Seria, pois, em vão querer petrificar a móvel fisionomia de nosso idioma sob uma forma dada. É em vão que nossos Josués* literários gritam à língua para que se detenha; as línguas nem o sol não mais se detêm. No dia em que se fixarem, é porque estão mortas”.
(*) Josué, personagem bíblico, do Antigo Testamento. Era o sucessor de Moisés; fez parar o curso do sol, a fim de prolongar o dia e conseguir a vitória durante uma batalha.
(Vitor Hugo, Do Grotesco e do Sublime, Editora Perspectiva, 1988, págs. 71 e 72).
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
A Questão da Interpretação
“Caminho: para cima, para baixo, um e o mesmo” – Heráclito, Fragmento 60.
“Mas o que é ler, senão reunir: reunir-se à reunião do não-dito no dito?” – Martin Heidegger.
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”. – Guimarães Rosa
“A interpretação faz parte da nossa existência cotidiana. Nem sempre nos damos conta de que nossas escolhas e decisões se fazem a partir de interpretações. Elas se processam ao longo do dia, dos anos e da vida, de uma maneira natural. Mas o que é interpretação? Esta é a nossa questão. Questionar radica no que há de mais profundo em nós. Nele sabemos e não sabemos, queremos e não queremos. O caminho da interpretação é a interpretação do caminho como o não-querer e o não-saber de toda questão. Se já soubéssemos o que desejamos na interpretação, não questionaríamos. Existir é interpretar a questão. Mas o que é a interpretação para que nela se dê a questão? A interpretação, o questionar e o que somos estão assim profundamente interligados. Por isso, quando tomamos como tema a interpretação, é em nossa própria existência que estamos pensando. Interpretar nessa dimensão é interpretar-se. A questão é: o que é o interpretar para que nele possa acontecer um interpretar-se? Interpretar-se é eclodir no que cada um é”.
- Manuel Antônio de Castro, Poética e poiésis, Faculdade de Letras, UFRJ, 2000.
“Mas o que é ler, senão reunir: reunir-se à reunião do não-dito no dito?” – Martin Heidegger.
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”. – Guimarães Rosa
“A interpretação faz parte da nossa existência cotidiana. Nem sempre nos damos conta de que nossas escolhas e decisões se fazem a partir de interpretações. Elas se processam ao longo do dia, dos anos e da vida, de uma maneira natural. Mas o que é interpretação? Esta é a nossa questão. Questionar radica no que há de mais profundo em nós. Nele sabemos e não sabemos, queremos e não queremos. O caminho da interpretação é a interpretação do caminho como o não-querer e o não-saber de toda questão. Se já soubéssemos o que desejamos na interpretação, não questionaríamos. Existir é interpretar a questão. Mas o que é a interpretação para que nela se dê a questão? A interpretação, o questionar e o que somos estão assim profundamente interligados. Por isso, quando tomamos como tema a interpretação, é em nossa própria existência que estamos pensando. Interpretar nessa dimensão é interpretar-se. A questão é: o que é o interpretar para que nele possa acontecer um interpretar-se? Interpretar-se é eclodir no que cada um é”.
- Manuel Antônio de Castro, Poética e poiésis, Faculdade de Letras, UFRJ, 2000.
domingo, 7 de outubro de 2007
Dicas de Leitura
“Heidegger escreveu uma das obras mais volumosas da história da filosofia. Só uma pequena parte foi publicada durante a sua vida. Mesmo o seu livro mais famoso, Ser e tempo, é um fragmento nunca terminado, publicado em 1927 (...)
O próprio Heidegger concebeu a edição completa das suas obras, a Gesamtausgabe (GA). O projeto dessa edição, levado adiante pela editora Klostermann, de Frankfurt, prevê a publicação de 102 volumes, dos quais aproximadamente dois terços já foram lançados.
As linhas editoriais foram estabelecidas pelo próprio Heidegger. Não se trata de edição histórico-crítica, mas de uma “edição de última mão”, que deverá apresentar os textos tais como foram deixados pelo autor. A epígrafe da edição inteira, escrita por Heidegger poucos dias antes da sua morte: “Wege, nicht Werke” – “Caminhos, não obras” enfatiza o caráter não-sistemático, acontecencial e, por assim dizer, transicional do seu pensamento. Heidegger não desejava que os seus escritos fossem percebidos como recipientes de um dito fechado em si, mas como marcas que apontam um a-saber, como dicas de caminhos a seguir. É por isso que eles não devem ser vistos como obras, como resultados acabados de um ato de produção.
- Zeljko Loparic in “Heidegger”, Ed. Jorge Zahar, 2004, págs. 35 e 36.
O próprio Heidegger concebeu a edição completa das suas obras, a Gesamtausgabe (GA). O projeto dessa edição, levado adiante pela editora Klostermann, de Frankfurt, prevê a publicação de 102 volumes, dos quais aproximadamente dois terços já foram lançados.
As linhas editoriais foram estabelecidas pelo próprio Heidegger. Não se trata de edição histórico-crítica, mas de uma “edição de última mão”, que deverá apresentar os textos tais como foram deixados pelo autor. A epígrafe da edição inteira, escrita por Heidegger poucos dias antes da sua morte: “Wege, nicht Werke” – “Caminhos, não obras” enfatiza o caráter não-sistemático, acontecencial e, por assim dizer, transicional do seu pensamento. Heidegger não desejava que os seus escritos fossem percebidos como recipientes de um dito fechado em si, mas como marcas que apontam um a-saber, como dicas de caminhos a seguir. É por isso que eles não devem ser vistos como obras, como resultados acabados de um ato de produção.
- Zeljko Loparic in “Heidegger”, Ed. Jorge Zahar, 2004, págs. 35 e 36.
sábado, 6 de outubro de 2007
Leitor
"Considero a televisão muito educativa. Cada vez que alguém na sala liga o aparelho, vou para o quarto ler um livro".
- Groucho Marx (1890-1977), humorista norte-americano.
- Groucho Marx (1890-1977), humorista norte-americano.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Folhas
"O vento é o mesmo; mas a resposta é diferente em cada folha"
- Cecília Meireles in Mar Absoluto.
- Cecília Meireles in Mar Absoluto.
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