Rumi (1207-1273) nasceu em Balke. Nessa época a cidade pertencia ao antigo Império Persa, mas hoje é Afeganistão. Rumi era sufi, uma linhagem do Islã, jurista e teólogo.
A poesia abaixo está no livro Depois do Êxtase Lave a Roupa Suja, de Jack Kornfield, editora Cultrix, página 10:
“Ser um ser humano
É uma casa de hóspedes.
Todas as manhãs chega alguém.
É uma alegria que chega,
Uma depressão, uma mesquinharia,
Um dar-se conta momentâneo:
Visitas inesperadas.
Dê as boas-vindas a todos,
Mesmo quando um bando de tristezas
Carrega toda a mobília
Da sua casa.
O pensamento sombrio,
A vergonha, a malícia.
Receba-os na porta sorrindo,
E convide-os para entrar.
Agradeça a quem quer que chegue,
Porque cada um foi enviado
Como um guia do além.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Academia de Letras do Vale do Longá
Fica na cidade de Barras – PI, a bacia do rio Longa abrange 22.643 km e representa 9,02% da área total do estado do Piauí. Reúne 16 municípios. Longa é um rio de correntezas fortes, banha a cidade de Barras, mas não é o rio principal da localidade.
Fundada em 23 de setembro de 1978 a Alval – Academia de Letras do Vale do Longa é bem ativa e recentemente promoveu um almoço como podemos ver na internet. A área de atuação da Academia engloba 38 municípios.
Um de seus prestigiosos imortais é o escritor e professor Dílson Lages Monteiro, autor de vários livros, entre outros, A Metáfora Em Textos Dissertativos. São Estudos Lingüísticos do também poeta Dílson.
Ele vai listando considerações e reflexões sobre a metáfora de restauração, metáfora médica - quando compara a sociedade ao corpo humano; a metáfora de roubo - utilizada em circunstâncias em que o povo tem a liberdade roubada; metáfora de conserto – usada em textos que evocam a noção citada; metáfora de limpeza – empregada para transmitir a noção respectiva; metáforas de percursos – comparam a resolução de um problema a uma jornada; metáfora de percurso em terra – fala geralmente em estradas, encruzilhadas, obstáculos.
E continua: metáfora de percurso no mar, metáfora de cativeiro, de unificação, de parentesco, pastoral, esportiva, metáforas criativas, de construção, de tecelagem, de compositor, de lavrador, metáforas naturais, claro-escuro, metáfora de fenômenos naturais, metáfora biológica etc.
Um livro de bolso bem agradável de se ler.
Fundada em 23 de setembro de 1978 a Alval – Academia de Letras do Vale do Longa é bem ativa e recentemente promoveu um almoço como podemos ver na internet. A área de atuação da Academia engloba 38 municípios.
Um de seus prestigiosos imortais é o escritor e professor Dílson Lages Monteiro, autor de vários livros, entre outros, A Metáfora Em Textos Dissertativos. São Estudos Lingüísticos do também poeta Dílson.
Ele vai listando considerações e reflexões sobre a metáfora de restauração, metáfora médica - quando compara a sociedade ao corpo humano; a metáfora de roubo - utilizada em circunstâncias em que o povo tem a liberdade roubada; metáfora de conserto – usada em textos que evocam a noção citada; metáfora de limpeza – empregada para transmitir a noção respectiva; metáforas de percursos – comparam a resolução de um problema a uma jornada; metáfora de percurso em terra – fala geralmente em estradas, encruzilhadas, obstáculos.
E continua: metáfora de percurso no mar, metáfora de cativeiro, de unificação, de parentesco, pastoral, esportiva, metáforas criativas, de construção, de tecelagem, de compositor, de lavrador, metáforas naturais, claro-escuro, metáfora de fenômenos naturais, metáfora biológica etc.
Um livro de bolso bem agradável de se ler.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Fernando Pessoa e o Lankavatara Sutra
Fernando Pessoa não precisa de apresentação, queremos apenas esclarecer que o ilustre poeta da Língua Portuguesa foi tradutor das obras de Helena Petrovna Blvatsky em Portugal, fundadora da Sociedade Teosófica. Uns dizem que ele foi maçom, outros afirmam que ele foi rosacruz, e por que não, teosofista?
Devido à sua familiaridade com os textos do Oriente, deduzimos que ele conhecia o Lankavatara Sutra. É um texto clássico do Budismo, muito reverenciado pelo Mahayana japonês. E foi divulgado, pela primeira vez no Ocidente, pelo grande Daisetz Teitaro Suzuki, no princípio do século 20.
Em determinado trecho o Lankavatara Sutra diz: “Árvores, montanhas, rios, pedras, relva tudo é Buda”. É um sentido total de integração com o ecossistema. Já vi também uma versão que tira a palavra Buda e coloca a palavra Deus. Dá no mesmo, são sinônimas.
Agora veja este belo poema de Fernando Pessoa, onde ele expressa, de forma ímpar, o sentido do Lankavatara Sutra:
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou !
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina).
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes,
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda hora.
- fonte: O Guardador De Rebanhos E Outros Poemas, seleção e introdução de Massaud Moises, co-edição Cultrix/USP, 1988, páginas 93 e 94.
Devido à sua familiaridade com os textos do Oriente, deduzimos que ele conhecia o Lankavatara Sutra. É um texto clássico do Budismo, muito reverenciado pelo Mahayana japonês. E foi divulgado, pela primeira vez no Ocidente, pelo grande Daisetz Teitaro Suzuki, no princípio do século 20.
Em determinado trecho o Lankavatara Sutra diz: “Árvores, montanhas, rios, pedras, relva tudo é Buda”. É um sentido total de integração com o ecossistema. Já vi também uma versão que tira a palavra Buda e coloca a palavra Deus. Dá no mesmo, são sinônimas.
Agora veja este belo poema de Fernando Pessoa, onde ele expressa, de forma ímpar, o sentido do Lankavatara Sutra:
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou !
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina).
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes,
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda hora.
- fonte: O Guardador De Rebanhos E Outros Poemas, seleção e introdução de Massaud Moises, co-edição Cultrix/USP, 1988, páginas 93 e 94.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Visualização Poética
Sempre que eu leio, maravilhado, as poesias de Dílson Lages Monteiro, eu me transporto para uma experiência transcendental-literária. É o caso deste belo poema que está no livro O Sabor Dos Sentidos:
Marataoã
O rio corre em meu coração
E separa os sentimentos da areia.
A vaga das água vai
Virando pó em pensamento
E a estrada encurta distâncias.
O rio viaja no horizonte
Onde dançam os cabelos das carnaúbas
E soluçam os olhos do sol.
O rio corre em meu coração
E deságua nas correntezas do caminho.
O autor explica que Marataoã é o rio que banha sua cidade natal, Barras, município localizado a 122 km da capital Teresina, norte do Piauí.
Nossa meditação ecológica permite visualizar mulheres carnaúbas, carnais, carnaubeiras, carnaubais e seus esvoaçantes cabelos dançando aos olhos do Astro Rei, também maravilhado com a beleza dessas deusas-versos.
Os sentimentos do poeta estão de um lado e de outro das margens-areia através do rio-coração que flui, sinuosamente, qual sangue entre veias e artérias.
As correntezas do caminho-vida deságuam no horizonte. É o rio levando para o oceano da existência o fazer poético desse grande escritor.
Marataoã
O rio corre em meu coração
E separa os sentimentos da areia.
A vaga das água vai
Virando pó em pensamento
E a estrada encurta distâncias.
O rio viaja no horizonte
Onde dançam os cabelos das carnaúbas
E soluçam os olhos do sol.
O rio corre em meu coração
E deságua nas correntezas do caminho.
O autor explica que Marataoã é o rio que banha sua cidade natal, Barras, município localizado a 122 km da capital Teresina, norte do Piauí.
Nossa meditação ecológica permite visualizar mulheres carnaúbas, carnais, carnaubeiras, carnaubais e seus esvoaçantes cabelos dançando aos olhos do Astro Rei, também maravilhado com a beleza dessas deusas-versos.
Os sentimentos do poeta estão de um lado e de outro das margens-areia através do rio-coração que flui, sinuosamente, qual sangue entre veias e artérias.
As correntezas do caminho-vida deságuam no horizonte. É o rio levando para o oceano da existência o fazer poético desse grande escritor.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Vazio = Ser = Deus
“A influência de Heidegger estende-se até ao Japão, país que, desde 1951, possui em Tóquio a Jaspers-Gesellschaft, Associação de Investigação do Existencialismo. Este facto é significativo: a filosofia heideggeriana, orientada para o Ser, este abismo de gratuidade, raiz última do real, apresenta, tanto na sua inspiração como na sua consumação, uma singular afinidade com o Zen. Sem dúvida que não há, segundo Heidegger, filosofia senão no Ocidente. Mas a tese de consumação da metafísica ocidental não vira, definitivamente, esta idéia contra si própria? O Ocidente é a terra do entardecer (Abend-land), onde o pensamento calculador e dominador triunfa sobre o pensamento contemplativo e meditativo. Não será necessário olhar para o Oriente, para esta filosofia que não o é, para reaprender o próprio sentido da filosofia? A meditação oriental do Nada é o horizonte esquecido do pensamento ocidental do ser. Deixemos esta última palavra ao filósofo japonês que, no diálogo Aus dem Gespraech von der Sprache, comenta um texto de Hegel:
“Espanta-nos ainda hoje pelo facto de os europeus poderem equivocar-se ao interpretar de maneira niilista o Nada de que se trata na exposição designada. Para nós, o vazio é o nome mais elevado para aquilo que vós designaríeis naturalmente pela palavra: Ser”.
- os dois parágrafos acima estão no livro O Pensamento de Martin Heidegger, de Jean-Paul Resweber, Livraria Almedina, Coimbra, 1979, página 192.
“Espanta-nos ainda hoje pelo facto de os europeus poderem equivocar-se ao interpretar de maneira niilista o Nada de que se trata na exposição designada. Para nós, o vazio é o nome mais elevado para aquilo que vós designaríeis naturalmente pela palavra: Ser”.
- os dois parágrafos acima estão no livro O Pensamento de Martin Heidegger, de Jean-Paul Resweber, Livraria Almedina, Coimbra, 1979, página 192.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Texto Argumentativo
Mais um bom livro do professor e escritor Dílson Lages Monteiro, de Teresina, PI; são 306 páginas com o título acima, muitas ilustrações, charges e fotos. Quem trabalha escrevendo ou lendo não pode passar sem este manual do bem redigir. Para vestibulandos e concursandos que estão às voltas com provas e exames é prato cheio de delícias literárias.
Vejamos alguns temas abordados: como planificar textos argumentativos, como estruturar tais textos, como se constrói o sentido desses textos, como ligar as partes do texto e monitorar a compreensão da leitura, como identificar os implícitos, como escrever com autoria, como criar títulos sugestivos etc.
Aplicando contribuições de campos variados da lingüística, valoriza, de modo especial, as relações intertextuais e concebe a escritura de textos como prática de construção de sentidos; uma habilidade em cujo exercício são postos em relevo fatores lingüísticos, socioculturais e cognitivos.
Sabiamente, logo no início, o autor esclarece: “Esta não é uma obra acabada e, portanto, estará sempre em processo de (re)construção”.
Vejamos alguns temas abordados: como planificar textos argumentativos, como estruturar tais textos, como se constrói o sentido desses textos, como ligar as partes do texto e monitorar a compreensão da leitura, como identificar os implícitos, como escrever com autoria, como criar títulos sugestivos etc.
Aplicando contribuições de campos variados da lingüística, valoriza, de modo especial, as relações intertextuais e concebe a escritura de textos como prática de construção de sentidos; uma habilidade em cujo exercício são postos em relevo fatores lingüísticos, socioculturais e cognitivos.
Sabiamente, logo no início, o autor esclarece: “Esta não é uma obra acabada e, portanto, estará sempre em processo de (re)construção”.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
García Lorca e o Buda
A poesia abaixo é inédita. Foi encontrada em um manuscrito, datado de 1918, quando o poeta Federico García Lorca tinha 20 anos, na residência em que nasceu e que hoje está transformada em Casa-Museo de Fuentevaqueros.
O link da matéria é www.librosbudistas.com
site em espanhol da linhagem AOBO – Amigos da Ordem Budista Ocidental:
Buddha
El palacio en sombra
Enseña brumoso sus oros brunidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas y azules.
Lloran os chacales em junglas perdidos.
En el estanque lotos sangrientos
Lírios de água, palmas, úmbrias
En los jardines altas palmeras
Se inclinan lânguidas e severas
Acompasando sus melodias.
Dulces magnolias majestuosas
Dan su fragancia sobre las cosas.
Noche de luna. Raro consuelo.
Arturo llora su luz de cielo
Flores, divinas... Piedras, preciosas.
(una cuartilla falta aqui)
Abriole la puerta de calma infinita
Despues esfumose. Siddhartha medita.
Uma voz celeste suave musita
“Tú eres Tathagatha, puro, sin igual” !
En fondos dorados entre rosas blancas
Lució sus encantos la diosa Verdad
El iluminado quedose hierático
Aspirando triste un perfume enigmático
Que manaba lento de la eternidad.
El cuerpo sin alma subió al aposento
Yashodara y el nino dormían
Siddhartha sintió un agobio violento
Corazones en sombras yacían...
Grave palpitaba el firmamento.
Se arrancó la flecha que le lanzó Mara
Traspasando salió de la estância
Dulce el corazón se durmió en la fragancia
Que la luz del cielo lê dejara.
Y marchó com la Bienaventuranza.
Siddhartha solloza. El palácio lejano
Enseña entre ramas sus oros brunidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas e azules.
Lloran los chacales en junglas perdidos.
O link da matéria é www.librosbudistas.com
site em espanhol da linhagem AOBO – Amigos da Ordem Budista Ocidental:
Buddha
El palacio en sombra
Enseña brumoso sus oros brunidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas y azules.
Lloran os chacales em junglas perdidos.
En el estanque lotos sangrientos
Lírios de água, palmas, úmbrias
En los jardines altas palmeras
Se inclinan lânguidas e severas
Acompasando sus melodias.
Dulces magnolias majestuosas
Dan su fragancia sobre las cosas.
Noche de luna. Raro consuelo.
Arturo llora su luz de cielo
Flores, divinas... Piedras, preciosas.
(una cuartilla falta aqui)
Abriole la puerta de calma infinita
Despues esfumose. Siddhartha medita.
Uma voz celeste suave musita
“Tú eres Tathagatha, puro, sin igual” !
En fondos dorados entre rosas blancas
Lució sus encantos la diosa Verdad
El iluminado quedose hierático
Aspirando triste un perfume enigmático
Que manaba lento de la eternidad.
El cuerpo sin alma subió al aposento
Yashodara y el nino dormían
Siddhartha sintió un agobio violento
Corazones en sombras yacían...
Grave palpitaba el firmamento.
Se arrancó la flecha que le lanzó Mara
Traspasando salió de la estância
Dulce el corazón se durmió en la fragancia
Que la luz del cielo lê dejara.
Y marchó com la Bienaventuranza.
Siddhartha solloza. El palácio lejano
Enseña entre ramas sus oros brunidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas e azules.
Lloran los chacales en junglas perdidos.
domingo, 22 de novembro de 2009
Revista Conceitos
Ótima publicação da ADUFPB – Associação de Docentes da Universidade Federal da Paraíba, 166 páginas.
Neste nº 15, 2009, destacamos a matéria de capa com o talentoso xilogravador José Altino:
Nascido em 1946, na Cidade Baixa de João Pessoa (atualmente conhecida como Centro Histórico), José Altino vive e trabalha no Atelier Miramar. Nos anos 1960 residiu no Rio, tendo sido professor da importante Escolinha de Arte do Brasil, que formou gerações de gravadores, hoje conhecidos como gravuristas.
Depois Altino voltou à terra natal onde funda o seu ateliê, que funciona até hoje com cursos livres para alunos e professores das redes pública e particular.
Com várias exposições no exterior e em diversos estados brasileiros, ele têm prêmios reconhecendo o seu trabalho. Seu traço característico lembra aquelas antigas ilustrações dos folhetos de literatura de cordel. Seu tema preferido é sempre a ecologia, o amor pela natureza, a reverência aos pássaros e animais em geral.
Foram os jesuítas que trouxeram a arte da xilogravura para o Brasil e, o nordeste desenvolveu um estilo próprio, ao desenhar sobre a madeira (através de um instrumento metálico, corta-se, fura-se, escava-se) depois, é só imprimir com tinta em uma folha de papel.
www.adufpb.org.br
Neste nº 15, 2009, destacamos a matéria de capa com o talentoso xilogravador José Altino:
Nascido em 1946, na Cidade Baixa de João Pessoa (atualmente conhecida como Centro Histórico), José Altino vive e trabalha no Atelier Miramar. Nos anos 1960 residiu no Rio, tendo sido professor da importante Escolinha de Arte do Brasil, que formou gerações de gravadores, hoje conhecidos como gravuristas.
Depois Altino voltou à terra natal onde funda o seu ateliê, que funciona até hoje com cursos livres para alunos e professores das redes pública e particular.
Com várias exposições no exterior e em diversos estados brasileiros, ele têm prêmios reconhecendo o seu trabalho. Seu traço característico lembra aquelas antigas ilustrações dos folhetos de literatura de cordel. Seu tema preferido é sempre a ecologia, o amor pela natureza, a reverência aos pássaros e animais em geral.
Foram os jesuítas que trouxeram a arte da xilogravura para o Brasil e, o nordeste desenvolveu um estilo próprio, ao desenhar sobre a madeira (através de um instrumento metálico, corta-se, fura-se, escava-se) depois, é só imprimir com tinta em uma folha de papel.
www.adufpb.org.br
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Dilson Lages Monteiro
É um ótimo escritor e poeta, lá do Piauí. Também é professor de Literatura. Autor de vários livros. Vamos, hoje, destacar um:
Os Olhos Do Silêncio, publicado, em 1999, pela editora Scortecci, de São Paulo. O último poema, “Utopia”, é de uma profunda atualidade. Mesmo tendo sido escrito, 10 anos atrás, nos fala da ameaça que paira sobre a espécie humana. Diz o poeta:
Descobri o Brasil
Na brasa
Que queimou
as árvores
da
E
S
T
R
A
D
A
Observe o visual; parece uma árvore. Estrada é o caule, os demais versos as folhagens e galhos.
E quando afirmamos, acima, que a ameaça paira sobre a espécie humana é sinal de que através de belas poesias como esta, o poeta Dílson tem a sua forma literária de combater o desmatamento. E esclarecer os leitores de seus livros com sua pedagogia ecológica.
Os Olhos Do Silêncio, publicado, em 1999, pela editora Scortecci, de São Paulo. O último poema, “Utopia”, é de uma profunda atualidade. Mesmo tendo sido escrito, 10 anos atrás, nos fala da ameaça que paira sobre a espécie humana. Diz o poeta:
Descobri o Brasil
Na brasa
Que queimou
as árvores
da
E
S
T
R
A
D
A
Observe o visual; parece uma árvore. Estrada é o caule, os demais versos as folhagens e galhos.
E quando afirmamos, acima, que a ameaça paira sobre a espécie humana é sinal de que através de belas poesias como esta, o poeta Dílson tem a sua forma literária de combater o desmatamento. E esclarecer os leitores de seus livros com sua pedagogia ecológica.
domingo, 8 de novembro de 2009
A aluna do vestido curto e Jesus
O episódio de agressão verbal que uma universitária sofreu, por vários de seus colegas (parece que professores e funcionários não a defenderam) em São Paulo, pelo único motivo de estar usando um vestido muito curto, segundo a imprensa, me fez lembrar do sábio Jesus.
Naquela famosa história em que a multidão queria apedrejar uma mulher. Cristo defendeu-a e afirmou: “Aquele que se julgar sem pecados, atire a primeira pedra”. Ninguém, naquela época, teve coragem de atirar pedras.
Agora, ao que consta, deve ter muito santinho e santinha estudando, trabalhando ou lecionando na referida universidade. Sobraram pedras verbais e a moça saiu escoltada pela polícia.
Hoje, leio que, aquele douto estabelecimento de ensino resolveu desligar, isto é, expulsar a moça.
Com tantos seres humanos assim, sem pecados, precisamos orar muito.
E quem quiser conferir eis a referência: Evangelho de João, capítulo 8, versículos 1 a 11, página 1243.
- Bíblia de Estudo de Genebra, 1999, Sociedade Bíblica do Brasil, Editora Cultura Cristã / Casa Editora Presbiteriana.
Naquela famosa história em que a multidão queria apedrejar uma mulher. Cristo defendeu-a e afirmou: “Aquele que se julgar sem pecados, atire a primeira pedra”. Ninguém, naquela época, teve coragem de atirar pedras.
Agora, ao que consta, deve ter muito santinho e santinha estudando, trabalhando ou lecionando na referida universidade. Sobraram pedras verbais e a moça saiu escoltada pela polícia.
Hoje, leio que, aquele douto estabelecimento de ensino resolveu desligar, isto é, expulsar a moça.
Com tantos seres humanos assim, sem pecados, precisamos orar muito.
E quem quiser conferir eis a referência: Evangelho de João, capítulo 8, versículos 1 a 11, página 1243.
- Bíblia de Estudo de Genebra, 1999, Sociedade Bíblica do Brasil, Editora Cultura Cristã / Casa Editora Presbiteriana.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bom Exemplo de Amizade
O escritor, jornalista e sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcelos conta, em seu artigo, na revista Caros Amigos, maio de 2009, página 10, ano 13, nº 146, que o grande Darcy Ribeiro, em 1964, nas primeiras semanas de exílio no Uruguai, recebeu a visita de dois conceituados antropólogos estadunidenses. Lhe ofereceram uma bolsa de estudos para ser pesquisador na biblioteca do Senado, lá na Matriz. Polidamente, Darcy recusou.
