“As obras de Karl Marx, ele próprio, na
juventude, autor de poesia lírica, de um fragmento de um drama em verso e de um
romance cômico incompleto muito influenciado por Laurence Sterne, são adornadas
com conceitos e alusões literárias; escreveu um volumoso manuscrito inédito
sobre arte e religião e planeava uma revista de crítica teatral, um estudo
completo sobre Balzac e um tratado de estética. A arte e a literatura faziam
parte do próprio ar que Marx respirava, como intelectual alemão fantasticamente
culto dentro da grande tradição clássica da sua sociedade. Os seus
conhecimentos de literatura, de Sófocles ao romance espanhol, de Lucrécio à
ficção inglesa de cordel, eram de uma amplitude desconcertante; o círculo
operário alemão que fundou em Bruxelas dedicava uma noite todas as semanas à
discussão das artes, e o próprio Marx era um freqüentador inveterado dos
teatros, declamador de poesia, devorador de toda a espécie de arte literária,
da prosa augustana às baladas industriais. Numa carta à Engels, descreveu as
suas próprias obras como formando um “todo artístico” e era escrupulosamente
sensível às questões de estilo literário, a começar pelo seu; os seus primeiros
trabalhos jornalísticos defendiam a liberdade de expressão artística. Para além
disso, pode detectar-se o peso de conceitos estéticos por detrás de algumas das
categorias mais centrais do pensamento econômico que utiliza na sua obra da
maturidade.”
- O texto acima está nas páginas 13 e
14 do ótimo livro “Marxismo e Crítica Literária”, autoria do professor inglês Terry
Eagleton, editora Afrontamento, Porto, 1978.
- Atenção pesquisadores, que tal
descobrirem e publicarem os textos do jovem Marx: as poesias líricas, o drama
em verso, o romance cômico e o “volumoso Arte e Religião”?
-
Nas notas, Eagleton dá duas dicas: “The
Philosophy of Art of Karl Marx” (Londres, 1973), de M. Lifshitz; e “Marx, Engels and the Poets” (Chicago, 1967) de P.
Demetz.
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