Processo
criativo
Martha Pires Ferreira*
Todo ser humano é potencialmente um
criador. A criatividade é essencial à natureza humana, à expansão da
personalidade.
O processo criativo se dá por
conexões; impulsos internos e desejos de expressão interagem intuitivamente com
o mínimo da interferência lógica, racional. Assim, penso, deveria ser. Para
outros, ocorre o inverso, é o domínio da racionalidade com um quantum de impulso instintivo.
O anseio imagístico procura dar
forma, ao se deixar revelar, desvelar o que antes era invisível ao
conhecimento. É o novo que brota genuíno e real. Arte é descobrir, é tornar
visível o que não existia. Não se cogita beleza estética, e sim dar origem a.
Os caminhos são complexos e, por vezes, paradoxais. A apreensão sensível de
conteúdos expressivos nas artes plásticas, musical ou poética são experiências
efetivas e diretas da sensibilidade criadora de cada pessoa, individualmente. A
obra de arte não se limita ao objeto em si, é mais que representação pictórica.
Criatividade é processo inesgotável.
As mãos engendram quase por magia; nas atividades plásticas desde o artesão das
cavernas, passando por toda a história da arte antiga, clássica e moderna com
Cézanne, Matisse, Picasso, Paul Klee ou à sofisticada cognição intelectual
interagindo simultânea, sensitivo e emocional, nas obras de artistas
contemporâneo ou não, brasileiros, como Lygia Clark, Tunga, Beatriz Milhazes,
Marília Kranz, Teresa Miranda, Antônio Dias ou Cildo Meireles. Citando estes
apenas. Os olhos, um telescópio; constata e contempla a obra realizada, indo
além, num mergulho misterioso. A criatividade é a mola impulsionadora da
essência da vida. A obra acabada, é quem fala, se faz real e presente. É mais
que um objeto.
No meu caso pessoal, desenhar é um
ato de liberdade que se faz incontinenti. É deixar mostrar o latente,
revelação, espanto intelectual e emocional obedecendo ao que a intuição determina.
Deixar o imprevisível acontecer, descobrir, tocando o abissal. A sensibilidade
é o tom que contribui para a criação pictórica se tornar manifesta. O artista
é, apenas, um instrumento ativo no processo.
Enlouquecida, aprendi com Hokusai (1760
– 1849) que no exercício de desenhar, no penetrar na essência de todas as
coisas manifestas, pode-se chegar a um nível de consciência, de saber, mais
elevado, impensável, onde tudo vive; cada ponto, gesto, linha, cor. Arte é
celebração. O que a imaginação apreende como fogo criador, sopro e beleza, é
verdade, é espiritualidade. Além disso, nada sei.
(*) Artista Plástica.
- Gratidão por ter autorizado a publicação.
http://cadernoaquariano.blogspot.com