Anos depois, ao regressar do exílio, o ilustre brasileiro Darcy Ribeiro, novamente recusou uma bolsa, desta feita oferecida pela Fundação Ford, pois o governo dos Estados Unidos havia ajudado a derrubar o presidente João Goulart, seu amigo.
Que Deus abençoe bastante o espírito de Darcy Ribeiro, na dimensão em que ele se encontra, por esta bela prova de amizade e postura ideológica.
Anos depois, ao regressar do exílio, o ilustre brasileiro Darcy Ribeiro, novamente recusou uma bolsa, desta feita oferecida pela Fundação Ford, pois o governo dos Estados Unidos havia ajudado a derrubar o presidente João Goulart, seu amigo.
Que Deus abençoe bastante o espírito de Darcy Ribeiro, na dimensão em que ele se encontra, por esta bela prova de amizade e postura ideológica.
domingo, 25 de outubro de 2009
Religiões Comparadas
John Hinnells, professor da Universidade de Manchester, coordenou um grupo de pesquisadores em universidades internacionais conceituadas e no Dicionário das Religiões (Cultrix, 1991) escreveu que o interesse pelas Religiões Comparadas vem desde a Grécia antiga, no tempo de Xenófanes, século 6 antes de Cristo. Para uns, Ciências (observe o plural) da Religião, para outros Religião Comparada, também conhecida como Fenomenologia da Religião ou Filosofia da Religião. Acrescenta ainda que, no século 19, surge na Alemanha o Religionswissenschaft, grupo de disciplinas que equivale à história das religiões para, de forma polimetódica, “evitar o dogmatismo e a superioridade” de uma religião sobre outra.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Dom Hélder Câmara, sempre
No próximo dia 28 de outubro de 2009, quarta-feira, a UERJ – Universidade do Estado do RJ através do Proeper – Programa de Estudos e Pesquisa das Religiões e do CCS – Centro de Ciências Sociais, vai promover uma série de palestras e debates sobre a vida e a obra deste grande brasileiro que, vivo fosse, estaria completando 100 anos.
O trecho abaixo é de Dom Hélder Câmara nos folhetos do evento:
“O amor é o perfume da alma. Se eu der comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu perguntar por que ele é pobre, me chamam de comunista. Quero me dedicar até o último suspiro à justiça e à libertação dos oprimidos. O verdadeiro cristianismo rejeita a idéia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus. É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”.
O trecho abaixo é de Dom Hélder Câmara nos folhetos do evento:
“O amor é o perfume da alma. Se eu der comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu perguntar por que ele é pobre, me chamam de comunista. Quero me dedicar até o último suspiro à justiça e à libertação dos oprimidos. O verdadeiro cristianismo rejeita a idéia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus. É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Maria, Mãe do Messias
Em meados do século passado, um judeu americano, Sholem Asch, escreveu, de forma bastante inspirada, uma série de livros sobre a vida dos tempos de Jesus. Entre eles, O Nazareno, O Apóstolo, e Maria.
Nesta última obra, narra o que teria sido a vida de Jesus na sua adolescência até iniciar seu messianato.
- os dados acima estão no boletim SEI – Serviço Espírita de Informações, nº 2161, de 29/08/09, http://www.lfc.org.br/sei
- O livro, Maria, foi publicado pela antiga Companhia Editora Nacional, não há referência de data.
- Realmente, o fato da jovem Maria ter dado à luz a Jesus, indica, em primeiro lugar um grau de parentesco muito grande oriundo de vidas anteriores. E em segundo lugar que ela era uma pessoa toda especial, de muita Luz Espiritual, por abrigar em seu ventre o Mestre Jesus.
- Eis, respeitosamente, nossa homenagem ao dia de hoje, 12 de outubro, data da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida.
- Linguisticamente e criativamente gostaríamos de inovar chamando-a reverenciosamente de Mãedroeira e não padroeira, pois este último termo é um machismo de nossa gramática. Padroeira vem de padre, pai e é masculino. Viver criando neologismos é bem melhor.
- Não podemos nos esquecer também que hoje, é o Dia da Criança, o Dia do Descobrimento da América e o Dia da Hispanidade. Comemoremos !
Nesta última obra, narra o que teria sido a vida de Jesus na sua adolescência até iniciar seu messianato.
- os dados acima estão no boletim SEI – Serviço Espírita de Informações, nº 2161, de 29/08/09, http://www.lfc.org.br/sei
- O livro, Maria, foi publicado pela antiga Companhia Editora Nacional, não há referência de data.
- Realmente, o fato da jovem Maria ter dado à luz a Jesus, indica, em primeiro lugar um grau de parentesco muito grande oriundo de vidas anteriores. E em segundo lugar que ela era uma pessoa toda especial, de muita Luz Espiritual, por abrigar em seu ventre o Mestre Jesus.
- Eis, respeitosamente, nossa homenagem ao dia de hoje, 12 de outubro, data da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida.
- Linguisticamente e criativamente gostaríamos de inovar chamando-a reverenciosamente de Mãedroeira e não padroeira, pois este último termo é um machismo de nossa gramática. Padroeira vem de padre, pai e é masculino. Viver criando neologismos é bem melhor.
- Não podemos nos esquecer também que hoje, é o Dia da Criança, o Dia do Descobrimento da América e o Dia da Hispanidade. Comemoremos !
sábado, 10 de outubro de 2009
Sete Lemas de N/A
É um pequeno grande folheto. Penso que deve andar nas bolsas, carteiras, pastas. Eu costumo anotá-lo em minha agenda anual. Assim, o ano inteiro fica lá a dica. E no ano seguinte, assim que compro a nova agendinha, transcrevo os sete lemas.
Com o passar do tempo e a reflexão diária, compreendi que cada lema é para um dia da semana:
Domingo – Fazer primeiro as coisas primeiras.
Segunda – Devagar se vai ao longe.
Terça – Viver e deixar viver.
Quarta – Viver na Graça de Deus.
Quinta – Esquecer os prejuízos.
Sexta – Recomendar-se a Deus incondicionalmente.
Sábado – Só por hoje.
Com o passar da vida, cada um vai ver que os lemas, por si, nos levam a deduções mais profundas.
Outras irmandades têm estes lemas, com pequenas variantes.
Nossa reverência e gratidão ao AA – Alcoólicos Anônimos, irmandade mãe de diversas irmandades de apoio mútuo: CCA – Comedores Compulsivos Anônimos, FA – Fumantes Anônimos, N.A. – Narcóticos Anônimos, JA – Jogadores Anônimos, DASA – Dependentes de Amor e Sexo Anônimos etc.
Tenho a honra de fazer parte da irmandade N/A, há muitas 24 horas, que constituem mais de 10 anos. Vejo na "Literatura de N/A" um grande caminho para se viver melhor.
www.neuroticosanonimos.org.br
Com o passar do tempo e a reflexão diária, compreendi que cada lema é para um dia da semana:
Domingo – Fazer primeiro as coisas primeiras.
Segunda – Devagar se vai ao longe.
Terça – Viver e deixar viver.
Quarta – Viver na Graça de Deus.
Quinta – Esquecer os prejuízos.
Sexta – Recomendar-se a Deus incondicionalmente.
Sábado – Só por hoje.
Com o passar da vida, cada um vai ver que os lemas, por si, nos levam a deduções mais profundas.
Outras irmandades têm estes lemas, com pequenas variantes.
Nossa reverência e gratidão ao AA – Alcoólicos Anônimos, irmandade mãe de diversas irmandades de apoio mútuo: CCA – Comedores Compulsivos Anônimos, FA – Fumantes Anônimos, N.A. – Narcóticos Anônimos, JA – Jogadores Anônimos, DASA – Dependentes de Amor e Sexo Anônimos etc.
Tenho a honra de fazer parte da irmandade N/A, há muitas 24 horas, que constituem mais de 10 anos. Vejo na "Literatura de N/A" um grande caminho para se viver melhor.
www.neuroticosanonimos.org.br
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
PS em Portugal
A recente vitória, mais uma, do PS – Partido Socialista, em Portugal, me fez lembrar de uma experiência marcante.
Aqui no Brasil ainda era o regime militar. O navio deixou o porto de Tilbury, na Inglaterra rumo à França. Cruzamos o Canal da Mancha. Um frio doido e um vento gélido. Era inverno. Saltei em Le Havre. Contatos me esperavam. Fui colocado em um trem rumo a Paris.
Na manhã seguinte, um outro trem deixou Paris rumo à fronteira com a Espanha. Na fronteira é efetuada a troca de trens. Agora, cruzaremos a Espanha. Por fim... o dia estava clareando quando chegamos em território português.
Eis a experiência marcante: o trem corria célere, o dia clareava, não me recordo o nome da cidadezinha, já faz tanto tempo. Mas lembro, inesquecivelmente lá longe, na campina, uma casa rosa e tremulando de uma janela no sobrado, a bandeira vermelha do Partido Socialista, do falecido e grande Mário Soares, presidente da Internacional Socialista.
Indescritível a felicidade que senti. E é por isso, entre outros motivos, que tenho um carinho muito grande pelo PS e pelos portugueses.
Aqui no Brasil ainda era o regime militar. O navio deixou o porto de Tilbury, na Inglaterra rumo à França. Cruzamos o Canal da Mancha. Um frio doido e um vento gélido. Era inverno. Saltei em Le Havre. Contatos me esperavam. Fui colocado em um trem rumo a Paris.
Na manhã seguinte, um outro trem deixou Paris rumo à fronteira com a Espanha. Na fronteira é efetuada a troca de trens. Agora, cruzaremos a Espanha. Por fim... o dia estava clareando quando chegamos em território português.
Eis a experiência marcante: o trem corria célere, o dia clareava, não me recordo o nome da cidadezinha, já faz tanto tempo. Mas lembro, inesquecivelmente lá longe, na campina, uma casa rosa e tremulando de uma janela no sobrado, a bandeira vermelha do Partido Socialista, do falecido e grande Mário Soares, presidente da Internacional Socialista.
Indescritível a felicidade que senti. E é por isso, entre outros motivos, que tenho um carinho muito grande pelo PS e pelos portugueses.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Fora daqui o FMI
Era assim, como está no título, que nós cantávamos nas ruas e praças exigindo que o FMI se retirasse do Brasil.
Porque aprendi, desde a mais tenra infância, que o FMI era conivente com o regime militar. Se era conivente, concordava com as torturas e outras coisas nefandas. Pode-se até alegar que o FMI não tinha competência para se pronunciar em assuntos internos, mas era isso o que, na prática acontecia. Eles não reclamavam das arbitrariedades aqui cometidas.
Agora o Brasil empresta dinheiro ao FMI, dizem que é uma quantia mínima, mas eu coloco as minhas barbas de molho. Então, ao entrar para esse time lamentável, o Brasil passa a fazer vistas grossas contra governos que tratam mal e exploram as suas populações.
Continuamos perdendo o jogo, desde 1500. Parece que nesta encarnação estão nos goleando exemplarmente e, já fomos, há muito, rebaixados para a terceira divisão dos povos.
Mesmo que venha por aí a melhorazinha propalada.
Porque aprendi, desde a mais tenra infância, que o FMI era conivente com o regime militar. Se era conivente, concordava com as torturas e outras coisas nefandas. Pode-se até alegar que o FMI não tinha competência para se pronunciar em assuntos internos, mas era isso o que, na prática acontecia. Eles não reclamavam das arbitrariedades aqui cometidas.
Agora o Brasil empresta dinheiro ao FMI, dizem que é uma quantia mínima, mas eu coloco as minhas barbas de molho. Então, ao entrar para esse time lamentável, o Brasil passa a fazer vistas grossas contra governos que tratam mal e exploram as suas populações.
Continuamos perdendo o jogo, desde 1500. Parece que nesta encarnação estão nos goleando exemplarmente e, já fomos, há muito, rebaixados para a terceira divisão dos povos.
Mesmo que venha por aí a melhorazinha propalada.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Carta a Marx
Prezado Carlinhos,
Como vai? Como é a vida, aí nesse plano espiritual em que você se encontra?
Por aqui, meu amigo, nem tão cedo as transformações de estrutura acontecem.
As classes dominantes brasileiras, indiscutivelmente, são as mais inteligentes do mundo, para o lado deles. Estão aí há 509 anos e, no fim do túnel, não temos perspectivas de mudanças reais na estrutura.
Deve acontecer tão somente, e apenas, uma melhorazinha, aquilo que antigamente nós chamávamos de “cala a boca, não reclama não que tá tudo bem”. Mas inverter mesmo a estrutura sócio-político-econômica, este século 21, talvez não veja.
Certa feita, o grande jornalista Tarso de Castro, já falecido, declarou que aqui, o Rio de Janeiro, era um balneário e por isso, a revolução não sairia daqui. Nesse momento eu quero ampliar a proposta dele e afirmar que esse maravilhoso país virou uma grande colônia de férias “deitada eternamente em berço esplêndido”. Olha a força das palavras aí.
O pessoal quer se divertir, pular carnaval, jogar futebol, praticar esportes e haja entretenimento. Nada contra, convenhamos, mas a turma não quer nem ouvir falar em mudar, de fato, as estruturas. Enquanto isso, os desníveis sociais e econômicos continuam.
Estou frisando a palavra estrutura porque é isso mesmo. É só uma maquiagenzinha que vão fazer e pronto. Como bem disse a ótima revista-jornal Caros Amigos, ano XII, nº 139, outubro de 2008, página 22: “A miséria desaparecendo um pouquinho e a classe média aumentando, é isso?”
Se você encontrar por aí o Mao Tsé Tung, transmita-lhes os meus parabéns, pelos 60 anos de aniversário de fundação da RPC – República Popular da China. Ele sabia das coisas e, pedagogicamente, compartilhou as idéias com os camponeses. Foi um bom professor de ginásio, aliás, nas origens, ele era camponês.
Falando nisso, a esperança agora é o MST, a Via Campesina e a LCP, esta última, a sigla, em homenagem a Luís Carlos Prestes, é a Liga Camponesa dos Pobres.
Resolveram chamar o Mao Tsé Tung de Mao Zedong. E já tem brincalhão falando em Mao Zé Dong. Esses humoristas...
Abração em todos. Quando quiser apareça, em uma reunião espírita, os médiuns já estão sabendo.
Como vai? Como é a vida, aí nesse plano espiritual em que você se encontra?
Por aqui, meu amigo, nem tão cedo as transformações de estrutura acontecem.
As classes dominantes brasileiras, indiscutivelmente, são as mais inteligentes do mundo, para o lado deles. Estão aí há 509 anos e, no fim do túnel, não temos perspectivas de mudanças reais na estrutura.
Deve acontecer tão somente, e apenas, uma melhorazinha, aquilo que antigamente nós chamávamos de “cala a boca, não reclama não que tá tudo bem”. Mas inverter mesmo a estrutura sócio-político-econômica, este século 21, talvez não veja.
Certa feita, o grande jornalista Tarso de Castro, já falecido, declarou que aqui, o Rio de Janeiro, era um balneário e por isso, a revolução não sairia daqui. Nesse momento eu quero ampliar a proposta dele e afirmar que esse maravilhoso país virou uma grande colônia de férias “deitada eternamente em berço esplêndido”. Olha a força das palavras aí.
O pessoal quer se divertir, pular carnaval, jogar futebol, praticar esportes e haja entretenimento. Nada contra, convenhamos, mas a turma não quer nem ouvir falar em mudar, de fato, as estruturas. Enquanto isso, os desníveis sociais e econômicos continuam.
Estou frisando a palavra estrutura porque é isso mesmo. É só uma maquiagenzinha que vão fazer e pronto. Como bem disse a ótima revista-jornal Caros Amigos, ano XII, nº 139, outubro de 2008, página 22: “A miséria desaparecendo um pouquinho e a classe média aumentando, é isso?”
Se você encontrar por aí o Mao Tsé Tung, transmita-lhes os meus parabéns, pelos 60 anos de aniversário de fundação da RPC – República Popular da China. Ele sabia das coisas e, pedagogicamente, compartilhou as idéias com os camponeses. Foi um bom professor de ginásio, aliás, nas origens, ele era camponês.
Falando nisso, a esperança agora é o MST, a Via Campesina e a LCP, esta última, a sigla, em homenagem a Luís Carlos Prestes, é a Liga Camponesa dos Pobres.
Resolveram chamar o Mao Tsé Tung de Mao Zedong. E já tem brincalhão falando em Mao Zé Dong. Esses humoristas...
Abração em todos. Quando quiser apareça, em uma reunião espírita, os médiuns já estão sabendo.
domingo, 4 de outubro de 2009
Laura Brandão Poetisa
No princípio do século 20, Laura Brandão (1891-1942) foi uma laureada e conceituada poetisa. Chegou a participar de algumas antologias e publicou quatro pequenos livros.
Admirada por intelectuais da época, Olavo Bilac, em 1913, disse: “Ouvir Laura é ouvir a própria poesia”.
Mas, como tudo nessa vida é impermanente, a jovem, que até então se chamava Laura da Fonseca e Silva casou com Otávio Brandão, histórico militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro.
Teve de abandonar o país e refugiou-se na antiga URSS. Laura Brandão está sepultada no Cemitério dos Heróis, em Moscou.
Maiores detalhes o leitor encontra na ótima dissertação de Mestrado de Maria Elena Bernardes, defendida e publicada na Unicamp, 2007, 196 páginas, com o título Laura Brandão: a Invisibilidade Feminina na Política.
- Laura e Otávio tiveram quatro filhas, uma delas, veio morar em Santa Teresa, Rio. Chama-se Dionysa.
- Uma das filhas de Dionysa, Laura, nome em homenagem à avó, faleceu recentemente. Quando adolescente e jovem, Laurinha, como todos a chamavam, freqüentava a Sociedade Budista do Brasil. Laura, a neta, era nossa colega, formada em Letras na UFRJ. Parte de suas cinzas foram espalhadas na Floresta da Tijuca e a outra parte no oceano. Deixou um filho, Rudá.
- A segunda filha de Dionysa, que mora até hoje na Eqüitativa, Santa Teresa, Rio, Marisa Brandão, terminou este ano o doutorado. É militante da Amast - Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa.
Admirada por intelectuais da época, Olavo Bilac, em 1913, disse: “Ouvir Laura é ouvir a própria poesia”.
Mas, como tudo nessa vida é impermanente, a jovem, que até então se chamava Laura da Fonseca e Silva casou com Otávio Brandão, histórico militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro.
Teve de abandonar o país e refugiou-se na antiga URSS. Laura Brandão está sepultada no Cemitério dos Heróis, em Moscou.
Maiores detalhes o leitor encontra na ótima dissertação de Mestrado de Maria Elena Bernardes, defendida e publicada na Unicamp, 2007, 196 páginas, com o título Laura Brandão: a Invisibilidade Feminina na Política.
- Laura e Otávio tiveram quatro filhas, uma delas, veio morar em Santa Teresa, Rio. Chama-se Dionysa.
- Uma das filhas de Dionysa, Laura, nome em homenagem à avó, faleceu recentemente. Quando adolescente e jovem, Laurinha, como todos a chamavam, freqüentava a Sociedade Budista do Brasil. Laura, a neta, era nossa colega, formada em Letras na UFRJ. Parte de suas cinzas foram espalhadas na Floresta da Tijuca e a outra parte no oceano. Deixou um filho, Rudá.
- A segunda filha de Dionysa, que mora até hoje na Eqüitativa, Santa Teresa, Rio, Marisa Brandão, terminou este ano o doutorado. É militante da Amast - Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa.
sábado, 3 de outubro de 2009
Partidão Fênix
Tal e qual o mito da fênix que renasce das cinzas, eis que o PCB – Partido Comunista Brasileiro está de volta.
De 8 a 12 de outubro de 2009, realiza na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio, o seu XIV Congresso. Saudações aos visitantes, congressistas e convidados.
Hoje o PCB tem 87 anos, mas em 1986, quando completou 64 anos, publiquei a poesia abaixo no então Jornal de Cultura, órgão do Sindicato dos Escritores do RJ. O presidente era José Louzeiro, o vice-presidente era Antonio Houaiss e eu era o suplente de vice-presidente. A ilustração trazia a foice e o martelo dentro de um coração.
25 de Março de 1922
Passa ano, sai ano
E você aí feito tatu
Teimando em existir
Em prol duma igualdade.
Passa passa, passa o tempo
E você aí lutando
Com o sacrifício da vida
Por uma coletividade –
Nação.
Passa o mundo, passa a morte
E só você fica
Passando de homem pra homem
De boca a ouvido
A sonhada Paz de uma Terra melhor.
Passa partido passa
Passa que eu já vi tudo
Você não tem jeito não !
Só mais sessenta anos,
Sempre do lado esquerdo –
Vermelho coração.
De 8 a 12 de outubro de 2009, realiza na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio, o seu XIV Congresso. Saudações aos visitantes, congressistas e convidados.
Hoje o PCB tem 87 anos, mas em 1986, quando completou 64 anos, publiquei a poesia abaixo no então Jornal de Cultura, órgão do Sindicato dos Escritores do RJ. O presidente era José Louzeiro, o vice-presidente era Antonio Houaiss e eu era o suplente de vice-presidente. A ilustração trazia a foice e o martelo dentro de um coração.
25 de Março de 1922
Passa ano, sai ano
E você aí feito tatu
Teimando em existir
Em prol duma igualdade.
Passa passa, passa o tempo
E você aí lutando
Com o sacrifício da vida
Por uma coletividade –
Nação.
Passa o mundo, passa a morte
E só você fica
Passando de homem pra homem
De boca a ouvido
A sonhada Paz de uma Terra melhor.
Passa partido passa
Passa que eu já vi tudo
Você não tem jeito não !
