Antonio Carlos Rocha*
“Hoje, século XXI, 2008, qual a importância das palavras de Chuang Tzu para nossas vidas? Propositalmente escrevo a palavra “palavra” e aproveito para citá-lo:
“A armadilha de peixes existe por causa dos peixes; uma vez apanhado o peixe, pode-se esquecer a armadilha. O laço para coelhos existe devido ao coelho; uma vez apanhado o coelho, pode-se esquecer o laço. As palavras existem pelo seu significado; uma vez captado o significado, podemos esquecer as palavras. Onde encontrarei um homem que tenha esquecido as palavras, para que possa trocar com ele uma palavra?”
Inicialmente queremos ponderar que talvez o mais indicado seja em vez da palavra “palavra”, colocarmos a palavra questão. Estamos repetindo a palavra “palavra” porque ela nos lembra lavra. O verbo lavrar nos remete a arar a terra, preparar o terreno para o plantio. E o que é que plantamos nesse terreno? O que é que, com as palavras, estamos fazendo com a nossa Terra, com o nosso planeta Terra? Será que um dos problemas que está acontecendo no mundo de hoje é com a palavra? Está na palavra? Está com o (e no) excesso de palavras? Como bem se diz, a questão é o emaranhado de palavras? Com essa teia? Com essa rede de palavras? Será que é porque falamos demais e nos entendemos de menos? Será que é isso o que Chuang Tzu está querendo nos dizer?
“Será que as palavras são armadilhas? Será que as palavras podem ser armadilhas? Do que é (e do que) são feitas as palavras? E hoje, podemos viver sem (as) palavras? Note-se que, cada vez mais, as empresas de telefonia estimulam o uso de seus aparelhos. Não estamos falando do aspecto saudável que é o uso de um telefone quando se precisa transmitir ou receber uma mensagem. Estamos falando que hoje somos reféns da indústria que alimenta e favorece as palavras. Concordando com Chuang Tzu, caímos na armadilha do consumismo”.
(*) O presente artigo é parte de um texto que o autor publicou na revista Tempo Brasileiro, nº 171, cujo tema é : “Permanência e Atualidade da Poética”. A edição foi organizada pelo professor Manuel Antonio de Castro, titular de Poética na Faculdade de Letras, da UFRJ.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
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