sexta-feira, 27 de abril de 2012

Marx, o poeta lírico


“As obras de Karl Marx, ele próprio, na juventude, autor de poesia lírica, de um fragmento de um drama em verso e de um romance cômico incompleto muito influenciado por Laurence Sterne, são adornadas com conceitos e alusões literárias; escreveu um volumoso manuscrito inédito sobre arte e religião e planeava uma revista de crítica teatral, um estudo completo sobre Balzac e um tratado de estética. A arte e a literatura faziam parte do próprio ar que Marx respirava, como intelectual alemão fantasticamente culto dentro da grande tradição clássica da sua sociedade. Os seus conhecimentos de literatura, de Sófocles ao romance espanhol, de Lucrécio à ficção inglesa de cordel, eram de uma amplitude desconcertante; o círculo operário alemão que fundou em Bruxelas dedicava uma noite todas as semanas à discussão das artes, e o próprio Marx era um freqüentador inveterado dos teatros, declamador de poesia, devorador de toda a espécie de arte literária, da prosa augustana às baladas industriais. Numa carta à Engels, descreveu as suas próprias obras como formando um “todo artístico” e era escrupulosamente sensível às questões de estilo literário, a começar pelo seu; os seus primeiros trabalhos jornalísticos defendiam a liberdade de expressão artística. Para além disso, pode detectar-se o peso de conceitos estéticos por detrás de algumas das categorias mais centrais do pensamento econômico que utiliza na sua obra da maturidade.”

- O texto acima está nas páginas 13 e 14 do ótimo livro “Marxismo e Crítica Literária”, autoria do professor inglês Terry Eagleton, editora Afrontamento, Porto, 1978.

- Atenção pesquisadores, que tal descobrirem e publicarem os textos do jovem Marx: as poesias líricas, o drama em verso, o romance cômico e o “volumoso Arte e Religião”?

- Nas notas, Eagleton dá duas dicas: “The Philosophy of Art of Karl Marx” (Londres, 1973), de M. Lifshitz; e “Marx, Engels and the Poets” (Chicago, 1967) de P. Demetz.


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