Só mais sessenta anos,
Sempre do lado esquerdo –
Vermelho coração.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Zigoto é vida humana
Mais de 1 milhão de pessoas, na Espanha, já assinaram o Manifesto de Madrid contra o aborto. A lista iniciou como um movimento de cientistas, acadêmicos, especialistas nos campos de genética, embriologia, medicina, biologia, histologia, antropologia e filosofia, mas agora expandiu-se para diversos setores da sociedade.
Com base em argumentações científicas, o manifesto “defende a vida humana em seu estágio inicial, embrionária, fetal e rejeita a sua instrumentalização a serviço de grandes interesses econômicos e ideológicos”.
Mônica López Barahona, consultora na área de bioética das Nações Unidas e diretora acadêmica do Centro de Estudos Biossanitários afirma: “O zigoto é vida, é vida humana, é um indivíduo único da espécie humana. Ele tem os mesmos direitos que qualquer outro indivíduo da espécie humana. Por este motivo, entrar em certas definições de termos não é aceitável, se pertence ou não à espécie humana segundo o número de células que tenha ou os quilos que pesa”.
A notícia está no boletim semanal Serviço Espírita de Informações, de 15/08/2009, nº 2159, http://www.lfc.org.br/sei de lá tem o link para a matéria na Espanha.
Budisticamente, a nota acima está certíssima. O Senhor Buddha recomendava, desde o século VI antes de Cristo, reverenciarmos todas as formas de vida, visíveis e invisíveis.
Com base em argumentações científicas, o manifesto “defende a vida humana em seu estágio inicial, embrionária, fetal e rejeita a sua instrumentalização a serviço de grandes interesses econômicos e ideológicos”.
Mônica López Barahona, consultora na área de bioética das Nações Unidas e diretora acadêmica do Centro de Estudos Biossanitários afirma: “O zigoto é vida, é vida humana, é um indivíduo único da espécie humana. Ele tem os mesmos direitos que qualquer outro indivíduo da espécie humana. Por este motivo, entrar em certas definições de termos não é aceitável, se pertence ou não à espécie humana segundo o número de células que tenha ou os quilos que pesa”.
A notícia está no boletim semanal Serviço Espírita de Informações, de 15/08/2009, nº 2159, http://www.lfc.org.br/sei de lá tem o link para a matéria na Espanha.
Budisticamente, a nota acima está certíssima. O Senhor Buddha recomendava, desde o século VI antes de Cristo, reverenciarmos todas as formas de vida, visíveis e invisíveis.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Universidade Búdica
O terreno mede quase 30 mil metros quadrados. A área, já em construção, ficará perto dos 22 mil metros quadrados. Inicialmente serão 30 salas de aula. O projeto será do grande brasileiro e cidadão do mundo, arquiteto Oscar Niemeyer. A pedra fundamental foi lançada em 05/08/09. O estabelecimento de ensino fica na cidade de Araraquara, SP.
É a Universidade de Música e Artes Cênicas Dr. Daisaku Ikeda. E, como toda boa universidade, depois abrirá outros cursos nas áreas de ciências humanas.
Maiores detalhes no semanário budista Brasil Seikyo, nº 1999, de 15/08/09. www.brasilseikyo.com.br
A cidade de Araraquara tem hoje cerca de 200 mil habitantes. O grupo local da BSGI – Brasil Soka Gakai Internacional é bem atuante. Tem cerca de 400 famílias.
Daisaku Ikeda é o presidente desta linhagem do Budismo Nichiren.
A universidade será inaugurada em 2011.
É a Universidade de Música e Artes Cênicas Dr. Daisaku Ikeda. E, como toda boa universidade, depois abrirá outros cursos nas áreas de ciências humanas.
Maiores detalhes no semanário budista Brasil Seikyo, nº 1999, de 15/08/09. www.brasilseikyo.com.br
A cidade de Araraquara tem hoje cerca de 200 mil habitantes. O grupo local da BSGI – Brasil Soka Gakai Internacional é bem atuante. Tem cerca de 400 famílias.
Daisaku Ikeda é o presidente desta linhagem do Budismo Nichiren.
A universidade será inaugurada em 2011.
domingo, 6 de setembro de 2009
Qual Ética ?
Buda ensinou que tudo nessa vida, nesse plano físico, é plural. As coisas podem ser vistas por vários ângulos. É a lei da impermanência.
Atualmente fala-se muito em ética. Mas, convém perguntar, filosoficamente, levando a questão para o âmbito do pensamento. Qual ética? A ética da direita? A ética da esquerda? A ética dos conservadores? A ética dos revolucionários? A ética de um grupo religioso? De um grupo social? A ética dos ateus? A ética dos agnósticos? A ética dos místicos? Qual ética?
Simon Blackburn, em seu ótimo Dicionário Oxford de Filosofia, editora Jorge Zahar, 1997, 438 páginas, lista as seguintes formas de ética: “ética aplicada, ética da gestão, ética da virtude, ética de situações, ética deontológica, ética do meio ambiente, ética evolucionista, ética feminista, ética médica, ética naturalista, ética protestante do trabalho”.
Escolha uma, ou democraticamente, invente a sua, mas não se esqueça dos demais seres humanos e seres vivos em geral. Podemos parodiar o poeta Cazuza; “Ideologia, eu quero uma pra viver”, “Ética, eu quero uma pra viver”
Simon Blackburn foi um laureado professor de Oxford e hoje leciona na Universidade da Carolina do Norte, EUA. As principais revistas de filosofia do mundo têm artigos seus publicados.
Este blog e seu autor pautam-se pela multimilenar Ética Budista, expressa no Caminho Óctuplo: 1) Palavra Correta, 2) Ação Correta, 3) Meio de Vida Correto, 4) Esforço Correto, 5) Plena Atenção Correta, 6) Concentração Correta, 7) Pensamento Correto, 8) Compreensão Correta.
Atualmente fala-se muito em ética. Mas, convém perguntar, filosoficamente, levando a questão para o âmbito do pensamento. Qual ética? A ética da direita? A ética da esquerda? A ética dos conservadores? A ética dos revolucionários? A ética de um grupo religioso? De um grupo social? A ética dos ateus? A ética dos agnósticos? A ética dos místicos? Qual ética?
Simon Blackburn, em seu ótimo Dicionário Oxford de Filosofia, editora Jorge Zahar, 1997, 438 páginas, lista as seguintes formas de ética: “ética aplicada, ética da gestão, ética da virtude, ética de situações, ética deontológica, ética do meio ambiente, ética evolucionista, ética feminista, ética médica, ética naturalista, ética protestante do trabalho”.
Escolha uma, ou democraticamente, invente a sua, mas não se esqueça dos demais seres humanos e seres vivos em geral. Podemos parodiar o poeta Cazuza; “Ideologia, eu quero uma pra viver”, “Ética, eu quero uma pra viver”
Simon Blackburn foi um laureado professor de Oxford e hoje leciona na Universidade da Carolina do Norte, EUA. As principais revistas de filosofia do mundo têm artigos seus publicados.
Este blog e seu autor pautam-se pela multimilenar Ética Budista, expressa no Caminho Óctuplo: 1) Palavra Correta, 2) Ação Correta, 3) Meio de Vida Correto, 4) Esforço Correto, 5) Plena Atenção Correta, 6) Concentração Correta, 7) Pensamento Correto, 8) Compreensão Correta.
domingo, 30 de agosto de 2009
Heidegger e Herrigel
Na página 298, da ótima biografia Heidegger – Um Mestre Da Alemanha Entre O Bem E O Mal, de Rudiger Safranski, em excelente tradução de Lya Luft, editora Geração, 2000; ficamos sabendo que Eugen Herrigel elogiou o discurso de posse de Martin Heidegger como reitor da Universidade de Freiburg. Herrigel era professor de filosofia na Universidade de Heidelberg.
Mas, quem é Eugen Herrigel? Nada mais, nada menos que o consagrado autor de um pequeno grande livro, publicado em diversos idiomas. A Arte Cavalheiresca Do Arqueiro Zen, editora Pensamento, em 2005, já havia passado da 21ª impressão no Brasil.
Martin Heidegger (1889-1976), Eugen Herrigel (1884-1955) eram colegas docentes, portanto, um conhecia o trabalho e a pesquisa do outro.
Herrigel tem também um outro livro, na área, bastante traduzido e como o anterior, bem respeitado, O Caminho Zen, editora Pensamento, em 1987, estava na segunda impressão.
Com freqüência nosso blog fala muito em Heidegger, vamos hoje falar também de Eugen. Herrigel era um conceituado kantiano, seu primeiro livro na academia Urstoff Und Urform, publicado em 1926 falava naturalmente do seu então objeto de estudo, o filósofo conterrâneo Immanuel Kant (1724-1804). Quanto ao segundo livro, editado em 1929, ainda na área universitária, teve uma coincidência interessante, Die metaphysiche Form, também sobre o pensamento de Kant, foi lançado quase que simultaneamente ao Kant Und Das Problem Der Metaphysik, de Heidegger. Seria muito bom que alguma editora brasileira ou portuguesa, publicasse os dois.
Eis então que a Universidade Imperial de Tohoku, Sendai, no Japão oferece a Eugen o cargo de professor convidado de História da Filosofia. Ele prontamente aceita. Segue com a esposa para o Japão onde fica 6 anos. É aí que Herrigel tem iniciação no Zen-Budismo. Nessa universidade Eugen recebe o título de doutor honorário (Bungaku Hakushi), pelos relevantes serviços prestados à filosofia oriental, sobretudo, o pensamento japonês.
Voltando à Alemanha, Herrigel ocupa a cátedra de Filosofia e Teologia Sistemática da Universidade de Erlangen, e se torna membro da Academia de Ciência da Baviera.
Mas, quem é Eugen Herrigel? Nada mais, nada menos que o consagrado autor de um pequeno grande livro, publicado em diversos idiomas. A Arte Cavalheiresca Do Arqueiro Zen, editora Pensamento, em 2005, já havia passado da 21ª impressão no Brasil.
Martin Heidegger (1889-1976), Eugen Herrigel (1884-1955) eram colegas docentes, portanto, um conhecia o trabalho e a pesquisa do outro.
Herrigel tem também um outro livro, na área, bastante traduzido e como o anterior, bem respeitado, O Caminho Zen, editora Pensamento, em 1987, estava na segunda impressão.
Com freqüência nosso blog fala muito em Heidegger, vamos hoje falar também de Eugen. Herrigel era um conceituado kantiano, seu primeiro livro na academia Urstoff Und Urform, publicado em 1926 falava naturalmente do seu então objeto de estudo, o filósofo conterrâneo Immanuel Kant (1724-1804). Quanto ao segundo livro, editado em 1929, ainda na área universitária, teve uma coincidência interessante, Die metaphysiche Form, também sobre o pensamento de Kant, foi lançado quase que simultaneamente ao Kant Und Das Problem Der Metaphysik, de Heidegger. Seria muito bom que alguma editora brasileira ou portuguesa, publicasse os dois.
Eis então que a Universidade Imperial de Tohoku, Sendai, no Japão oferece a Eugen o cargo de professor convidado de História da Filosofia. Ele prontamente aceita. Segue com a esposa para o Japão onde fica 6 anos. É aí que Herrigel tem iniciação no Zen-Budismo. Nessa universidade Eugen recebe o título de doutor honorário (Bungaku Hakushi), pelos relevantes serviços prestados à filosofia oriental, sobretudo, o pensamento japonês.
Voltando à Alemanha, Herrigel ocupa a cátedra de Filosofia e Teologia Sistemática da Universidade de Erlangen, e se torna membro da Academia de Ciência da Baviera.
sábado, 22 de agosto de 2009
Primórdios da Literatura em Myammar
A literatura da Birmânia, atual nome de Myammar, é uma das mais antigas do sudeste asiático.
O país é cercado a oeste, leste e norte por cadeias de montanhas muito íngremes e inacessíveis, com a Índia, o Tibet e a China. Ao sul tem o oceano índico, caracterizando aquele povo como se vivessem em uma “ilha”.
A História documentada começa no século 8. A língua é tonal, com elementos monossilábicos e faz parte do grupo tibeto-birmanês, sintaticamente bem diferente do antigo chinês.
O rei Anoratha (1004-1077) unificou a nação. Em 1044, aceitando o conselho de um monge, elevou o Budismo à condição de religião oficial, mas tolerava o animismo, o tantrismo budista e a adoração à divindades hindus. Chamou então de Budismo Meridional, em função da geografia do país, é uma espécie de Theravada misturado com os demais credos citados.
Os documentos literários mais antigos remontam ao século 5, eram escritos em folhas de palmeiras misturadas com barro, formando finas placas argilosas. Escavações arqueológicas encontraram inscrições em língua páli e em pyu (o idioma nativo) nas pedras e em tábuas. São trechos conhecidos do Cânon Páli do Budismo Theravada.
Em 1495, o monge Shin Thila-wuntha escreveu, na forma de poesia didática, as 10 Perfeições do Budismo. Em 1495, no mesmo gênero, escreveu a Prece pela Comunidade Budista. A partir daí, outros autores, em geral monges e poucos nobres, escreveram mais poesias didáticas com os temas das vidas pregressas do Buddha que se encontram nos chamados Jatakas.
O teatro popular também se desenvolveu muito, mas dessa vez, só grupos leigos, sem a presença dos monges. Havia uma festa anual, tipo carnaval onde os grupos cantavam e dançavam nas aldeias, faziam procissões com carros de bois, cenas pantomímicas inspiradas na vida do Buddha, algumas de teor solene e sério, outras com toques de irreverência e até ridicularizando o público, lembrando a interação entre palco e platéia.
Com o passar do tempo foram surgindo também, no meio do leigos, cantadores camponeses contando histórias de espíritos, baladas de amor, humorismo refinado, generosa compreensão das fraquezas humanas. Tudo sob as bênçãos e o esplendor do Buddha.
Fonte: História das Literaturas Universais, editora Estampa, Lisboa, 1974.
O país é cercado a oeste, leste e norte por cadeias de montanhas muito íngremes e inacessíveis, com a Índia, o Tibet e a China. Ao sul tem o oceano índico, caracterizando aquele povo como se vivessem em uma “ilha”.
A História documentada começa no século 8. A língua é tonal, com elementos monossilábicos e faz parte do grupo tibeto-birmanês, sintaticamente bem diferente do antigo chinês.
O rei Anoratha (1004-1077) unificou a nação. Em 1044, aceitando o conselho de um monge, elevou o Budismo à condição de religião oficial, mas tolerava o animismo, o tantrismo budista e a adoração à divindades hindus. Chamou então de Budismo Meridional, em função da geografia do país, é uma espécie de Theravada misturado com os demais credos citados.
Os documentos literários mais antigos remontam ao século 5, eram escritos em folhas de palmeiras misturadas com barro, formando finas placas argilosas. Escavações arqueológicas encontraram inscrições em língua páli e em pyu (o idioma nativo) nas pedras e em tábuas. São trechos conhecidos do Cânon Páli do Budismo Theravada.
Em 1495, o monge Shin Thila-wuntha escreveu, na forma de poesia didática, as 10 Perfeições do Budismo. Em 1495, no mesmo gênero, escreveu a Prece pela Comunidade Budista. A partir daí, outros autores, em geral monges e poucos nobres, escreveram mais poesias didáticas com os temas das vidas pregressas do Buddha que se encontram nos chamados Jatakas.
O teatro popular também se desenvolveu muito, mas dessa vez, só grupos leigos, sem a presença dos monges. Havia uma festa anual, tipo carnaval onde os grupos cantavam e dançavam nas aldeias, faziam procissões com carros de bois, cenas pantomímicas inspiradas na vida do Buddha, algumas de teor solene e sério, outras com toques de irreverência e até ridicularizando o público, lembrando a interação entre palco e platéia.
Com o passar do tempo foram surgindo também, no meio do leigos, cantadores camponeses contando histórias de espíritos, baladas de amor, humorismo refinado, generosa compreensão das fraquezas humanas. Tudo sob as bênçãos e o esplendor do Buddha.
Fonte: História das Literaturas Universais, editora Estampa, Lisboa, 1974.
domingo, 16 de agosto de 2009
Jaspers e o Zen
Mestre Taisen Deshimaru (1914-1982) foi um dos grandes monges Zen-Budistas do século 20. Nasceu no Japão, mas cedo fixou residência na França, de onde tratou de divulgar o Zen por toda a Europa.
Em seu livro La Voz Del Valle, editora Paidos, Barcelona, 1985, ele conta, à página 232, que certa feita conheceu pessoalmente o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969).
Jaspers andava estudando a vida e a obra do monge budista Dogen (1200-1253), fundador e patriarca da linhagem Sotô Zen, considerado o Pai da Filosofia no Japão. Segundo Deshimaru, o filósofo alemão estava “profundamente surpreendido e impressionado”.
E, mais adiante, Jaspers declara:
- Se eu pudesse voltar e começar a minha vida, não escreveria livros. Eu, simplesmente, sentaria e guardaria o silêncio.
Na linguagem Zen, sentar e guardar o silêncio equivale a fazer Zazen, isto é, meditar.
Em seu livro La Voz Del Valle, editora Paidos, Barcelona, 1985, ele conta, à página 232, que certa feita conheceu pessoalmente o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969).
Jaspers andava estudando a vida e a obra do monge budista Dogen (1200-1253), fundador e patriarca da linhagem Sotô Zen, considerado o Pai da Filosofia no Japão. Segundo Deshimaru, o filósofo alemão estava “profundamente surpreendido e impressionado”.
E, mais adiante, Jaspers declara:
- Se eu pudesse voltar e começar a minha vida, não escreveria livros. Eu, simplesmente, sentaria e guardaria o silêncio.
Na linguagem Zen, sentar e guardar o silêncio equivale a fazer Zazen, isto é, meditar.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O Pastor que era Amigo de Freud
Em 1962, em Londres, Anna Freud, filha do Pai da Psicanálise afirmava sobre o pastor Pfister:
“No ambiente dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes, aparência e atitude de pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente, com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a nossa família – como uma interrupção das suas discussões teóricas e clínicas.
“Pelo contrário, seu calor humano e entusiasmo, sua viva participação também nos fatos mínimos do cotidiano entusiasmavam as crianças da casa e faziam dele um hóspede bem-vindo em qualquer tempo. Para elas Pfister era, segundo um dito de Freud, não um santo homem, mas um tipo de flautista de Hamelin que só precisava tocar seu instrumento para ter um bando inteiro obediente atrás de si”.
Os dois parágrafos acima estão no livro Cartas entre Freud & Pfister – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã, publicado pela editora evangélica, Ultimato, de Viçosa, MG, 200 páginas.
O pastor protestante Oskar Pfister, doutor em filosofia e teologia, nasceu eu Zurique. E como educador foi pioneiro em interligar psicanálise e pedagogia.
Veja as palavras do próprio Freud ao amigo, em 04/10/1909: “Uma carta sua faz parte do mais belo que pode recepcionar a gente no regresso para casa”.
E, em 30/12/1923, Pfister escreveu: “Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem-se na casa do professor Freud !”.
Claro, nem sempre os dois se entendiam: Pfister, religioso; Freud ateu, mas nasceu daí uma grande amizade. E o livro cobre 20 anos de cartas, de 1909 a 1939.
Uma leitura saborosíssima.
“No ambiente dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes, aparência e atitude de pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente, com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a nossa família – como uma interrupção das suas discussões teóricas e clínicas.
“Pelo contrário, seu calor humano e entusiasmo, sua viva participação também nos fatos mínimos do cotidiano entusiasmavam as crianças da casa e faziam dele um hóspede bem-vindo em qualquer tempo. Para elas Pfister era, segundo um dito de Freud, não um santo homem, mas um tipo de flautista de Hamelin que só precisava tocar seu instrumento para ter um bando inteiro obediente atrás de si”.
Os dois parágrafos acima estão no livro Cartas entre Freud & Pfister – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã, publicado pela editora evangélica, Ultimato, de Viçosa, MG, 200 páginas.
O pastor protestante Oskar Pfister, doutor em filosofia e teologia, nasceu eu Zurique. E como educador foi pioneiro em interligar psicanálise e pedagogia.
Veja as palavras do próprio Freud ao amigo, em 04/10/1909: “Uma carta sua faz parte do mais belo que pode recepcionar a gente no regresso para casa”.
E, em 30/12/1923, Pfister escreveu: “Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem-se na casa do professor Freud !”.
Claro, nem sempre os dois se entendiam: Pfister, religioso; Freud ateu, mas nasceu daí uma grande amizade. E o livro cobre 20 anos de cartas, de 1909 a 1939.
Uma leitura saborosíssima.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
A Língua Cigana
A língua dos ciganos é o romani (ou romanês, romaneske, romanê), que possui inúmeros pontos de correlação com o sânscrito e é somente oral, já que os ciganos não escrevem em romani com vistas a publicação. Na Europa, por causa das inúmeras organizações representativas do povo cigano, existem algumas publicações que divulgam a língua por meio de cartilhas de alfabetização, gramáticas, além de diversas revistas e jornais dessas organizações que, mesmo escritos na língua local (espanhol, francês, italiano, inglês, russo etc), apresentam vocábulos ciganos.
Por meio de formas dialetais (manuche, calão), ciganos das mais diversas partes do mundo podem, contudo, se entender razoavelmente, considerando-se que tem como base lingüística o romani.
A língua romani possui um sistema de declinações que não difere muito do latim ou do grego clássico, e menos ainda do sânscrito, com que, como já vimos, ela é aparentada.
Quando o romá saiu da Índia, havia no romani três gêneros, como em alemão, mas o neutro desapareceu durante a Idade Média, provavelmente por influência do persa.
Os parágrafos acima encontram-se nas páginas 48 a 52, do livro Os Ciganos Ainda Estão na Estrada, recém lançado pela editora Rocco, de Cristina da Costa Pereira, graduada em Letras pela UFRJ.
