"É claro
que me sinto surpreso em saber que o número de pessoas ultrapassou o que a
Comissão (de Combate à Intolerância Religiosa) esperava. Tínhamos o objetivo de
levar 200 mil para a Avenida Atlântica. Dez mil além do esperado só mostra o
quanto o esforço desse trabalho, por um Brasil democrático e onde as pessoas
respeitam os credos alheios, tem conquistado todos os setores da
sociedade", disse o interlocutor do grupo de vários segmentos religiosos,
babalawo Ivanir dos Santos, ao ser informado sobre o número de
participantes, ao fim da Quinta Caminhada em Defesa da Liberdade
Religiosa, que ocorreu hoje, na Praia de Copacabana. Segundo a coordenação
de Infraestrutura do evento, 45 mil assistiram ao espetáculo da cantora
Margareth Menezes, principal atividade cultural da Caminhada, na Praça do Lido.
Desde o início
de setembro, a Comissão enviou aos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro uma
carta-compromisso, a fim de que a liberdade religiosa esteja garantida por
aquele que assumir. O atual prefeito, Eduardo Paes, foi representado pelo vice
de sua chapa, Adilson Pires. Marcelo Freixo (PSOL) fez questão de assinar o
documento e acompanhar os caminhantes na Princesinha do Mar. Cyro Garcia (PSTU)
e Otávio Leite (PSDB) se manifestaram com interesse em assinar, porém pediram à
Comissão de Combate à Intolerância Religiosa que outra oportunidade fosse
estudada por conta de compromissos com agendas de campanhas.
Dessa forma, na
presença de mais de 25 representações religiosas e de várias autoridades,
incluindo a chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ),
delegada Marta Rocha, Freixo comprometeu-se com uma administração "em que
o medo de ser livre, de qualquer forma, não exista". Aplaudido, o
candidato do PSOL recebeu das mãos de Ivanir dos Santos o livro
"Caminhando a Gente se Entende", lançado em janeiro deste ano, com
imagens das quatro caminhadas anteriores. "Assinar a carta é muito
importante. No entanto, a prática é essencial para que se acabe de verdade com
as exclusões", declarou Marcelo Freixo.
“Uma coisa que
tem crescido no Brasil é a ideia fascista de que só tem um caminho. Isso vem
interferindo na educação e no mercado de trabalho, por exemplo, porque excluiu
pessoas de oportunidades com base na opção religiosa”, disse o babalawo após a
fala de Marcelo Freixo.
Depois da
coletiva de imprensa, dezenas de ônibus, vans e carros lotados chegavam de
vários lugares à concentração, no Posto Seis. A Quinta Caminhada contou com
participantes de Pernambuco, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e
diversos municípios do Estado do Rio. Mesmo com sol forte, as pessoas entoaram
cânticos religiosos e exibiram dezenas de faixas com pedidos de aplicação da
Lei 10.639/03, que prevê a implementação dos estudos das histórias da África e
da Cultura Afro-brasileira nas escolas de todo o País, além do Plano Nacional
de Combate à Intolerância Religiosa.
Chamada por
Santos de "ministra do povo", Luíza Bairros (Seppir) andou com os
religiosos desde a concentração até o fim da apresentação de Margareth Menezes
e, no carro de som, dedicou suas falas aos clamores de liberdade. " Eu
estou muito emocionada de ver tanta gente em prol de uma causa tão nobre.
Respeitar o próximo é fundamental para um convívio de paz e por um Brasil realmente
de todos. Parabéns para a Comissão, parabéns, Ivanir, por conseguir articular
todas essas religiões", falou.
Diversos
segmentos foram solidários aos muçulmanos por conta do filme "Innocence of Muslims", que trata de uma suposta biografia do
profeta Muhammad, estereotipando-o como homossexual, mulherengo e pedófilo. O
grupo deixou claro seu repúdio contra a obra e declarou apoio aos seguidores do
Islamismo, afirmando que nenhum desrespeito religioso pode ser permitido.
Margarteh
Menezes subiu ao primeiro trio às 15h e conseguiu animar até mesmo a ministra
Luíza Bairros, que, meio aos populares, dançou até o fim. Antes de fechar o
repertório, Menezes agradeceu o apoio da Rede Globo, o patrocínio da Petrobras,
aos órgãos municipais e estaduais que trabalharam pelo bom andamento da
Caminhada, e passou a palavra ao interlocutor. "Nós, religiosos, estamos
de parabéns. Mostramos, mais uma vez, que além de possível é maravilhoso
aprender um pouco um do outro e não aceitar que nos demonizem, principalmente a
Umbanda e o Candomblé. Esta foi uma caminhada que teve muitas dificuldades para
sair, mas Ifá (conjunto de sabedoria divina para seguidores do Candomblé) não
mente, e todo verdadeiro religioso vence por confiar no Divino", finalizou
Ivanir dos Santos.
Ricardo Rubim
Coordenador de Comunicação
CEAP - Centro de Articulação de Populações
Marginalizadas/Comissão de Combate à Intolerância Religiosa