Cristina afirma, logo no início que, embora não tenham pátria, nem pertençam a uma nação, os ciganos constituem uma etnia reconhecida pela União Romani Internacional, reconhecida pela ONU, em 28 de fevereiro de 1979.
A origem dos ciganos encontra-se no noroeste da antiga Índia, onde hoje é o Paquistão. Eles não aceitavam o sistema de castas e então, em 1500 antes de Cristo começaram a deixar o solo indiano.
Especialistas em Ciganologia afirmam que a Bíblia faz referência a este povo nômade.
São 176 páginas bem escritas e bem pesquisadas por esta contista e poetisa que já representou o Brasil no Congresso Internacional de Ciganos, em 2006, na Itália.
Por meio de formas dialetais (manuche, calão), ciganos das mais diversas partes do mundo podem, contudo, se entender razoavelmente, considerando-se que tem como base lingüística o romani.
A língua romani possui um sistema de declinações que não difere muito do latim ou do grego clássico, e menos ainda do sânscrito, com que, como já vimos, ela é aparentada.
Quando o romá saiu da Índia, havia no romani três gêneros, como em alemão, mas o neutro desapareceu durante a Idade Média, provavelmente por influência do persa.
Os parágrafos acima encontram-se nas páginas 48 a 52, do livro Os Ciganos Ainda Estão na Estrada, recém lançado pela editora Rocco, de Cristina da Costa Pereira, graduada em Letras pela UFRJ.
Cristina afirma, logo no início que, embora não tenham pátria, nem pertençam a uma nação, os ciganos constituem uma etnia reconhecida pela União Romani Internacional, reconhecida pela ONU, em 28 de fevereiro de 1979.
A origem dos ciganos encontra-se no noroeste da antiga Índia, onde hoje é o Paquistão. Eles não aceitavam o sistema de castas e então, em 1500 antes de Cristo começaram a deixar o solo indiano.
Especialistas em Ciganologia afirmam que a Bíblia faz referência a este povo nômade.
São 176 páginas bem escritas e bem pesquisadas por esta contista e poetisa que já representou o Brasil no Congresso Internacional de Ciganos, em 2006, na Itália.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Heidegger e o monge Theravada
Em 27 de setembro de 1964, o monge budista da linhagem Theravada da Tailândia, Venerável Bhikkhu Maha Mani visitou o pensador Martin Heidegger em sua cabana, na Floresta Negra. Foi uma conversa agradável e animada.
Combinaram então que, no dia seguinte, os dois se encontrariam para um diálogo acadêmico nos estúdios da TV Alemã. O encontro durou duas horas e falaram sobre a filosofia de Heidegger, o papel da religião e o pensamento budista. Tudo filmado, gravado e depois transmitido para o grande público.
O monge era um conceituado professor de filosofia da Universidade Budista de Bangkok.
Maiores detalhes você encontra no excelente livro El Oriente de Heidegger, de Carlo Saviani, editora Herder, 2004, Barcelona, 174 páginas.
Saviani é professor de História e Filosofia, e pesquisador da Universidade Oriental de Nápoles, Itália.
Combinaram então que, no dia seguinte, os dois se encontrariam para um diálogo acadêmico nos estúdios da TV Alemã. O encontro durou duas horas e falaram sobre a filosofia de Heidegger, o papel da religião e o pensamento budista. Tudo filmado, gravado e depois transmitido para o grande público.
O monge era um conceituado professor de filosofia da Universidade Budista de Bangkok.
Maiores detalhes você encontra no excelente livro El Oriente de Heidegger, de Carlo Saviani, editora Herder, 2004, Barcelona, 174 páginas.
Saviani é professor de História e Filosofia, e pesquisador da Universidade Oriental de Nápoles, Itália.
sábado, 4 de julho de 2009
A Bíblia como Literatura
Traduzidos no Brasil, existem dois livros diferentes, com o título acima. O primeiro é da dupla de professores John B. Gabel e Charles B. Wheeler, da Universidade Estadual de Ohio, EUA, publicados em São Paulo por Edições Loyola, em 1993, uma editora jesuíta.
O livro aborda a Bíblia a partir de uma perspectiva histórico-literária, estudando-a como um conjunto de escritos produzidos por pessoas reais que desejavam transmitir mensagens a um público real.
São 264 páginas apresentando a dimensão literária da Bíblia.
O segundo livro, com o mesmo título, vem da franciscana Vozes, de Petrópolis, o autor é o padre espanhol José Pedro Tosaus Abadia, publicado em 2001, com 240 páginas.
Trata-se de estudar a Bíblia como uma narrativa literária e neste sentido, o principal livro sagrado do Ocidente, inspirou autores em quase todos os países do nosso hemisfério.
É algo, realmente fascinante. Quer católicos, quer protestantes, a Bíblia esteve presente nos primórdios das Literaturas dessas nações.
A recomendação é saborear a leitura da Bíblia como um romance, independente dos postulados religiosos (com todo o respeito) e lá também vamos encontrar excelentes textos poéticos.
O livro aborda a Bíblia a partir de uma perspectiva histórico-literária, estudando-a como um conjunto de escritos produzidos por pessoas reais que desejavam transmitir mensagens a um público real.
São 264 páginas apresentando a dimensão literária da Bíblia.
O segundo livro, com o mesmo título, vem da franciscana Vozes, de Petrópolis, o autor é o padre espanhol José Pedro Tosaus Abadia, publicado em 2001, com 240 páginas.
Trata-se de estudar a Bíblia como uma narrativa literária e neste sentido, o principal livro sagrado do Ocidente, inspirou autores em quase todos os países do nosso hemisfério.
É algo, realmente fascinante. Quer católicos, quer protestantes, a Bíblia esteve presente nos primórdios das Literaturas dessas nações.
A recomendação é saborear a leitura da Bíblia como um romance, independente dos postulados religiosos (com todo o respeito) e lá também vamos encontrar excelentes textos poéticos.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Primórdios da Literatura Coreana
O primeiro reino que unificou o país data de 37 antes de Cristo até 668 de nossa era. Antes só há registros de tribos isoladas e as invasões externas de reinos chineses e japoneses.
Estudiosos afirmam que havia uma tendência do povo coreano para uma vida silenciosa e meditativa, manifestando sobriedade, amor sincero e profundo pela natureza. Certamente em função das condições geográficas do país.
A península da Coréia é banhada pelo Mar Amarelo e pelo Mar do Japão. São muitas cadeias de montanhas formando vales férteis.
Na antiguidade as duas correntes principais da Literatura Coreana eram a “sino-coreana” escrita em chinês e a nacional coreana, escrita na língua local.
O coreano é uma língua falada, e ao escrever e ler, usavam o chinês clássico.
Os testemunhos mais remotos da Poesia Coreana são cantos religiosos das tribos que mencionamos acima, de conotação xamânica.
A partir do ano 668, surgem as poesias patrióticas.
O Budismo chega ao país, mais ou menos nessa época, acima referida, através de monges missionários chineses.
Considera-se o poeta e erudito monge budista coreano Kyun-´Vyo (917-973) como um dos pais da literatura de seu país.
Seu estilo lembra um pouco as poesias patrióticas, mas enfatizando o amor que supera as barreiras sociais, mescladas com as virtudes monásticas e as preces ao Buddha Amitabha, o Buddha da Luz Infinita, linhagem Terra Pura, predominante na Coréia.
Vyo destacava também o elogio da amizade, a arte de governar, os fenômenos celestes, cataclismos naturais nefastos que através de versos mágicos podiam ser exorcizados e, naturalmente, reverências aos antepassados.
Fonte: História das Literaturas Universais, editorial Estampa, Lisboa, 1974. Série original em alemão Die Literaturen Der Welt.
Estudiosos afirmam que havia uma tendência do povo coreano para uma vida silenciosa e meditativa, manifestando sobriedade, amor sincero e profundo pela natureza. Certamente em função das condições geográficas do país.
A península da Coréia é banhada pelo Mar Amarelo e pelo Mar do Japão. São muitas cadeias de montanhas formando vales férteis.
Na antiguidade as duas correntes principais da Literatura Coreana eram a “sino-coreana” escrita em chinês e a nacional coreana, escrita na língua local.
O coreano é uma língua falada, e ao escrever e ler, usavam o chinês clássico.
Os testemunhos mais remotos da Poesia Coreana são cantos religiosos das tribos que mencionamos acima, de conotação xamânica.
A partir do ano 668, surgem as poesias patrióticas.
O Budismo chega ao país, mais ou menos nessa época, acima referida, através de monges missionários chineses.
Considera-se o poeta e erudito monge budista coreano Kyun-´Vyo (917-973) como um dos pais da literatura de seu país.
Seu estilo lembra um pouco as poesias patrióticas, mas enfatizando o amor que supera as barreiras sociais, mescladas com as virtudes monásticas e as preces ao Buddha Amitabha, o Buddha da Luz Infinita, linhagem Terra Pura, predominante na Coréia.
Vyo destacava também o elogio da amizade, a arte de governar, os fenômenos celestes, cataclismos naturais nefastos que através de versos mágicos podiam ser exorcizados e, naturalmente, reverências aos antepassados.
Fonte: História das Literaturas Universais, editorial Estampa, Lisboa, 1974. Série original em alemão Die Literaturen Der Welt.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Gonzaga Duque
A professora doutora Vera Lins, da Faculdade de Letras, da UFRJ, realizou uma excelente pesquisa e resgatou para todos nós, leitores ávidos pela história da Literatura Brasileira, um nome que andava esquecido:
Luiz Gonzaga Duque-Estrada nasceu em 21 de junho de 1863, à rua do Sabão, na Cidade Nova, Rio de Janeiro, depois rua Visconde de Itaúna, que hoje não existe mais, incorporada ao novo traçado da Av. Presidente Vargas. De ascendência nórdica, por parte do pai, foi registrado pelo pai adotivo, José Joaquim da Rosa, com o sobrenome da mãe, Luiza Duque-Estrada.
A dor e a melancolia fizeram parte de sua vida, em que pesaram a perda de filhos, uma catarata nos dois olhos (que inutilizou-lhe a visão de um dos lados) e as dificuldades financeiras.
Sentindo-se mal, ao voltar para casa da redação da revista Fon-Fon, morreu do coração em 8 de março de 1911, às 3 horas da tarde.
Seus sonhos para o filho revelam seus ideais e projetos. Gonzaga Duque foi um intelectual que tentava manter vivos os valores de uma cultura que a técnica e o jornalismo massificantes arrasavam. Esse franco-atirador, amigo do debate, com um conhecimento largo e profundo da cultura brasileira e européia, hoje seria considerado um “cardeal”, herdeiro modernos dos monges, intercessor sagrado entre os homens e o saber, uma estirpe cada vez mais rara.
Em sua agenda, Gonzaga Duque anota em 1908:
“O desvio dos verdadeiros princípios socialistas já se anuncia. Indivíduos que não tem uma moral sólida se fazem apóstolos de novos ideais. Isto prova que na humanidade tudo é relativo, o ideal do supremo bem pela Justiça é uma mentira. Os próprios positivistas são intratáveis, secos e pedantes”.
- trechos do livro Gonzaga Duque – A Estratégia Do Franco Atirador, de Vera Lins, editora Tempo Brasileiro, páginas 26 a 28.
Luiz Gonzaga Duque-Estrada nasceu em 21 de junho de 1863, à rua do Sabão, na Cidade Nova, Rio de Janeiro, depois rua Visconde de Itaúna, que hoje não existe mais, incorporada ao novo traçado da Av. Presidente Vargas. De ascendência nórdica, por parte do pai, foi registrado pelo pai adotivo, José Joaquim da Rosa, com o sobrenome da mãe, Luiza Duque-Estrada.
A dor e a melancolia fizeram parte de sua vida, em que pesaram a perda de filhos, uma catarata nos dois olhos (que inutilizou-lhe a visão de um dos lados) e as dificuldades financeiras.
Sentindo-se mal, ao voltar para casa da redação da revista Fon-Fon, morreu do coração em 8 de março de 1911, às 3 horas da tarde.
Seus sonhos para o filho revelam seus ideais e projetos. Gonzaga Duque foi um intelectual que tentava manter vivos os valores de uma cultura que a técnica e o jornalismo massificantes arrasavam. Esse franco-atirador, amigo do debate, com um conhecimento largo e profundo da cultura brasileira e européia, hoje seria considerado um “cardeal”, herdeiro modernos dos monges, intercessor sagrado entre os homens e o saber, uma estirpe cada vez mais rara.
Em sua agenda, Gonzaga Duque anota em 1908:
“O desvio dos verdadeiros princípios socialistas já se anuncia. Indivíduos que não tem uma moral sólida se fazem apóstolos de novos ideais. Isto prova que na humanidade tudo é relativo, o ideal do supremo bem pela Justiça é uma mentira. Os próprios positivistas são intratáveis, secos e pedantes”.
- trechos do livro Gonzaga Duque – A Estratégia Do Franco Atirador, de Vera Lins, editora Tempo Brasileiro, páginas 26 a 28.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Primórdios da Literatura no Irã
Uma das civilizações mais antigas da humanidade.
No segundo milênio antes de Cristo, na parte setentrional do Irã já se conhecia uma forma rudimentar de escrita cuneiforme.
E na parte Oriental já havia literatura oral: profana e religiosa.
O Império Persa dos Aquemênidas (600-300 antes de Cristo) estendeu-se desde a antiga Mesopotâmia até a Índia, do Mar Cáspio ao Golfo Pérsico. Abrangia grande parte do continente asiático.
A literatura profana constitui-se de registros dos reis aquemênidas e seus feitos.
É nessa época que surge o Profeta e Reformador Religioso Zaratustra. Suas pregações depois são compiladas no famoso livro Zend-Avesta, o estilo lembra um pouco os Rig-Vedas, os mais antigos Vedas da Índia.
A dinastia dos aquemênidas termina com a chegada de Alexandre, o Grande, trazendo a cultura grega. Mas, curiosamente, ao sair da Índia, Alexandre deixa nessa vasta região o “governador” Menandro que gostava de filosofia.
Culturalmente falando o Budismo já era uma forte presença nessa região, século dois antes de Cristo, e surge então um famoso livro: As perguntas do Rei Milinda, que retrata o diálogo entre este “governador” Menandro e o monge budista Nagasena. Milinda é a pronúncia do nome grego Menandro.
Ou seja, a literatura iraniana contemporânea tem como base o Zend-Avesta de Zaratustra e As Perguntas do Rei Milinda, um clássico do budismo.
- fonte: História das Literaturas Universais, Editorial Estampa, 1974. Textos a partir do original alemão Die Literaturen Der Welt.
No segundo milênio antes de Cristo, na parte setentrional do Irã já se conhecia uma forma rudimentar de escrita cuneiforme.
E na parte Oriental já havia literatura oral: profana e religiosa.
O Império Persa dos Aquemênidas (600-300 antes de Cristo) estendeu-se desde a antiga Mesopotâmia até a Índia, do Mar Cáspio ao Golfo Pérsico. Abrangia grande parte do continente asiático.
A literatura profana constitui-se de registros dos reis aquemênidas e seus feitos.
É nessa época que surge o Profeta e Reformador Religioso Zaratustra. Suas pregações depois são compiladas no famoso livro Zend-Avesta, o estilo lembra um pouco os Rig-Vedas, os mais antigos Vedas da Índia.
A dinastia dos aquemênidas termina com a chegada de Alexandre, o Grande, trazendo a cultura grega. Mas, curiosamente, ao sair da Índia, Alexandre deixa nessa vasta região o “governador” Menandro que gostava de filosofia.
Culturalmente falando o Budismo já era uma forte presença nessa região, século dois antes de Cristo, e surge então um famoso livro: As perguntas do Rei Milinda, que retrata o diálogo entre este “governador” Menandro e o monge budista Nagasena. Milinda é a pronúncia do nome grego Menandro.
Ou seja, a literatura iraniana contemporânea tem como base o Zend-Avesta de Zaratustra e As Perguntas do Rei Milinda, um clássico do budismo.
- fonte: História das Literaturas Universais, Editorial Estampa, 1974. Textos a partir do original alemão Die Literaturen Der Welt.
domingo, 14 de junho de 2009
Poeta Mexicano ganha Prêmio na Espanha
O autor da poesia, abaixo transcrita, é José Emilio Pacheco, nascido na cidade do México, em 30 de junho de 1939. No final deste mês estará completando 70 anos, desde já os nossos efusivos parabéns. Pelo aniversário vindouro e pelo Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, que recebeu no último dia 07/05/2009, pelo conjunto de sua importante obra, em cerimônia no Palácio Real, Madrid, promovido pela Universidade de Salamanca.
Las Palabras de Buda
Todo el mundo está en llamas: lo visible
Arde y el ojo en llamas interroga.
Arde el fuego del ódio.
Arde la usura.
Arden el nascimiento y la caída
Arde el dolor.
Ell llanto, el sufrimiento
Arden también.
La pesadumbre es llama.
Y una hoguera es la angustia
En la que arden
Todas las cosas:
Llama,
Arden las llamas,
Arden las llamas,
Mundo y fuego, mira
La hoja al viento, tan triste, de la hoguera.
- Pacheco inspirou-se no conhecido Sutra do Fogo, de Sidarta Gautama, o Buda, e poeticamente nos fala desse conturbado planeta.
- A poesia acima foi publicada na revista de literatura Camp de l´arpa, nº 74, abril de 1980, Barcelona.
Las Palabras de Buda
Todo el mundo está en llamas: lo visible
Arde y el ojo en llamas interroga.
Arde el fuego del ódio.
Arde la usura.
Arden el nascimiento y la caída
Arde el dolor.
Ell llanto, el sufrimiento
Arden también.
La pesadumbre es llama.
Y una hoguera es la angustia
En la que arden
Todas las cosas:
Llama,
Arden las llamas,
Arden las llamas,
Mundo y fuego, mira
La hoja al viento, tan triste, de la hoguera.
- Pacheco inspirou-se no conhecido Sutra do Fogo, de Sidarta Gautama, o Buda, e poeticamente nos fala desse conturbado planeta.
- A poesia acima foi publicada na revista de literatura Camp de l´arpa, nº 74, abril de 1980, Barcelona.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Erasmo de Roterdan
“Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida”.
- a frase acima é de Desiderius Erasmus von Rotterdam (1466-1536) que ficou conhecido como Erasmo de Roterdan, autor do clássico Elogio da Loucura, publicado em 1509.
- um dos primeiros e maiores humanistas do Renascimento. Estudou Teologia, filósofo, pensador. Era um brincalhão e, com o seu humor irreverente, costumava escrever sátiras ridicularizando algumas complexidades da prática religiosa e Teologia Escolástica.
- Lutero inspirou-se nele para iniciar a Reforma.
Vejamos outras belas frases:
“Deve-se respeitar o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar um inferno”.
“Cada momento da vida seria triste, fastidioso, insípido, aborrecido, se não houvesse prazer, se não fosse animado pelo tempero da loucura”.
“A pior das loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato em um mundo de loucos”.
“Em grande parte, os maridos, são como as mulheres os fazem”.
“É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes”.
“Os grandes escritores nunca foram feitos para suportar as leis dos gramáticos, mas sim para impor a sua”.
“Não há nada de tão absurdo que o hábito não torne aceitável”.
“Rir de tudo é coisa de tontos, não rir de nada é coisa de estúpido”,
- a frase acima é de Desiderius Erasmus von Rotterdam (1466-1536) que ficou conhecido como Erasmo de Roterdan, autor do clássico Elogio da Loucura, publicado em 1509.
- um dos primeiros e maiores humanistas do Renascimento. Estudou Teologia, filósofo, pensador. Era um brincalhão e, com o seu humor irreverente, costumava escrever sátiras ridicularizando algumas complexidades da prática religiosa e Teologia Escolástica.
- Lutero inspirou-se nele para iniciar a Reforma.
Vejamos outras belas frases:
“Deve-se respeitar o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar um inferno”.
“Cada momento da vida seria triste, fastidioso, insípido, aborrecido, se não houvesse prazer, se não fosse animado pelo tempero da loucura”.
“A pior das loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato em um mundo de loucos”.
“Em grande parte, os maridos, são como as mulheres os fazem”.
“É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes”.
“Os grandes escritores nunca foram feitos para suportar as leis dos gramáticos, mas sim para impor a sua”.
“Não há nada de tão absurdo que o hábito não torne aceitável”.
“Rir de tudo é coisa de tontos, não rir de nada é coisa de estúpido”,
sábado, 30 de maio de 2009
Caminhocracia
Diariamente leio abalizados colunistas e, vez por outra, escrevem que não há democracia perfeita, tem as suas falhas, mas é o melhor dos regimes.
Lembro que na saudosa Faculdade de Letras da UFRJ, ali na antiga Avenida Chile, no centro do Rio, onde hoje estão construindo dois imponentes prédios, a professora de Grego nos esclarecia que, nascida na Grécia, a democracia admitia a existência de escravos.
Dito e feito, até hoje, temos, em qualquer parte do mundo, um país escravizando o outro econômica ou politicamente. Os governos escravizando os seus súditos, digo eleitores das mais diversas formas, ou seja, formas contemporâneas de escravidão.
Em pleno Terceiro Milênio estamos então lançando a Caminhocracia, cujo lema são os belos versos do poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) “Caminhante, não há caminho, o Caminho se faz ao caminhar”.
Penso que vai ser bem mais salutar, sa-lutar. Lutaremos todos, pacificamente, saudavelmente, para construirmos o Caminho necessário para se evitar as tais falhas que a democracia tem até hoje.
E a mudança, começamos logo, pela sala de visitas, criativamente criando o neologismo Caminhocracia, até porque, o caminhão da transportadora, digo transmutadora já está lá na porta esperando.
Contudo, se algum(a) humorista quiser aprimorar a Carinhocracia, também está criado o neologismo.
Lembro que na saudosa Faculdade de Letras da UFRJ, ali na antiga Avenida Chile, no centro do Rio, onde hoje estão construindo dois imponentes prédios, a professora de Grego nos esclarecia que, nascida na Grécia, a democracia admitia a existência de escravos.
Dito e feito, até hoje, temos, em qualquer parte do mundo, um país escravizando o outro econômica ou politicamente. Os governos escravizando os seus súditos, digo eleitores das mais diversas formas, ou seja, formas contemporâneas de escravidão.
Em pleno Terceiro Milênio estamos então lançando a Caminhocracia, cujo lema são os belos versos do poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) “Caminhante, não há caminho, o Caminho se faz ao caminhar”.
Penso que vai ser bem mais salutar, sa-lutar. Lutaremos todos, pacificamente, saudavelmente, para construirmos o Caminho necessário para se evitar as tais falhas que a democracia tem até hoje.
E a mudança, começamos logo, pela sala de visitas, criativamente criando o neologismo Caminhocracia, até porque, o caminhão da transportadora, digo transmutadora já está lá na porta esperando.
Contudo, se algum(a) humorista quiser aprimorar a Carinhocracia, também está criado o neologismo.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Arvorania - Cidadania das Árvores
Árvores são pessoas, do reino vegetal. Existem pessoas do reino mineral, pessoas do reino animal racional e pessoas do reino animal irracional.
Foi o antropocentrismo que inventou que o homem é o centro do universo. E com isso o homem ignorou a mulher, ao longo dos séculos. Foi preciso chegar o feminismo, só no século XX para começar a restaurar as coisas.
O antropocentrismo também inventou guerras, bomba atômica, poluição, devastação das florestas, exploração econômica, política e social de um grupo sobre o outro, de um país contra outro e lamentáveis tragédias atuais.
O antropocentrismo também inventou, entre suas mazelas, o racismo; e na época da escravidão afirmavam que os índios e os negros não tinham alma.
Agora, surge na Escócia um movimento ecológico onde as pessoas falam e conversam com as árvores. Na Tailândia, praticantes budistas vestem as árvores com os mantos dos monges e as reverenciam como se fossem iluminadas, e de fato são.
Mas isso não é novidade, desde os anos 1970, a Literatura Brasileira tem um ótimo livro chamado “O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos, onde um menino conversa com a cítrica árvore. Diga-se de passagem que a equivocada e elitista crítica ignorou, solenemente, este grande autor.
Na civilização das árvores, que está em extinção, nunca houve violência.
Pode-se argumentar que não há lógica, pois a civilização consiste no realizar, no fazer, no transformar humano. Ora, Antropocentrismo e Lógica formam um casal poluidor. Ainda bem que os filhos: lógica contemporânea, não-lógica, qual-lógica, lógica de quem, lógica para quem começam a questionar.
É da Escócia também, que vem o excelente O Chamado das Árvores, de Dorothy Maclean, editora Irdin, 168 páginas. A sexagenária autora conversa, ouve, medita e reza com as árvores.
Também não é novidade, desde o século VI antes de Cristo, o Buda, em seus mais antigos pronunciamentos também conversava, meditava e ensinava não só ao reino vegetal, como aos espíritos que moram nas árvores.
Mas é bem provável que o citado casal: Antropocentrismo e Lógica, julgue tudo isso, ficção, algo que só existe no maravilhoso Reino da Literatura.
Foi o antropocentrismo que inventou que o homem é o centro do universo. E com isso o homem ignorou a mulher, ao longo dos séculos. Foi preciso chegar o feminismo, só no século XX para começar a restaurar as coisas.
O antropocentrismo também inventou guerras, bomba atômica, poluição, devastação das florestas, exploração econômica, política e social de um grupo sobre o outro, de um país contra outro e lamentáveis tragédias atuais.
O antropocentrismo também inventou, entre suas mazelas, o racismo; e na época da escravidão afirmavam que os índios e os negros não tinham alma.
Agora, surge na Escócia um movimento ecológico onde as pessoas falam e conversam com as árvores. Na Tailândia, praticantes budistas vestem as árvores com os mantos dos monges e as reverenciam como se fossem iluminadas, e de fato são.
Mas isso não é novidade, desde os anos 1970, a Literatura Brasileira tem um ótimo livro chamado “O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos, onde um menino conversa com a cítrica árvore. Diga-se de passagem que a equivocada e elitista crítica ignorou, solenemente, este grande autor.
Na civilização das árvores, que está em extinção, nunca houve violência.
Pode-se argumentar que não há lógica, pois a civilização consiste no realizar, no fazer, no transformar humano. Ora, Antropocentrismo e Lógica formam um casal poluidor. Ainda bem que os filhos: lógica contemporânea, não-lógica, qual-lógica, lógica de quem, lógica para quem começam a questionar.
É da Escócia também, que vem o excelente O Chamado das Árvores, de Dorothy Maclean, editora Irdin, 168 páginas. A sexagenária autora conversa, ouve, medita e reza com as árvores.
Também não é novidade, desde o século VI antes de Cristo, o Buda, em seus mais antigos pronunciamentos também conversava, meditava e ensinava não só ao reino vegetal, como aos espíritos que moram nas árvores.
Mas é bem provável que o citado casal: Antropocentrismo e Lógica, julgue tudo isso, ficção, algo que só existe no maravilhoso Reino da Literatura.
sábado, 16 de maio de 2009
O Binóculo
Li hoje, na edição on line, da revista Época, que o Pentágono americano (esclareço a nacionalidade, pois na Cidade Maravilhosa há um colégio de ensino médio de mesmo nome, que talvez não tenha nada a ver com a instituição que fica nos EUA, mas sim com a figura que aprendemos em geometria) está investindo uma fortuna, aos meus olhos, para inventarem um binóculo capaz de ler os pensamentos do inimigo, do adversário ou coisa que o valha.
Como os meus pensamentos andam a mil, já estou imaginando a invenção dando certo e propagando-se pelo planeta: os camelôs vendendo na esquina, homens e mulheres se olhando mutuamente nos transportes públicos, cada um descobrindo os pensamentos dos outros, a China produzindo o referido em massa e inundando os mercados mundiais, os eleitores olhando os políticos com este binóculo, enfim, maravilha das transparências !
As polícias esclareceriam rapidamente os crimes e a justiça seria bem mais rápida. A criminalidade iria diminuir bastante: as vítimas já perceberiam no inconsciente ou subconsciente dos seus candidatos a algozes, as tentativas de crimes, e sairiam correndo, ou desviariam do sujeito, enfim, um mundo de paz estaria próximo.
Brincadeiras a parte, torço mesmo, com toda sinceridade pelo sucesso do invento, visto que, mais uma vez, a ciência estaria ou melhor, estará confirmando as sábias palavras do meu querido e dileto amigo Buda, quando, no século VI antes de Cristo, afirmou que tudo, nasce primeiro na mente.
Proponho até, já um nome para este importante objeto: Budóculo. Claro, mistura de binóculo com Buda. Ou se preferirem, o olho de Buda, ou então Terceira Visão Portátil.
E tal como os celulares, relógios de pulso etc. Cada um teria ou terá o seu Ajna Chacra (o nome em sânscrito da Terceira Visão) personalizado.
E viva o futuro ! Pode parecer tolice mas, os meus saltitantes pensamentos estão gostando do tema.
Como os meus pensamentos andam a mil, já estou imaginando a invenção dando certo e propagando-se pelo planeta: os camelôs vendendo na esquina, homens e mulheres se olhando mutuamente nos transportes públicos, cada um descobrindo os pensamentos dos outros, a China produzindo o referido em massa e inundando os mercados mundiais, os eleitores olhando os políticos com este binóculo, enfim, maravilha das transparências !
As polícias esclareceriam rapidamente os crimes e a justiça seria bem mais rápida. A criminalidade iria diminuir bastante: as vítimas já perceberiam no inconsciente ou subconsciente dos seus candidatos a algozes, as tentativas de crimes, e sairiam correndo, ou desviariam do sujeito, enfim, um mundo de paz estaria próximo.
Brincadeiras a parte, torço mesmo, com toda sinceridade pelo sucesso do invento, visto que, mais uma vez, a ciência estaria ou melhor, estará confirmando as sábias palavras do meu querido e dileto amigo Buda, quando, no século VI antes de Cristo, afirmou que tudo, nasce primeiro na mente.
Proponho até, já um nome para este importante objeto: Budóculo. Claro, mistura de binóculo com Buda. Ou se preferirem, o olho de Buda, ou então Terceira Visão Portátil.
E tal como os celulares, relógios de pulso etc. Cada um teria ou terá o seu Ajna Chacra (o nome em sânscrito da Terceira Visão) personalizado.
E viva o futuro ! Pode parecer tolice mas, os meus saltitantes pensamentos estão gostando do tema.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
A Arte da Gravura
A artista plástica Heloisa Pires Ferreira, suas gravuras, sua vida dedicada à arte, ao longo dos últimos 50 anos, e seus bordados foram tema do mais recente número da importante revista acadêmica publicada pela USP – Universidade de São Paulo, trata-se da edição 48, março de 2009, Revista do Instituto de Estudos Brasileiros.
São 30 páginas e mais 20 fotografias coloridas de trabalhos da citada artista organizadas pelos professores doutores Leon Kossovitch e Mayra Laudanna.
Palavras chave: artes, estética, gravura, bordado, linguagem.
Resumo: Apresenta-se aqui, a obra e a linguagem de Heloisa Pires Ferreira a partir de suas gravuras e tecidos, assim como de diversas entrevistas concedidas pela artista.
A aluna da USP, Paula Galasso, em sua monografia, no final da graduação, enfocou a vida e a obra da referida artista.
Em 2003, o livro Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, editora Ática, teve como capa uma gravura da artista. Na página 110, ao falar de Silogismo, o texto é ilustrado novamente com a gravura e a legenda: “Sol negro, de 1978, gravura de Heloisa Pires Ferreira que serve como exemplo visual de silogismo: o quadrado externo seria a premissa maior, e o círculo negro, a premissa menor. No centro, a conclusão”.
São 30 páginas e mais 20 fotografias coloridas de trabalhos da citada artista organizadas pelos professores doutores Leon Kossovitch e Mayra Laudanna.
Palavras chave: artes, estética, gravura, bordado, linguagem.
Resumo: Apresenta-se aqui, a obra e a linguagem de Heloisa Pires Ferreira a partir de suas gravuras e tecidos, assim como de diversas entrevistas concedidas pela artista.
A aluna da USP, Paula Galasso, em sua monografia, no final da graduação, enfocou a vida e a obra da referida artista.
Em 2003, o livro Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, editora Ática, teve como capa uma gravura da artista. Na página 110, ao falar de Silogismo, o texto é ilustrado novamente com a gravura e a legenda: “Sol negro, de 1978, gravura de Heloisa Pires Ferreira que serve como exemplo visual de silogismo: o quadrado externo seria a premissa maior, e o círculo negro, a premissa menor. No centro, a conclusão”.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O Capitalismo de Desastre
Em um artigo no site Entre Textos (www.dilsonlages.com.br), um leitor me questionou porque eu falava mal do capitalismo. Democraticamente respondi e o parabenizei, porque expressou o seu pensamento, ainda que discordante do meu.
Mas agora, o texto abaixo não é meu. É apenas uma micro-resenha. Inclusive o título, trata-se, na verdade, do livro A Doutrina do Choque, cujo subtítulo é “A Ascensão do Capitalismo de Desastre”, de autoria da jornalista canadense Naomi Klein, editora Nova Fronteira, 592 páginas. Confira www.novafronteira.com.br/adoutrinadochoque
A autora, que ficou famosa por estar à frente do chamado “movimento antiglobalização”, defende a tese de que estamos assistindo à ascensão do “capitalismo de desastre”, uma mutação do velho colonialismo que encontra nas tragédias ocorridas em países em desenvolvimento uma ótima oportunidade para aumentar a margem de lucro das corporações.
Naomi Kleian também é autora de outro polêmico livro: “Sem logo: A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido”.
Depois do caos, o lucro... informa o anúncio da editora.
Mas agora, o texto abaixo não é meu. É apenas uma micro-resenha. Inclusive o título, trata-se, na verdade, do livro A Doutrina do Choque, cujo subtítulo é “A Ascensão do Capitalismo de Desastre”, de autoria da jornalista canadense Naomi Klein, editora Nova Fronteira, 592 páginas. Confira www.novafronteira.com.br/adoutrinadochoque
A autora, que ficou famosa por estar à frente do chamado “movimento antiglobalização”, defende a tese de que estamos assistindo à ascensão do “capitalismo de desastre”, uma mutação do velho colonialismo que encontra nas tragédias ocorridas em países em desenvolvimento uma ótima oportunidade para aumentar a margem de lucro das corporações.
Naomi Kleian também é autora de outro polêmico livro: “Sem logo: A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido”.
Depois do caos, o lucro... informa o anúncio da editora.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Obama e o Lingüista
O Portal Vermelho, do PC do B, (www.vermelho.org.br) que é da base aliada do governo Lula, traz uma entrevista com o conceituado lingüista norte americano Noam Chomsky. A entrevista foi publicada originalmente no jornal Rússia Today e, entre outras, o conhecido escritor declara: “Em minha opinião, Obama parece mais violento e agressivo que Bush... Os EUA precisam da OTAN para expandir a guerra...”.
O citado portal informa que “o professor Chomsky é um encarniçado crítico da OTAN e da política dos EUA”.
- A matéria lembra um ótimo artigo do professor Rogel Samuel, publicado em Entre Textos (www.dilsonlages.com.br) com o título “Obama vai a guerra”.
- um dos problemas de se levar tropas da OTAN para o Afeganistão é que a guerra pode explodir no colo da Europa. Resta saber se os europeus querem isso.
O citado portal informa que “o professor Chomsky é um encarniçado crítico da OTAN e da política dos EUA”.
- A matéria lembra um ótimo artigo do professor Rogel Samuel, publicado em Entre Textos (www.dilsonlages.com.br) com o título “Obama vai a guerra”.
- um dos problemas de se levar tropas da OTAN para o Afeganistão é que a guerra pode explodir no colo da Europa. Resta saber se os europeus querem isso.
domingo, 5 de abril de 2009
Salve Artur da Távola
Salve Artur da Távola, as pessoas estão dizendo que você morreu, mas nós, budisticamente, sabemos que você continua vivo, e bem vivo, na dimensão espiritual em que agora se encontra.
Lembro de você, Artur, no antigo Auditório Gil Vicente, da antiga Faculdade de Letras, da UFRJ, na antiga Avenida Chile, onde hoje estão construindo dois espigões.
Lembro de você, nesse auditório, fazendo palestras para nós, estudantes de Literatura Brasileira, em diálogos literários e lingüísticos e entre outras, criativamente, nos declarando que, uma das funções do escritor é “levantar a saia da palavra para ver o que está escondido ali” tal e qual um menino descobrindo os primeiros prazeres.
Lembro de você em conversas com o CA, o Centro Acadêmico, nos primeiros encontros pró Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
Lembro de você quando Leonel Brizola voltou do exílio e o repórter perguntou ou comentou algo sobre Artur da Távola e o depois governador eleito disse que conhecia Paulo Alberto, uma referência a você quando era deputado e foi cassado pelas posições nacionalistas.
Lembro de você em recente crônica no jornal O Dia, com o título: “Tal como o petróleo, o bondinho é nosso”, associando a histórica campanha dos anos 50: “O Petróleo é Nosso”, com a heróica luta da Amast – Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, RJ, pró-bondinho-social.
Lembro de você nos memoráveis, educativos e excelentes programas da Rádio MEC sobre música clássica, a vida e a obra dos grandes compositores.
Salve Artur, por essas e por outras é que, budisticamente, reafirmamos, você continua vivo e bem vivo, na dimensão espiritual em que agora se encontra.
Obrigado, reverências, muita paz e muita luz !
- texto publicado originalmente no boletim “Adote Uma Árvore” que circula no bairro carioca de Santa Teresa, em maio de 2008, ocasião do falecimento deste grande brasileiro.
Lembro de você, Artur, no antigo Auditório Gil Vicente, da antiga Faculdade de Letras, da UFRJ, na antiga Avenida Chile, onde hoje estão construindo dois espigões.
Lembro de você, nesse auditório, fazendo palestras para nós, estudantes de Literatura Brasileira, em diálogos literários e lingüísticos e entre outras, criativamente, nos declarando que, uma das funções do escritor é “levantar a saia da palavra para ver o que está escondido ali” tal e qual um menino descobrindo os primeiros prazeres.
Lembro de você em conversas com o CA, o Centro Acadêmico, nos primeiros encontros pró Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
Lembro de você quando Leonel Brizola voltou do exílio e o repórter perguntou ou comentou algo sobre Artur da Távola e o depois governador eleito disse que conhecia Paulo Alberto, uma referência a você quando era deputado e foi cassado pelas posições nacionalistas.
Lembro de você em recente crônica no jornal O Dia, com o título: “Tal como o petróleo, o bondinho é nosso”, associando a histórica campanha dos anos 50: “O Petróleo é Nosso”, com a heróica luta da Amast – Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, RJ, pró-bondinho-social.
Lembro de você nos memoráveis, educativos e excelentes programas da Rádio MEC sobre música clássica, a vida e a obra dos grandes compositores.
Salve Artur, por essas e por outras é que, budisticamente, reafirmamos, você continua vivo e bem vivo, na dimensão espiritual em que agora se encontra.
Obrigado, reverências, muita paz e muita luz !
- texto publicado originalmente no boletim “Adote Uma Árvore” que circula no bairro carioca de Santa Teresa, em maio de 2008, ocasião do falecimento deste grande brasileiro.
sábado, 28 de março de 2009
Às Beldades Paraibanas
O título acima é do grande poeta brasileiro Augusto dos Anjos (1884-1914). Ele afirmava que a beleza da mulher paraibana é “filha única do Céu” e costumava cantar em versos “a graça, a beleza e o fulgor da mulher de sua terra”.
Tais poesias foram publicadas em um “famoso jornalzinho mundano”, o Nonevar, em 1907. O nome deriva-se dos “nove dias de festejos de Nossa Senhora das Neves”.
São várias poesias e várias homenageadas. Vejamos uma:
Pupu F.
Quando ela vem, cheirando a nardo santo
Luminosa coluna no ar se eleva
E o reino demoníaco da treva
Desaparece como por encanto.
Força é que extraordinária ode encomiástica
Melhor que o Pean e o canto das sereias
Celebre suas régias graças, cheias
Dos magníficos dons da força plástica.
E tudo ante ela, envolta em nítido halo,
Como uma subserviente vassalagem
Venha trazer-lhe, à guisa de homenagem,
A alma reconhecida de vassalo.
A publicação citada mais abaixo traz a foto de Leopoldina Fernandes, “na intimidade Pupu”, esclarece ainda que ela era “de estatura mediana, tinha os olhos miúdos e claros como os seus cabelos. Inteligente, refletida, plena de ternura, seu trato confirmava, integralmente o apotegma do filósofo de As Confissões: - o bom não é senão o belo posto em ação”.
Curiosamente, o paraibano Augusto dos Anjos, faleceu na cidade de Leopoldina, MG, cidade de mesmo nome de sua homenageada.
(as informações acima estão em Poesias de Augusto dos Anjos Às Beldades Paraibanas, da historiadora Célia Câmara Ribeiro, em 1994. Sua interessante pesquisa teve como base um outro livro, Augusto dos Anjos e Sua Época, de Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, reitor da Universidade Federal da Paraíba, em 1962).
Tais poesias foram publicadas em um “famoso jornalzinho mundano”, o Nonevar, em 1907. O nome deriva-se dos “nove dias de festejos de Nossa Senhora das Neves”.
São várias poesias e várias homenageadas. Vejamos uma:
Pupu F.
Quando ela vem, cheirando a nardo santo
Luminosa coluna no ar se eleva
E o reino demoníaco da treva
Desaparece como por encanto.
Força é que extraordinária ode encomiástica
Melhor que o Pean e o canto das sereias
Celebre suas régias graças, cheias
Dos magníficos dons da força plástica.
E tudo ante ela, envolta em nítido halo,
Como uma subserviente vassalagem
Venha trazer-lhe, à guisa de homenagem,
A alma reconhecida de vassalo.
A publicação citada mais abaixo traz a foto de Leopoldina Fernandes, “na intimidade Pupu”, esclarece ainda que ela era “de estatura mediana, tinha os olhos miúdos e claros como os seus cabelos. Inteligente, refletida, plena de ternura, seu trato confirmava, integralmente o apotegma do filósofo de As Confissões: - o bom não é senão o belo posto em ação”.
Curiosamente, o paraibano Augusto dos Anjos, faleceu na cidade de Leopoldina, MG, cidade de mesmo nome de sua homenageada.
(as informações acima estão em Poesias de Augusto dos Anjos Às Beldades Paraibanas, da historiadora Célia Câmara Ribeiro, em 1994. Sua interessante pesquisa teve como base um outro livro, Augusto dos Anjos e Sua Época, de Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, reitor da Universidade Federal da Paraíba, em 1962).
segunda-feira, 23 de março de 2009
Grande Bagno
O português brasileiro é “chegou a hora da onça beber água”, não “de a onça beber água”.
É preciso acabar com a cultura do erro.
Não existe forma mais nobre ou mais inferior de usar a língua.
Eu estou no computador, não “eu estou ao computador”.
As línguas se transformam, mudam nem pra melhor, nem pra pior, simplesmente mudam.
Tudo o que existe na língua tem a ver com quem fala a língua.
A suposta concordância: não se fazem mais filmes como antigamente. Isso é uma loucura, é invenção de gramático.
Qualquer criança brasileira fala esplendorosamente bem o português brasileiro.
Pela linguagem científica não há diferença entre nós vamos e nós vai.
O vestibular é uma catástrofe.
Então o brasileiro que fala Cráudia, chicrete, Rede Grobo está simplesmente seguindo uma tendência milenar da língua portuguesa.
A pessoa fala Rede Grobo ou chicrete porque, do ponto de vista da articulação fonética, a articulação da língua, dos órgãos permite, é mais fácil falar assim.
Se você pegar todos os falantes não escolarizados, eles vão falar Grobo, Framengo, ingrês, porque é assim a tendência natural da língua.
As frases acima são de Marcos Bagno, professor doutor em Lingüística pela USP – Universidade de São Paulo. Fazem parte de uma ótima entrevista que ele concedeu à revista Caros Amigos, nº 131, fevereiro de 2008.
Seu livro mais conhecido, Preconceito Lingüístico, Edições Loyola, informa a revista, já passou da 49ª edição. Logo no ínício, página 9, ele afirma que: “tratar da língua é tratar de um tema político”.
Parabéns Bagno, um dos grandes brasileiros da atualidade !
É preciso acabar com a cultura do erro.
Não existe forma mais nobre ou mais inferior de usar a língua.
Eu estou no computador, não “eu estou ao computador”.
As línguas se transformam, mudam nem pra melhor, nem pra pior, simplesmente mudam.
Tudo o que existe na língua tem a ver com quem fala a língua.
A suposta concordância: não se fazem mais filmes como antigamente. Isso é uma loucura, é invenção de gramático.
Qualquer criança brasileira fala esplendorosamente bem o português brasileiro.
Pela linguagem científica não há diferença entre nós vamos e nós vai.
O vestibular é uma catástrofe.
Então o brasileiro que fala Cráudia, chicrete, Rede Grobo está simplesmente seguindo uma tendência milenar da língua portuguesa.
A pessoa fala Rede Grobo ou chicrete porque, do ponto de vista da articulação fonética, a articulação da língua, dos órgãos permite, é mais fácil falar assim.
Se você pegar todos os falantes não escolarizados, eles vão falar Grobo, Framengo, ingrês, porque é assim a tendência natural da língua.
As frases acima são de Marcos Bagno, professor doutor em Lingüística pela USP – Universidade de São Paulo. Fazem parte de uma ótima entrevista que ele concedeu à revista Caros Amigos, nº 131, fevereiro de 2008.
Seu livro mais conhecido, Preconceito Lingüístico, Edições Loyola, informa a revista, já passou da 49ª edição. Logo no ínício, página 9, ele afirma que: “tratar da língua é tratar de um tema político”.
Parabéns Bagno, um dos grandes brasileiros da atualidade !
quinta-feira, 19 de março de 2009
Goethe e o Oriente
Por incrível que pareça, cheguei a ter conhecimento dos princípios filosóficos do Livro das Transmutações (I Ching) a partir dos meus estudos a respeito do Fausto, de Goethe, quando em 1957, trabalhava na minha tese de doutoramento, pesquisando fontes orientais traduzidas para o alemão, na Biblioteca da velha e monumental Universidade de Tubingen, Alemanha.
Parece não ser preciso investigar se Goethe teve ou não acesso ao milenar livro da sabedoria chinesa. Basta saber que, como disse Pedro de Almeida Moura, o grande clássico alemão andou pelo Oriente, em longas e reflexivas viagens espirituais, trazendo de lá intermináveis assuntos de meditação.
Os parágrafos acima fazem parte da apresentação que Delton de Mattos, doutor em Letras, fez para a edição brasileira do I Ching, editora Record, 1968.
Verificando outro livro, O Olho do Furacão, de autoria do professor, engenheiro, escritor e monge budista Murilo Nunes de Azevedo, já falecido, ele afirma nas páginas 14 e 15:
“Em 1789, Wilson Jones apresenta a versão do poema de Halidasa, Shakuntala (texto clássico da Índia). Esse poema, traduzido para o alemão, arrebatou Goethe e Herder. A admiração de Goethe ficou expressa nos seguintes versos:
“Aspiras por flores frescas e frutos maduros, e por tudo
Que encanta e deleita a alma?
Queres, com uma palavra reunir o céu e a terra?
Em teu nome, ó Shakuntala, tudo se diz de uma só vez !”
O prólogo do Fausto, onde conversam o diretor de cena, o autor e um palhaço, foi evidentemente, inspirado no prólogo do drama sânscrito”.
O Olho do Furacão foi publicado em 1973 pela Editora Civilização Brasileira.
Parece não ser preciso investigar se Goethe teve ou não acesso ao milenar livro da sabedoria chinesa. Basta saber que, como disse Pedro de Almeida Moura, o grande clássico alemão andou pelo Oriente, em longas e reflexivas viagens espirituais, trazendo de lá intermináveis assuntos de meditação.
Os parágrafos acima fazem parte da apresentação que Delton de Mattos, doutor em Letras, fez para a edição brasileira do I Ching, editora Record, 1968.
Verificando outro livro, O Olho do Furacão, de autoria do professor, engenheiro, escritor e monge budista Murilo Nunes de Azevedo, já falecido, ele afirma nas páginas 14 e 15:
“Em 1789, Wilson Jones apresenta a versão do poema de Halidasa, Shakuntala (texto clássico da Índia). Esse poema, traduzido para o alemão, arrebatou Goethe e Herder. A admiração de Goethe ficou expressa nos seguintes versos:
“Aspiras por flores frescas e frutos maduros, e por tudo
Que encanta e deleita a alma?
Queres, com uma palavra reunir o céu e a terra?
Em teu nome, ó Shakuntala, tudo se diz de uma só vez !”
O prólogo do Fausto, onde conversam o diretor de cena, o autor e um palhaço, foi evidentemente, inspirado no prólogo do drama sânscrito”.
O Olho do Furacão foi publicado em 1973 pela Editora Civilização Brasileira.
domingo, 15 de março de 2009
Entrevista ao site Entre Textos
Entrevista ao site Entre Textos = www.dilsonlages.com.br
Dílson Lages: Para justificar a escolha da metodologia empregada para estudar o texto literário, o senhor recorre às influências da cultura oriental sobre filósofos da linguagem. Essas influências se construíram ao seu ver, motivadas precisamente por quê?
Antonio Carlos Rocha: Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui, colaborando com este site. Você e os demais que escrevem estão todos de parabéns. Bem, eu já me dedico ao estudo e pesquisa da cultura oriental há 40 anos. Com o passar do tempo fui verificando que tais estudos, no exterior também eram aplicados em termos acadêmicos. Nomeadamente, fui verificando que nos EUA, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha e em outros países, uns chamavam de Pensamento Asiático, outros de Estudos Orientais, Filosofia Indiana, Filosofia Chinesa e isso foi me confortando pois eu queria aplicar tais estudos ao campo das Letras, que é a minha formação. No início tive uma certa dificuldade pois alguns professores julgavam ser alienação a minha pesquisa, pensavam que se tratava de moda ou de esoterismo superficial, mas foi só no começo, com o passar do tempo não apenas aceitaram, mas também incentivaram, me abriram portas e horizontes, viram que era algo sério e inovador em termos de Brasil. Diga-se de passagem que, em termos de Brasil, a originalidade se deve à Cecília Meireles, nossa grande escritora, jornalista e poeta da Literatura Brasileira. Ela foi a pioneira. Em 1935, Cecília foi professora de Literatura Oriental, na antiga UDF - Universidade do Distrito Federal, hoje a UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde estou realizando o meu pós-doutorado, justamente sobre esta face "oriental" da Cecília Meireles.
Quando eu ainda estava na Graduação, numa aula de Teoria Literária, em 1978, o professor começou a falar de Martin Heidegger, o grande pensador alemão do século XX, e eu percebi que ali, no pensamento, na vida e na obra de Heidegger tinha algo a ver com o Oriente. Foi uma intuição. Comecei então a esboçar uma "leitura zen" da Literatura e da Arte. Fui então compilando e catalogando nomes significativos que tratavam do tema. Por exemplo, o grande Umberto Eco, em seu livro Obra Aberta, ele tem um extenso capítulo sobre o Zen e o Ocidente. Além dele, fui vendo que grandes pensadores, escritores, filósofos e teóricos do Ocidente estavam estudando e pesquisando sobre o Pensamento Asiático e aplicando nas universidades.
Minha tese de doutorado, defendida na UFRJ chama-se "Heidegger e o Sagrado: uma leitura budista", estou agora procurando um editor para a mesma.
O mundo hoje não comporta mais essa divisão entre Oriente e Ocidente, ela geograficamente existe, culturamente é fato, mas em termos de conhecimento, em termos do saber é altamente recomendável que estudemos e aprendamos uns com os outros. No meu livro publicado pela Editora Madras, de São Paulo, em 2004, Zen-Budismo e a Literatura, que é a minha dissertação de mestrado na UFRJ, eu cito alguns pensadores ocidentais que direta ou indiretamente tiveram influência do Oriente.
Vejo que essas influências foram motivadas, justamente, porque esses grandes filósofos perceberam que o mundo é um só. Há uma frase clássica que eu gosto de citar. Nos anos 1980, o professor francês Roger Garaudy de filosofia na Sorbonne, en entrevista ao jornal O Globo, declarou que havia chegado ao topo da carreira universitária, mas compreendeu que só conhecia o Ocidente, ou seja, o saber dele era limitado. Então ele começou a ver a importância do pensamento oriental, completando assim a nossa visão de mundo: Ocidente e Oriente.
Dílson Lages: Em seu projeto de associar literatura e budismo, a partir do discurso acadêmico, o senhor afirma que o propósito da investigação da obra literária "não é utilitarista, não é lógica, é zen". Em que consiste a análise do texto literário numa perspectiva zen ?
ACR: De fato, o pensamento zen é de uma beleza impressionante. Mediante as minhas pesquisas vi que o zen é uma ferramenta importante para a compreensão do texto literário. Não estou generalizando, se tratava no sentido específico da poesia de Gilberto Gil que eu estava pesquisando. As letras das músicas do cantor e compositor Gilberto Gil passei a estudá-las sob a ótica zen. Vi que tais letras, portanto, tais textos literários nos remetiam a uma reflexão sobre o ser, sobre a vida, sobre a existência.
Dílson Lages: As questões de ritmo e respiração, práticas meditativas zen, se relacionam, por essência, à poesia? Repetindo: a poesia é, por natureza, zen?
ACR: Sim, poesia é meditação. Poesia é zen! Zen é arte ! É uma forma de ser e estar no mundo, completo aí com outros verbos de ligação: ficar, permanecer. E o verbo de ligação é o tal "religare". Nos ligarmos a um fator transcendente-imanente, que não está lá longe, mas no aqui e no agora. Fazer poesia é meditação. Ler poesia é meditação. É preciso vivenciar tais experiências poéticas. Há diversos estudos, no exterior, enfocando a natureza poética do zen.
Dílson Lages: Que outras marcas da poesia, além do ritmo, estimulam leituras a partir da cosmovisão zen?
ACR: Zen é vida, é respirãção, é arte, é poesia, deste modo, na antiguidade, os sábios zen perceberam que uma ótima forma de se praticar o zen era através da expressão das artes plásticas, da música, da escultura, das literaturas em geral, do cinema, mais recentemente falando. Na minha tese de doutorado há um capítulo onde falo do filme Rashomon, do japonês Akira Kurosawa, que aliás recomendo a todo mundo. Nesse filme há uma profunda reflexão-meditação sobre a vida, sobre a arte, sobre a verdade. É um filme em preto e branco. Heidegger viu esse filme e ficou maravihado, ela gostava muito da cultura nipônica.
Dílson Lages: Recuperando indagação já feita há pouco, quais princípios teóricos o senhor utiliza, por exemplo, quando mergulha nos poemas-canções de Gilberto Gil?
ACR: Escolhi oito poesias do Gil, de um período que ficou conhecido como "contracultura". Anos 1970. Era o tempo da ditadura. E o poeta Gil nos faz ver que uma das formas de se enfrentar um período de excessão é através da arte. Partindo dos princípios da tradicional Teoria Literária, fiz uma leitura livre, uma interpretação, juntando um pouco de sociologia da literatura, em função da época da ditadura, com sociologia da religião, pegando o zen-budismo.
Dílson Lages: Como a cultura zen se faz ver nos poemas-canções de Gilberto Gil?
ACR: Na minha dissertação de mestrado eu escolhi essas oito canções do Gil porque são poemas-canções. Existem muitas outras letras onde podemos identificar esses poemas, mas fiquei analisando o período em que ele esteve preso e, sabiamente, ele nos sugere, através das letras que, uma forma artística de sobreviver em um tempo difícil é a poesia. E o zen também fala isso e tanto asim o é que há uma corrente japonesa que se chama PL - Perfeita Liberdade cujo primeiro preceito é "Vida é Arte". Quer dizer, uma das possíveis saídas para essa crise econômica que anda por aí está na arte, na medida em que tornarmos o nosso viver uma forma de arte, no sentido mais amplo possível, teremos condições de ter vivências, intuições e compreensão de como transformar a crise em criatividade. Citei a PL porque gosto muito dessa linhagem japonesa. O fundador foi um monge zen, lá nos primórdios do século XX.
Dílson Lages: O senhor se propõe a encontrar elementos na poesia de Gil que levam a pensar na condição de ser. Quais elementos o senhor encontrou? Qual "condição de ser" subjaz à leitura da poesia de Gil?
ACR: Considero o Gilberto Gil um dos grandes poetas da Língua Portuguesa. Tão grande quanto Camões. As letras das músicas de Gil nos remetem a uma reflexão sobre a nossa condiçõa humana. O zen nos diz que o satóri, isto é, experiência da iluminação que o Buda teve, o insight que a psicanálise fala, bem pode ser "explicitado" pela poesia. Eu coloco esse explicitado entre aspas porque o próprio zen recomenda o cuidado com as palavras. Em um artigo que publiquei na coluna Estudos & Literaturas do magnifico Entre Textos que tem como título "Um Diálogo com Chuang Tzu hoje" cito o próprio Chuang Tzu, um sábio taoísta, que tem muito de zen. Ele diz que gostaria de conversar com uma pessoa que tivesse esquecido as palavras. Isso é profundamente zen, é difícil de explicar com as palavras, só vivenciando, só experienciando.
Dílson Lages: A cultura zen propõe a compreensão do desejo. Como isso se aplica a leitura da poesia por esse caminho?
ACR: Parabenizo pelas perguntas inteligentes. Nota 10 ! Você tem razão. A cultura zen nos recomenda a compreensão do desejo, mas no Ocidente temos a tendência de pensar que desejo é só no sentido de sexo. E o Zen nos mostra que tudo na vida é desejo, desde beber um copo de água, responder esta entrevista etc. Até o último suspiro estaremos envoltos pelo desejo. E a poesia vai nos mostrar os caminhos e descaminhos por onde passam os nossos desejos, quaisquer que sejam eles. Para o zen, o não-desejo também é uma forma de desejo. A leitura da poesia através do zen, nos permite vivenciar a experiência do ato de ler. E como se fosse, e de fato o é, a leitura de poesia é uma forma de meditação.Então compreenderemos o desejo e fica a nosso critério concretizá-lo ou não, sabendo que tanto o realizar o desejo, quanto não realizar implica desdobramentos. É esta a sabedoria que a leitura da poesia e o zen nos propõe.
Dílson Lages: O senhor afirma que, segundo a cultura zen, o "silêncio é movimento". Como assim?
ACR: O Zen fala muito em vazio e em silêncio, mas é preciso ver que este vazio não é oco, ele é cheio, ele é pleno, ele é completo. É justamente o contrário do que pensamos. O vazio é repleto de potencialidades, de possibilidades. Uma imagem que costumo usar para tentarmos visualizar este vazio é a noção de conjunto que vem da matemática. Um vazio é um conjunto de "coisas", de "elementos", o vazio é um conjunto de subconjuntos. Quanto ao silêncio, o zen diz que ele não é estático, não é parado, pois nada, na vida, é parado, tudo é impermanente, tudo é dinâmico. tudo está sempre em movimento, assim sendo, verificamos que há um "barulho" no silêncio, no silêncio há som, silêncio não é morte, silêncio é vida, o silêncio tem voz; aliás, o grande poeta português Fernando Pessoa traduziu um texto clássico da Teosofia, se chama "A voz do silêncio", este livro foi publicado aqui nos anos 1970, pela editora Civilização Brasileira, agora está esgotado. Teosofia é uma forma popular de Budismo e Pessoa gostava muito, pois ele era o tradutor da fundadora da Sociedade Teosófica em Portugal, a Helena Petrovna Blavatsky.
Dílson Lages: O senhor publicou dez livros acerca do Budismo. Quais leituras o senhor propõe a quem deseja se iniciar no assunto?
ACR: Sugiro inicialmente o meu livrinho O Que É Budismo, editora Brasiliense, o nº 113, da coleção Primeiros Passos. Depois O Tao da Física, do austríaco radicado nos EUA, Fritjof Capra, editora Cultrix. E também um livro excelente organizado pelo Haroldo de Campos, Ideograma: Lógica, Poesia e Linguagem, em co-edição da USP - Universidade de São Paulo com a Editora Cultrix. Mais uma vez agradeço a oportunidade da entrevista.
Dílson Lages: Para justificar a escolha da metodologia empregada para estudar o texto literário, o senhor recorre às influências da cultura oriental sobre filósofos da linguagem. Essas influências se construíram ao seu ver, motivadas precisamente por quê?
Antonio Carlos Rocha: Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui, colaborando com este site. Você e os demais que escrevem estão todos de parabéns. Bem, eu já me dedico ao estudo e pesquisa da cultura oriental há 40 anos. Com o passar do tempo fui verificando que tais estudos, no exterior também eram aplicados em termos acadêmicos. Nomeadamente, fui verificando que nos EUA, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha e em outros países, uns chamavam de Pensamento Asiático, outros de Estudos Orientais, Filosofia Indiana, Filosofia Chinesa e isso foi me confortando pois eu queria aplicar tais estudos ao campo das Letras, que é a minha formação. No início tive uma certa dificuldade pois alguns professores julgavam ser alienação a minha pesquisa, pensavam que se tratava de moda ou de esoterismo superficial, mas foi só no começo, com o passar do tempo não apenas aceitaram, mas também incentivaram, me abriram portas e horizontes, viram que era algo sério e inovador em termos de Brasil. Diga-se de passagem que, em termos de Brasil, a originalidade se deve à Cecília Meireles, nossa grande escritora, jornalista e poeta da Literatura Brasileira. Ela foi a pioneira. Em 1935, Cecília foi professora de Literatura Oriental, na antiga UDF - Universidade do Distrito Federal, hoje a UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde estou realizando o meu pós-doutorado, justamente sobre esta face "oriental" da Cecília Meireles.
Quando eu ainda estava na Graduação, numa aula de Teoria Literária, em 1978, o professor começou a falar de Martin Heidegger, o grande pensador alemão do século XX, e eu percebi que ali, no pensamento, na vida e na obra de Heidegger tinha algo a ver com o Oriente. Foi uma intuição. Comecei então a esboçar uma "leitura zen" da Literatura e da Arte. Fui então compilando e catalogando nomes significativos que tratavam do tema. Por exemplo, o grande Umberto Eco, em seu livro Obra Aberta, ele tem um extenso capítulo sobre o Zen e o Ocidente. Além dele, fui vendo que grandes pensadores, escritores, filósofos e teóricos do Ocidente estavam estudando e pesquisando sobre o Pensamento Asiático e aplicando nas universidades.
Minha tese de doutorado, defendida na UFRJ chama-se "Heidegger e o Sagrado: uma leitura budista", estou agora procurando um editor para a mesma.
O mundo hoje não comporta mais essa divisão entre Oriente e Ocidente, ela geograficamente existe, culturamente é fato, mas em termos de conhecimento, em termos do saber é altamente recomendável que estudemos e aprendamos uns com os outros. No meu livro publicado pela Editora Madras, de São Paulo, em 2004, Zen-Budismo e a Literatura, que é a minha dissertação de mestrado na UFRJ, eu cito alguns pensadores ocidentais que direta ou indiretamente tiveram influência do Oriente.
Vejo que essas influências foram motivadas, justamente, porque esses grandes filósofos perceberam que o mundo é um só. Há uma frase clássica que eu gosto de citar. Nos anos 1980, o professor francês Roger Garaudy de filosofia na Sorbonne, en entrevista ao jornal O Globo, declarou que havia chegado ao topo da carreira universitária, mas compreendeu que só conhecia o Ocidente, ou seja, o saber dele era limitado. Então ele começou a ver a importância do pensamento oriental, completando assim a nossa visão de mundo: Ocidente e Oriente.
Dílson Lages: Em seu projeto de associar literatura e budismo, a partir do discurso acadêmico, o senhor afirma que o propósito da investigação da obra literária "não é utilitarista, não é lógica, é zen". Em que consiste a análise do texto literário numa perspectiva zen ?
ACR: De fato, o pensamento zen é de uma beleza impressionante. Mediante as minhas pesquisas vi que o zen é uma ferramenta importante para a compreensão do texto literário. Não estou generalizando, se tratava no sentido específico da poesia de Gilberto Gil que eu estava pesquisando. As letras das músicas do cantor e compositor Gilberto Gil passei a estudá-las sob a ótica zen. Vi que tais letras, portanto, tais textos literários nos remetiam a uma reflexão sobre o ser, sobre a vida, sobre a existência.
Dílson Lages: As questões de ritmo e respiração, práticas meditativas zen, se relacionam, por essência, à poesia? Repetindo: a poesia é, por natureza, zen?
ACR: Sim, poesia é meditação. Poesia é zen! Zen é arte ! É uma forma de ser e estar no mundo, completo aí com outros verbos de ligação: ficar, permanecer. E o verbo de ligação é o tal "religare". Nos ligarmos a um fator transcendente-imanente, que não está lá longe, mas no aqui e no agora. Fazer poesia é meditação. Ler poesia é meditação. É preciso vivenciar tais experiências poéticas. Há diversos estudos, no exterior, enfocando a natureza poética do zen.
Dílson Lages: Que outras marcas da poesia, além do ritmo, estimulam leituras a partir da cosmovisão zen?
ACR: Zen é vida, é respirãção, é arte, é poesia, deste modo, na antiguidade, os sábios zen perceberam que uma ótima forma de se praticar o zen era através da expressão das artes plásticas, da música, da escultura, das literaturas em geral, do cinema, mais recentemente falando. Na minha tese de doutorado há um capítulo onde falo do filme Rashomon, do japonês Akira Kurosawa, que aliás recomendo a todo mundo. Nesse filme há uma profunda reflexão-meditação sobre a vida, sobre a arte, sobre a verdade. É um filme em preto e branco. Heidegger viu esse filme e ficou maravihado, ela gostava muito da cultura nipônica.
Dílson Lages: Recuperando indagação já feita há pouco, quais princípios teóricos o senhor utiliza, por exemplo, quando mergulha nos poemas-canções de Gilberto Gil?
ACR: Escolhi oito poesias do Gil, de um período que ficou conhecido como "contracultura". Anos 1970. Era o tempo da ditadura. E o poeta Gil nos faz ver que uma das formas de se enfrentar um período de excessão é através da arte. Partindo dos princípios da tradicional Teoria Literária, fiz uma leitura livre, uma interpretação, juntando um pouco de sociologia da literatura, em função da época da ditadura, com sociologia da religião, pegando o zen-budismo.
Dílson Lages: Como a cultura zen se faz ver nos poemas-canções de Gilberto Gil?
ACR: Na minha dissertação de mestrado eu escolhi essas oito canções do Gil porque são poemas-canções. Existem muitas outras letras onde podemos identificar esses poemas, mas fiquei analisando o período em que ele esteve preso e, sabiamente, ele nos sugere, através das letras que, uma forma artística de sobreviver em um tempo difícil é a poesia. E o zen também fala isso e tanto asim o é que há uma corrente japonesa que se chama PL - Perfeita Liberdade cujo primeiro preceito é "Vida é Arte". Quer dizer, uma das possíveis saídas para essa crise econômica que anda por aí está na arte, na medida em que tornarmos o nosso viver uma forma de arte, no sentido mais amplo possível, teremos condições de ter vivências, intuições e compreensão de como transformar a crise em criatividade. Citei a PL porque gosto muito dessa linhagem japonesa. O fundador foi um monge zen, lá nos primórdios do século XX.
Dílson Lages: O senhor se propõe a encontrar elementos na poesia de Gil que levam a pensar na condição de ser. Quais elementos o senhor encontrou? Qual "condição de ser" subjaz à leitura da poesia de Gil?
ACR: Considero o Gilberto Gil um dos grandes poetas da Língua Portuguesa. Tão grande quanto Camões. As letras das músicas de Gil nos remetem a uma reflexão sobre a nossa condiçõa humana. O zen nos diz que o satóri, isto é, experiência da iluminação que o Buda teve, o insight que a psicanálise fala, bem pode ser "explicitado" pela poesia. Eu coloco esse explicitado entre aspas porque o próprio zen recomenda o cuidado com as palavras. Em um artigo que publiquei na coluna Estudos & Literaturas do magnifico Entre Textos que tem como título "Um Diálogo com Chuang Tzu hoje" cito o próprio Chuang Tzu, um sábio taoísta, que tem muito de zen. Ele diz que gostaria de conversar com uma pessoa que tivesse esquecido as palavras. Isso é profundamente zen, é difícil de explicar com as palavras, só vivenciando, só experienciando.
Dílson Lages: A cultura zen propõe a compreensão do desejo. Como isso se aplica a leitura da poesia por esse caminho?
ACR: Parabenizo pelas perguntas inteligentes. Nota 10 ! Você tem razão. A cultura zen nos recomenda a compreensão do desejo, mas no Ocidente temos a tendência de pensar que desejo é só no sentido de sexo. E o Zen nos mostra que tudo na vida é desejo, desde beber um copo de água, responder esta entrevista etc. Até o último suspiro estaremos envoltos pelo desejo. E a poesia vai nos mostrar os caminhos e descaminhos por onde passam os nossos desejos, quaisquer que sejam eles. Para o zen, o não-desejo também é uma forma de desejo. A leitura da poesia através do zen, nos permite vivenciar a experiência do ato de ler. E como se fosse, e de fato o é, a leitura de poesia é uma forma de meditação.Então compreenderemos o desejo e fica a nosso critério concretizá-lo ou não, sabendo que tanto o realizar o desejo, quanto não realizar implica desdobramentos. É esta a sabedoria que a leitura da poesia e o zen nos propõe.
Dílson Lages: O senhor afirma que, segundo a cultura zen, o "silêncio é movimento". Como assim?
ACR: O Zen fala muito em vazio e em silêncio, mas é preciso ver que este vazio não é oco, ele é cheio, ele é pleno, ele é completo. É justamente o contrário do que pensamos. O vazio é repleto de potencialidades, de possibilidades. Uma imagem que costumo usar para tentarmos visualizar este vazio é a noção de conjunto que vem da matemática. Um vazio é um conjunto de "coisas", de "elementos", o vazio é um conjunto de subconjuntos. Quanto ao silêncio, o zen diz que ele não é estático, não é parado, pois nada, na vida, é parado, tudo é impermanente, tudo é dinâmico. tudo está sempre em movimento, assim sendo, verificamos que há um "barulho" no silêncio, no silêncio há som, silêncio não é morte, silêncio é vida, o silêncio tem voz; aliás, o grande poeta português Fernando Pessoa traduziu um texto clássico da Teosofia, se chama "A voz do silêncio", este livro foi publicado aqui nos anos 1970, pela editora Civilização Brasileira, agora está esgotado. Teosofia é uma forma popular de Budismo e Pessoa gostava muito, pois ele era o tradutor da fundadora da Sociedade Teosófica em Portugal, a Helena Petrovna Blavatsky.
Dílson Lages: O senhor publicou dez livros acerca do Budismo. Quais leituras o senhor propõe a quem deseja se iniciar no assunto?
ACR: Sugiro inicialmente o meu livrinho O Que É Budismo, editora Brasiliense, o nº 113, da coleção Primeiros Passos. Depois O Tao da Física, do austríaco radicado nos EUA, Fritjof Capra, editora Cultrix. E também um livro excelente organizado pelo Haroldo de Campos, Ideograma: Lógica, Poesia e Linguagem, em co-edição da USP - Universidade de São Paulo com a Editora Cultrix. Mais uma vez agradeço a oportunidade da entrevista.
domingo, 8 de março de 2009
Texto Oftálmico
Antonio Carlos Rocha*
Para gáudio
Dos olhos meus
As minissaias
Voltaram
E hoje,
As moçoilas em flor
Não mais
Raspam as coxinhas
Deixando-as felpudinhas
Tal e qual
A protuberante semente
Que brota
Entre as mesmas.
Antigamente,
As calcinhas
Eram de cores fortes
Hoje, porém,
Transparentes, furadinhas
Diminutas
Até inexistentes
Alegrarão meus
Míopes e fotofóbicos
Olhos.
As adultas
Esmeram-se, à moda antiga
Em insinuar
Sob vestidos longos e translúcidos
Suas balzaquianas ancas
- Ainda bem que aboliram as anáguas !
As de meia-idade
Oriundas do colonialismo
Apertam-se em calças justas
Querendo dar forma
Ao que não precisa de forma
Pois já é a própria forma.
E por favor,
Não me venham
Com interpretações,
Acabo de vislumbrar
Meu costumeiro
Colírio.
(*) O autor participou, no Rio de Janeiro, anos 1980, representando o Estado de Pernambuco, sua terra natal, do Movimento de Poesia Pornô - Pornopoema. Na “direção” do movimento estavam os consagrados poetas Eduardo Kac e Kairo Assis Trindade.
- a poesia acima foi publicada nas páginas 75 e 76 da revista Aió, nº 2, abril de 1984. O fundador e editor da citada revista é o também consagrado escritor e professor Rogel Samuel.
Para gáudio
Dos olhos meus
As minissaias
Voltaram
E hoje,
As moçoilas em flor
Não mais
Raspam as coxinhas
Deixando-as felpudinhas
Tal e qual
A protuberante semente
Que brota
Entre as mesmas.
Antigamente,
As calcinhas
Eram de cores fortes
Hoje, porém,
Transparentes, furadinhas
Diminutas
Até inexistentes
Alegrarão meus
Míopes e fotofóbicos
Olhos.
As adultas
Esmeram-se, à moda antiga
Em insinuar
Sob vestidos longos e translúcidos
Suas balzaquianas ancas
- Ainda bem que aboliram as anáguas !
As de meia-idade
Oriundas do colonialismo
Apertam-se em calças justas
Querendo dar forma
Ao que não precisa de forma
Pois já é a própria forma.
E por favor,
Não me venham
Com interpretações,
Acabo de vislumbrar
Meu costumeiro
Colírio.
(*) O autor participou, no Rio de Janeiro, anos 1980, representando o Estado de Pernambuco, sua terra natal, do Movimento de Poesia Pornô - Pornopoema. Na “direção” do movimento estavam os consagrados poetas Eduardo Kac e Kairo Assis Trindade.
- a poesia acima foi publicada nas páginas 75 e 76 da revista Aió, nº 2, abril de 1984. O fundador e editor da citada revista é o também consagrado escritor e professor Rogel Samuel.
domingo, 1 de março de 2009
O Presidente Negro
O Choque das Raças ou O Presidente Negro foi publicado em 1926, por Monteiro Lobato, em folhetins no jornal carioca A Manhã. Este livro tem o subtítulo “romance americano do ano 2228”.
A história é narrada por Ayrton, funcionário da firma paulista Sá, Pato & Cia., que depois de um acidente de carro, é iniciado na revelação do futuro por Jane, filha do professor Benson, cuja invenção – o porviroscópio – lhe permite devassar o futuro. Jane, numa série de sessões domingueiras, revela ao espantado mas entusiasta Ayrton os episódios que envolvem a eleição do 88º presidente norte-americano. Três candidatos disputam os votos: o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e o presidente Kerlog, candidato à reeleição. A cisão da sociedade branca em partido masculino e partido feminino possibilita a eleição do candidato negro. Perante o fato consumado, a raça branca engendra uma típica “solução final”: a esterilização definitiva de todos os indivíduos da raça negra, camuflada num processo de alisamento de cabelos.
Paralelamente a esta narração, o romance focaliza o amor de Ayrton por Jane, e a missão literária do moço: escrever um romance daquilo que ela lhe narrava.
(O resumo acima encontra-se na página 36, do livro Monteiro Lobato – Literatura Comentada, editora Abril, 1981, organizado pela professora Marisa Lajolo, doutora em Letras pela USP e professora da Unicamp).
A história é narrada por Ayrton, funcionário da firma paulista Sá, Pato & Cia., que depois de um acidente de carro, é iniciado na revelação do futuro por Jane, filha do professor Benson, cuja invenção – o porviroscópio – lhe permite devassar o futuro. Jane, numa série de sessões domingueiras, revela ao espantado mas entusiasta Ayrton os episódios que envolvem a eleição do 88º presidente norte-americano. Três candidatos disputam os votos: o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e o presidente Kerlog, candidato à reeleição. A cisão da sociedade branca em partido masculino e partido feminino possibilita a eleição do candidato negro. Perante o fato consumado, a raça branca engendra uma típica “solução final”: a esterilização definitiva de todos os indivíduos da raça negra, camuflada num processo de alisamento de cabelos.
Paralelamente a esta narração, o romance focaliza o amor de Ayrton por Jane, e a missão literária do moço: escrever um romance daquilo que ela lhe narrava.
(O resumo acima encontra-se na página 36, do livro Monteiro Lobato – Literatura Comentada, editora Abril, 1981, organizado pela professora Marisa Lajolo, doutora em Letras pela USP e professora da Unicamp).
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Viva a Linguística !
Antonio Carlos Rocha*
Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !
Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.
É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.
Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.
Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?
Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração
Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem
Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.
Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes
Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.
Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.
(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.
Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !
Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.
É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.
Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.
Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?
Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração
Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem
Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.
Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes
Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.
Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.
(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Viva a Linguística !
Antonio Carlos Rocha*
Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !
Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.
É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.
Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.
Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?
Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração
Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem
Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.
Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes
Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.
Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.
(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.
Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !
Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.
É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.
Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.
Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?
Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração
Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem
Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.
Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes
Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.
Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.
(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Literatura e Espiritismo
Tese de doutorado na Unicamp pesquisa livros de Chico Xavier:
O Caso Humberto de Campos: Autoria Literária e Mediunidade.
Alexandre Caroli Rocha defendeu, em 4 de junho de 2008, tese de doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, em Campinas (SP). Trata-se dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, passando também pelo famoso processo que a família do escritor moveu contra o médium mineiro e a Federação Espírita Brasileira para requerer direitos autorais. Abaixo (trechos) da entrevista com o autor, que já defendeu tese de mestrado em Literatura sobre a obra Parnaso de Além-Túmulo, o primeiro livro de Chico Xavier:
Folha Espírita – O que você pesquisou na tese de doutorado?
Alexandre Caroli da Rocha – Estudei a obra de Humberto de Campos (1886-1934) e os livros que Chico Xavier (1910-2002) atribuiu a ele e a Irmão X. O objetivo foi pesquisar o problema autoral desse conjunto de livros do médium mineiro. Na tese, entre outros temas, apresentei um histórico dessa atribuição de autoria e analisei as estratégias textuais utilizadas pelo autor dos livros psicografados para se representar como Humberto de Campos após sua morte.
FE – Os especialistas chegaram a fazer uma comparação entre as obras de Humberto de Campos, escritas quando encarnado, com as que escreveu através de Chico Xavier?
Rocha – Alguns escritores e intelectuais, especialmente em 1944, publicaram artigos a respeito de suas impressões de leitura, relacionando as duas obras. Na tese, analiso boa parte desse material. Em síntese, há duas questões envolvidas: uma é textual e outra é teórica. Uma grande parte dos comentadores achou que os textos psicografados apresentavam muitas afinidades com o que Humberto de Campos costumava escrever (fator textual). A partir desse dado, alguns arriscavam uma explicação (fator teórico) e outros diziam não saber como explicar o fenômeno. Entre as tentativas de explicação havia a kardecista (o espírito do escritor comunicou-se através do médium); a do pastiche, consciente ou inconsciente (o médium imitou Humberto de Campos); a demonista (o verdadeiro autor é o diabo); a sobrenatural (houve um milagre e o milagre não pode ser explicado). Um bom exemplo é o que passou com Agrippino Grieco, em 1939. O crítico acompanhou uma sessão espírita na qual Chico Xavier psicografou uma carta a ele dirigida e assinada por Humberto de Campos. A respeito do texto, ele declarou que parecia mesmo ser um escrito inédito do autor de Memórias, mas não sabia como explicar o fenômeno.
FE – Como ter acesso à tese?
Rocha – Na internet, ela já está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp, no endereço: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434.
(texto acima conforme a Folha Espírita, novembro de 2008, www.folhaespirita.com.br ).
O Caso Humberto de Campos: Autoria Literária e Mediunidade.
Alexandre Caroli Rocha defendeu, em 4 de junho de 2008, tese de doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, em Campinas (SP). Trata-se dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, passando também pelo famoso processo que a família do escritor moveu contra o médium mineiro e a Federação Espírita Brasileira para requerer direitos autorais. Abaixo (trechos) da entrevista com o autor, que já defendeu tese de mestrado em Literatura sobre a obra Parnaso de Além-Túmulo, o primeiro livro de Chico Xavier:
Folha Espírita – O que você pesquisou na tese de doutorado?
Alexandre Caroli da Rocha – Estudei a obra de Humberto de Campos (1886-1934) e os livros que Chico Xavier (1910-2002) atribuiu a ele e a Irmão X. O objetivo foi pesquisar o problema autoral desse conjunto de livros do médium mineiro. Na tese, entre outros temas, apresentei um histórico dessa atribuição de autoria e analisei as estratégias textuais utilizadas pelo autor dos livros psicografados para se representar como Humberto de Campos após sua morte.
FE – Os especialistas chegaram a fazer uma comparação entre as obras de Humberto de Campos, escritas quando encarnado, com as que escreveu através de Chico Xavier?
Rocha – Alguns escritores e intelectuais, especialmente em 1944, publicaram artigos a respeito de suas impressões de leitura, relacionando as duas obras. Na tese, analiso boa parte desse material. Em síntese, há duas questões envolvidas: uma é textual e outra é teórica. Uma grande parte dos comentadores achou que os textos psicografados apresentavam muitas afinidades com o que Humberto de Campos costumava escrever (fator textual). A partir desse dado, alguns arriscavam uma explicação (fator teórico) e outros diziam não saber como explicar o fenômeno. Entre as tentativas de explicação havia a kardecista (o espírito do escritor comunicou-se através do médium); a do pastiche, consciente ou inconsciente (o médium imitou Humberto de Campos); a demonista (o verdadeiro autor é o diabo); a sobrenatural (houve um milagre e o milagre não pode ser explicado). Um bom exemplo é o que passou com Agrippino Grieco, em 1939. O crítico acompanhou uma sessão espírita na qual Chico Xavier psicografou uma carta a ele dirigida e assinada por Humberto de Campos. A respeito do texto, ele declarou que parecia mesmo ser um escrito inédito do autor de Memórias, mas não sabia como explicar o fenômeno.
FE – Como ter acesso à tese?
Rocha – Na internet, ela já está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp, no endereço: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434.
(texto acima conforme a Folha Espírita, novembro de 2008, www.folhaespirita.com.br ).
domingo, 22 de fevereiro de 2009
O Deus que gosta de Poesias
Antonio Carlos Rocha*
No próximo ano, 2010, será realizado pela primeira vez no Brasil, simultaneamente em Jandira, SP, e em Brasília, o Festival de Poesias da Oomoto, uma linhagem Xintoísta que está presente em diversos países e, naturalmente, em nosso país, inicialmente através dos imigrantes japoneses e hoje em dia através de muitos brasileiros, sem nenhuma ascendência visível com os nipônicos, a não ser as espirituais que, por enquanto, não temos como provar.
Diz a antiqüíssima lenda que, após abater a “gigantesca serpente diabólica”, o Deus Susanoo, filho do Deus Celestial, ficou triste porque percebeu que ainda, em todos os países, os seres humanos continuavam apegados às mais diversas formas do mal. Então a esposa do Deus Susanoo, chamada Kushinada-hime , fez um tambor e começou a tocar, cantar e dançar para alegrar o marido. Nesse momento, o Deus Susanoo compôs um poema (tanka) que dizia:
“Embora eu tenha destruído o chefe dos maus espíritos, entre todos os países do mundo, ainda existem grandes barreiras, sobre as quais esvoaçam grossas nuvens. Portanto, elimine também essas barreiras e essas nuvens, em favor da paz”.
Estudiosos afirmam que foi nessa ocasião que nasceu a tradicional poesia japonesa chamada tanka, composta de uma única estrofe com cinco versos: a primeira linha com 5 sílabas; a segunda linha com 7 sílabas e assim alternando até o quinto verso.
As informações acima estão na revista Oomoto Internacia, edição bilíngüe, esperanto e português. Os oomotanos estudam, falam, praticam e divulgam o idioma internacional esperanto. Maiores detalhes www.oomotodobrasil.org.br
É bem provável que o nome da cidade de Suzano, no interior paulista, venha desse Deus, visto que os imigrantes japoneses, desde 1908, se espalharam pelos mais diversos pontos do Estado de São Paulo. A explicação para se realizar o Festival em Jandira é porque lá fica a sede nacional da linhagem e em Brasília por ser a capital federal.
No dia do Festival, que será oportunamente divulgado, os praticantes escrevem poemas no estilo tanka (não confundir com haikai que é menor). As poesias são escritas em pequenos papéis e colocadas no altar. Diz a milenar tradição que o Deus Susanoo fica muito feliz, alegre e contente lendo as poesias dos fiéis. Podem ser pedidos, agradecimentos, louvores à paz mundial etc.
Obs.: Respeitamos a grafia oficial da linhagem e escrevemos Deus Susanoo com “d” maiúsculo.
(*) Antonio Carlos Rocha é professor e escritor.
No próximo ano, 2010, será realizado pela primeira vez no Brasil, simultaneamente em Jandira, SP, e em Brasília, o Festival de Poesias da Oomoto, uma linhagem Xintoísta que está presente em diversos países e, naturalmente, em nosso país, inicialmente através dos imigrantes japoneses e hoje em dia através de muitos brasileiros, sem nenhuma ascendência visível com os nipônicos, a não ser as espirituais que, por enquanto, não temos como provar.
Diz a antiqüíssima lenda que, após abater a “gigantesca serpente diabólica”, o Deus Susanoo, filho do Deus Celestial, ficou triste porque percebeu que ainda, em todos os países, os seres humanos continuavam apegados às mais diversas formas do mal. Então a esposa do Deus Susanoo, chamada Kushinada-hime , fez um tambor e começou a tocar, cantar e dançar para alegrar o marido. Nesse momento, o Deus Susanoo compôs um poema (tanka) que dizia:
“Embora eu tenha destruído o chefe dos maus espíritos, entre todos os países do mundo, ainda existem grandes barreiras, sobre as quais esvoaçam grossas nuvens. Portanto, elimine também essas barreiras e essas nuvens, em favor da paz”.
Estudiosos afirmam que foi nessa ocasião que nasceu a tradicional poesia japonesa chamada tanka, composta de uma única estrofe com cinco versos: a primeira linha com 5 sílabas; a segunda linha com 7 sílabas e assim alternando até o quinto verso.
As informações acima estão na revista Oomoto Internacia, edição bilíngüe, esperanto e português. Os oomotanos estudam, falam, praticam e divulgam o idioma internacional esperanto. Maiores detalhes www.oomotodobrasil.org.br
É bem provável que o nome da cidade de Suzano, no interior paulista, venha desse Deus, visto que os imigrantes japoneses, desde 1908, se espalharam pelos mais diversos pontos do Estado de São Paulo. A explicação para se realizar o Festival em Jandira é porque lá fica a sede nacional da linhagem e em Brasília por ser a capital federal.
No dia do Festival, que será oportunamente divulgado, os praticantes escrevem poemas no estilo tanka (não confundir com haikai que é menor). As poesias são escritas em pequenos papéis e colocadas no altar. Diz a milenar tradição que o Deus Susanoo fica muito feliz, alegre e contente lendo as poesias dos fiéis. Podem ser pedidos, agradecimentos, louvores à paz mundial etc.
Obs.: Respeitamos a grafia oficial da linhagem e escrevemos Deus Susanoo com “d” maiúsculo.
(*) Antonio Carlos Rocha é professor e escritor.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Carta de Monteiro Lobato ("evangelizante") a Anísio Teixeira
“São Paulo, 3-6-1944.
Anísio,
Passou por aqui um engenheiro baiano, Nery, que muito me falou de você; e também um moço da livraria do Otales, que te levou me abraço. Mas esta não é para nada disso – nem para comentar a entrada americana em Roma, o grande fato do dia de hoje. É para te comunicar algo muito importante. Todos nós, Anísio, temos o vago sonho de encontrar um livro que nos seja uma casa definitiva – a casa de sonho que procuramos. Um livro no qual; moremos, ou passemos a morar como um rato dentro de um queijo. Um livro que seja casa e comida. E se como D. João saltava duma mulher para outra em busca da única, ou da certa, nós vivemos como gafanhotos, a pular de livro em livro, é que nunca aparece o nosso livro. Quando Sto. Agostinho dizia temer o homem de um só livro, ele se referia ao perigo que é o homem que encontra o seu livro (...).
Pois creio que encontrei o meu livro – o queijo para casa e comida do rato velho que sou. E chama-se A Grande Síntese, de Pietro Ubaldi.
Quis mandar-te o livro em vez de apenas indicá-lo, mas não achei nenhum nas livrarias, estão tirando nova edição. Fica aí de alcatéia, para fisgar um quando saia. E leia-o como estou fazendo: sem pressa nenhuma, com a simpatia aberta como uma flor (...). Estou ainda pouco avançado na leitura tanto me deslumbro e paro pelo caminho, e tenho um medo imenso de que com você não se dê a mesma coisa. Mas há de dar-se. Impossível que você não veja o que esse livro é. E sabe que A Grande Síntese está cá em casa há quase dois anos, e só agora eu a descobri? Purezinha morou nela todo esse tempo, e foi essa persistência que me atraiu a atenção: Abria-a ao acaso, comecei a lê-la... e eis-me evangelizante ! Eis-me a escrever ao Anísio, para que a leia também. Por que ao Anísio e não a outro qualquer? Porque você é a Inteligência pura, Anísio, e tenho a certeza de que, a tua opinião sobre o livro podia coincidir com a minha – e que glória para mim por tê-la a indicado ?
Mas se acaso seguires meu conselho e leres A Grande Síntese, não quero que me escreva logo após a leitura – e sim um ano depois; isto é, depois que a leitura amadurecer como os vinhos...
Adeus. Dê-nos a tremenda notícia de que anda projetando uma daquelas famosas vindas a S. Paulo. Venha levantar o ânimo de S. Paulo que está “crest fallen” com a tua já tão longa ausência.
Mil abraços do
Lobato”
(trechos da carta do escritor Monteiro Lobato ao educador Anísio Teixeira. O original encontra-se no CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas, na Praia de Botafogo, Rio. Conforme www.pietroubaldieditora.com.br
Anísio,
Passou por aqui um engenheiro baiano, Nery, que muito me falou de você; e também um moço da livraria do Otales, que te levou me abraço. Mas esta não é para nada disso – nem para comentar a entrada americana em Roma, o grande fato do dia de hoje. É para te comunicar algo muito importante. Todos nós, Anísio, temos o vago sonho de encontrar um livro que nos seja uma casa definitiva – a casa de sonho que procuramos. Um livro no qual; moremos, ou passemos a morar como um rato dentro de um queijo. Um livro que seja casa e comida. E se como D. João saltava duma mulher para outra em busca da única, ou da certa, nós vivemos como gafanhotos, a pular de livro em livro, é que nunca aparece o nosso livro. Quando Sto. Agostinho dizia temer o homem de um só livro, ele se referia ao perigo que é o homem que encontra o seu livro (...).
Pois creio que encontrei o meu livro – o queijo para casa e comida do rato velho que sou. E chama-se A Grande Síntese, de Pietro Ubaldi.
Quis mandar-te o livro em vez de apenas indicá-lo, mas não achei nenhum nas livrarias, estão tirando nova edição. Fica aí de alcatéia, para fisgar um quando saia. E leia-o como estou fazendo: sem pressa nenhuma, com a simpatia aberta como uma flor (...). Estou ainda pouco avançado na leitura tanto me deslumbro e paro pelo caminho, e tenho um medo imenso de que com você não se dê a mesma coisa. Mas há de dar-se. Impossível que você não veja o que esse livro é. E sabe que A Grande Síntese está cá em casa há quase dois anos, e só agora eu a descobri? Purezinha morou nela todo esse tempo, e foi essa persistência que me atraiu a atenção: Abria-a ao acaso, comecei a lê-la... e eis-me evangelizante ! Eis-me a escrever ao Anísio, para que a leia também. Por que ao Anísio e não a outro qualquer? Porque você é a Inteligência pura, Anísio, e tenho a certeza de que, a tua opinião sobre o livro podia coincidir com a minha – e que glória para mim por tê-la a indicado ?
Mas se acaso seguires meu conselho e leres A Grande Síntese, não quero que me escreva logo após a leitura – e sim um ano depois; isto é, depois que a leitura amadurecer como os vinhos...
Adeus. Dê-nos a tremenda notícia de que anda projetando uma daquelas famosas vindas a S. Paulo. Venha levantar o ânimo de S. Paulo que está “crest fallen” com a tua já tão longa ausência.
Mil abraços do
Lobato”
(trechos da carta do escritor Monteiro Lobato ao educador Anísio Teixeira. O original encontra-se no CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas, na Praia de Botafogo, Rio. Conforme www.pietroubaldieditora.com.br
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Diálogo com Chuang Tzu Hoje
Antonio Carlos Rocha*
“Hoje, século XXI, 2008, qual a importância das palavras de Chuang Tzu para nossas vidas? Propositalmente escrevo a palavra “palavra” e aproveito para citá-lo:
“A armadilha de peixes existe por causa dos peixes; uma vez apanhado o peixe, pode-se esquecer a armadilha. O laço para coelhos existe devido ao coelho; uma vez apanhado o coelho, pode-se esquecer o laço. As palavras existem pelo seu significado; uma vez captado o significado, podemos esquecer as palavras. Onde encontrarei um homem que tenha esquecido as palavras, para que possa trocar com ele uma palavra?”
Inicialmente queremos ponderar que talvez o mais indicado seja em vez da palavra “palavra”, colocarmos a palavra questão. Estamos repetindo a palavra “palavra” porque ela nos lembra lavra. O verbo lavrar nos remete a arar a terra, preparar o terreno para o plantio. E o que é que plantamos nesse terreno? O que é que, com as palavras, estamos fazendo com a nossa Terra, com o nosso planeta Terra? Será que um dos problemas que está acontecendo no mundo de hoje é com a palavra? Está na palavra? Está com o (e no) excesso de palavras? Como bem se diz, a questão é o emaranhado de palavras? Com essa teia? Com essa rede de palavras? Será que é porque falamos demais e nos entendemos de menos? Será que é isso o que Chuang Tzu está querendo nos dizer?
“Será que as palavras são armadilhas? Será que as palavras podem ser armadilhas? Do que é (e do que) são feitas as palavras? E hoje, podemos viver sem (as) palavras? Note-se que, cada vez mais, as empresas de telefonia estimulam o uso de seus aparelhos. Não estamos falando do aspecto saudável que é o uso de um telefone quando se precisa transmitir ou receber uma mensagem. Estamos falando que hoje somos reféns da indústria que alimenta e favorece as palavras. Concordando com Chuang Tzu, caímos na armadilha do consumismo”.
(*) O presente artigo é parte de um texto que o autor publicou na revista Tempo Brasileiro, nº 171, cujo tema é : “Permanência e Atualidade da Poética”. A edição foi organizada pelo professor Manuel Antonio de Castro, titular de Poética na Faculdade de Letras, da UFRJ.
“Hoje, século XXI, 2008, qual a importância das palavras de Chuang Tzu para nossas vidas? Propositalmente escrevo a palavra “palavra” e aproveito para citá-lo:
“A armadilha de peixes existe por causa dos peixes; uma vez apanhado o peixe, pode-se esquecer a armadilha. O laço para coelhos existe devido ao coelho; uma vez apanhado o coelho, pode-se esquecer o laço. As palavras existem pelo seu significado; uma vez captado o significado, podemos esquecer as palavras. Onde encontrarei um homem que tenha esquecido as palavras, para que possa trocar com ele uma palavra?”
Inicialmente queremos ponderar que talvez o mais indicado seja em vez da palavra “palavra”, colocarmos a palavra questão. Estamos repetindo a palavra “palavra” porque ela nos lembra lavra. O verbo lavrar nos remete a arar a terra, preparar o terreno para o plantio. E o que é que plantamos nesse terreno? O que é que, com as palavras, estamos fazendo com a nossa Terra, com o nosso planeta Terra? Será que um dos problemas que está acontecendo no mundo de hoje é com a palavra? Está na palavra? Está com o (e no) excesso de palavras? Como bem se diz, a questão é o emaranhado de palavras? Com essa teia? Com essa rede de palavras? Será que é porque falamos demais e nos entendemos de menos? Será que é isso o que Chuang Tzu está querendo nos dizer?
“Será que as palavras são armadilhas? Será que as palavras podem ser armadilhas? Do que é (e do que) são feitas as palavras? E hoje, podemos viver sem (as) palavras? Note-se que, cada vez mais, as empresas de telefonia estimulam o uso de seus aparelhos. Não estamos falando do aspecto saudável que é o uso de um telefone quando se precisa transmitir ou receber uma mensagem. Estamos falando que hoje somos reféns da indústria que alimenta e favorece as palavras. Concordando com Chuang Tzu, caímos na armadilha do consumismo”.
(*) O presente artigo é parte de um texto que o autor publicou na revista Tempo Brasileiro, nº 171, cujo tema é : “Permanência e Atualidade da Poética”. A edição foi organizada pelo professor Manuel Antonio de Castro, titular de Poética na Faculdade de Letras, da UFRJ.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
"Os veados de Nara"
Antonio Carlos Rocha*
No início dos anos 1980, a Faculdade de Letras da UFRJ criou o curso “Português-Japonês”. Tempos depois, um grupo de professores foi ao Japão através de intercâmbio acadêmico.
Certa amiga e professora, do curso Português-Literaturas, portanto, não falava japonês, contou o “mico” que pagou por não saber ler os ideogramas daquele país:
Ao visitar um parque público, notou que vendedores ambulantes ofereciam pacotes de biscoitos. Comprou um e guardou na bolsa. Ao final da tarde, já de volta no trem que a levava para o hotel, sentiu fome. Naturalmente abriu a bolsa, abriu o citado pacote e pôs-se a comer o biscoito.
Nesse momento, os japoneses que estavam sentados à frente dela no vagão, começaram a rir e explicaram que aquele biscoito era para dar aos veados que habitam o parque, como aqui, no Ocidente as pessoas compram milho para os pombos.
Ela argumentou que o pacote não tinha uma única frase em inglês, tudo em japonês daí a gafe. Mas todos riram inclusive ela.
A curiosidade acima me fez lembrar do escritor e médico Cláudio de Souza (1876-1954), membro da Academia Brasileira de Letras, em seu livro Impressões do Japão, publicado em 1940 pela Editora Civilização Brasileira.
O autor visitou o País do Sol Nascente em 1940, andou de norte a sul, era um apaixonado pela cultura nipônica. O veado é um animal especial no Budismo; em muitos quadros, paisagens e afins, vemos o Buda meditando na floresta tendo ao lado os pacíficos animais.
À página 157 Cláudio de Souza escreve:
“Não vos apresseis. Vamos permanecer por mais alguns momentos na lenidade do bosque. Aproxima-se um vendedor de cartuchos com biscoitos leves para os animais sagrados. Metei a mão no bolso; trazei para fora o porta- moedas. Por alguns cents o vendedor sorridente nos vende um cartucho. Os veados de Nara – estamos em Nara – viram nosso movimento e vem acudindo. Estendei-lhes a mão com o biscouto. Sentirei suas línguas húmidas e tépidas molhar-vos os dedos.
Naquele cenário e naquele ato bucólico perguntareis de novo:
- Estamos no ano da graça de 1940, ou ainda naquelas priscas eras em que homens e animais formavam uma só família nos bosques mitológicos?”.
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
No início dos anos 1980, a Faculdade de Letras da UFRJ criou o curso “Português-Japonês”. Tempos depois, um grupo de professores foi ao Japão através de intercâmbio acadêmico.
Certa amiga e professora, do curso Português-Literaturas, portanto, não falava japonês, contou o “mico” que pagou por não saber ler os ideogramas daquele país:
Ao visitar um parque público, notou que vendedores ambulantes ofereciam pacotes de biscoitos. Comprou um e guardou na bolsa. Ao final da tarde, já de volta no trem que a levava para o hotel, sentiu fome. Naturalmente abriu a bolsa, abriu o citado pacote e pôs-se a comer o biscoito.
Nesse momento, os japoneses que estavam sentados à frente dela no vagão, começaram a rir e explicaram que aquele biscoito era para dar aos veados que habitam o parque, como aqui, no Ocidente as pessoas compram milho para os pombos.
Ela argumentou que o pacote não tinha uma única frase em inglês, tudo em japonês daí a gafe. Mas todos riram inclusive ela.
A curiosidade acima me fez lembrar do escritor e médico Cláudio de Souza (1876-1954), membro da Academia Brasileira de Letras, em seu livro Impressões do Japão, publicado em 1940 pela Editora Civilização Brasileira.
O autor visitou o País do Sol Nascente em 1940, andou de norte a sul, era um apaixonado pela cultura nipônica. O veado é um animal especial no Budismo; em muitos quadros, paisagens e afins, vemos o Buda meditando na floresta tendo ao lado os pacíficos animais.
À página 157 Cláudio de Souza escreve:
“Não vos apresseis. Vamos permanecer por mais alguns momentos na lenidade do bosque. Aproxima-se um vendedor de cartuchos com biscoitos leves para os animais sagrados. Metei a mão no bolso; trazei para fora o porta- moedas. Por alguns cents o vendedor sorridente nos vende um cartucho. Os veados de Nara – estamos em Nara – viram nosso movimento e vem acudindo. Estendei-lhes a mão com o biscouto. Sentirei suas línguas húmidas e tépidas molhar-vos os dedos.
Naquele cenário e naquele ato bucólico perguntareis de novo:
- Estamos no ano da graça de 1940, ou ainda naquelas priscas eras em que homens e animais formavam uma só família nos bosques mitológicos?”.
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
A Arte da Guerra
Antonio Carlos Rocha*
Apesar do título é um livro que fala de paz, que fala da vida, pois a vida, em certo sentido, podemos lê-la, como se fosse uma guerra. E neste livro compreendemos que os soldados são os nossos pensamentos. Uns contra, outros a favor, mas a soldadesca dos pensamentos está sempre aí, em nossa mente.
O autor, Sun Tzu, era um pensador, um filósofo, um civil, que viveu no século V AC, logo após a aparição de Buda neste mundo, que foi no século VI AC. O pensador inspirou-se na Lei da Impermanência que Sakyamuni tanto falava e escreveu os famosos treze capítulos de sua Arte da Guerra, a arte de vencer a si mesmo, pois o Buda ensinava que é mais fácil vencer um exército de mil guerreiros do que vencer a si mesmo.
O texto de Sun Tzu impressionou tanto o imperador chinês da época que o nomeou general de seu exército. Conta-se que, enquanto viveu, e só faleceu bem idoso, nenhum reino daquele tempo, conseguiu vencer as tropas de comandadas por Sun Tzu.
Uma ótima edição brasileira é a da Editora Record, 1983, adaptada pelo escritor e especialista em Extremo Oriente James Clavel. São 120 páginas com magníficas reflexões sobre a arte de viver.
Atualmente, muitos empresários utilizam A Arte da Guerra em cursos, simpósios e seminários de treinamento para executivos, para melhorar performances de produtos e dinamização de recursos humanos etc.
Vejamos alguns trechos:
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...”.
“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.
“A arte da guerra é governada por cinco fatores constantes que devem ser levados em conta. São: a Lei Moral, o Céu; a Terra; o Chefe; o Método e a disciplina”.
“A arte da guerra é de importância vital para o estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína. Assim, em nenhuma circunstância deve ser negligenciada”.
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
Apesar do título é um livro que fala de paz, que fala da vida, pois a vida, em certo sentido, podemos lê-la, como se fosse uma guerra. E neste livro compreendemos que os soldados são os nossos pensamentos. Uns contra, outros a favor, mas a soldadesca dos pensamentos está sempre aí, em nossa mente.
O autor, Sun Tzu, era um pensador, um filósofo, um civil, que viveu no século V AC, logo após a aparição de Buda neste mundo, que foi no século VI AC. O pensador inspirou-se na Lei da Impermanência que Sakyamuni tanto falava e escreveu os famosos treze capítulos de sua Arte da Guerra, a arte de vencer a si mesmo, pois o Buda ensinava que é mais fácil vencer um exército de mil guerreiros do que vencer a si mesmo.
O texto de Sun Tzu impressionou tanto o imperador chinês da época que o nomeou general de seu exército. Conta-se que, enquanto viveu, e só faleceu bem idoso, nenhum reino daquele tempo, conseguiu vencer as tropas de comandadas por Sun Tzu.
Uma ótima edição brasileira é a da Editora Record, 1983, adaptada pelo escritor e especialista em Extremo Oriente James Clavel. São 120 páginas com magníficas reflexões sobre a arte de viver.
Atualmente, muitos empresários utilizam A Arte da Guerra em cursos, simpósios e seminários de treinamento para executivos, para melhorar performances de produtos e dinamização de recursos humanos etc.
Vejamos alguns trechos:
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...”.
“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.
“A arte da guerra é governada por cinco fatores constantes que devem ser levados em conta. São: a Lei Moral, o Céu; a Terra; o Chefe; o Método e a disciplina”.
“A arte da guerra é de importância vital para o estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína. Assim, em nenhuma circunstância deve ser negligenciada”.
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
sábado, 31 de janeiro de 2009
Vivências Literárias
Antonio Carlos Rocha*
Para quem quer se iniciar na arte de ler bem e escrever bem, sugiro um pequeno grande livro de bolso: Como Se Faz Literatura, de Affonso Romano de Sant’Anna. Apenas 58 páginas, publicadas pela Editora Vozes, em 1985.
O bom desta obra, é que o autor conta alguns detalhes da vida de consagrados autores nacionais e internacionais. Affonso Romano de Sant’Anna dispensa maiores apresentações, registre-se apenas que foi professor da UFMG e quando eu era aluno de graduação, no Rio, ele veio somar com o excelente time de professores que aportavam ali, na Faculdade de Letras da UFRJ, na antiga Avenida Chile.
Vejamos alguns trechos das páginas 39, 40 e 41:
“Jorge Amado publicou No País do Carnaval aos 19 anos e começou já aí a fazer sucesso. Pôde viver de literatura bem cedo. É evidente que ter pertencido ostensivamente ao partido comunista ajudou na divulgação de sua obra no exterior, o que, por outro lado, dificultou a sua circulação aqui dentro, pois vários de seus livros foram recolhidos e queimados pela polícia de Getúlio Vargas.
“Graciliano (também membro do antigo PCB) se tornou conhecido porque, como prefeito de Palmeira dos Índios, AL, fez um relatório que foi lido por Augusto Frederico Schmidt, que suspeitou ali um escritor. Mas Graciliano quando publicou Caetés, já tinha 41 anos. A primeira edição de Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1928, foi de 800 exemplares e o primeiro livro de Drummond, Alguma Poesia (1930), quando ele tinha 28 anos, foi de 500 exemplares e numa edição particular”.
“(...) José Mauro de Vasconcelos (até hoje ainda mal interpretado pela crítica) há um fenômeno que mereceria mais atenção. No caso de José Mauro de Vasconcelos, há inclusive um dado complicador. Eu vi seus livros em diversas livrarias nos Estados Unidos, Alemanha, Argentina, França e Itália. Quer dizer: fazia sucesso em diversas línguas e culturas. Logo, deve ter ali algum tipo de mensagem que encontra eco num tipo específico de público, que é universal. No mínimo, isto significa que ele conseguiu sintonizar seus sentimentos escritos com uma faixa de sensibilidade determinada. Não me consta que tivesse atrás de si um agente literário tão eficiente como os best-sellers americanos”.
José Mauro de Vasconcelos não era badalado pelos intelectuais, pela mídia da época; morava em Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro. Aliás, dos 4 aos 11 anos residi ali perto, primeiro no Barata, depois em Realengo, até que mudei para a cidade satélite do Gama, DF. Saudosos tempos...
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
Para quem quer se iniciar na arte de ler bem e escrever bem, sugiro um pequeno grande livro de bolso: Como Se Faz Literatura, de Affonso Romano de Sant’Anna. Apenas 58 páginas, publicadas pela Editora Vozes, em 1985.
O bom desta obra, é que o autor conta alguns detalhes da vida de consagrados autores nacionais e internacionais. Affonso Romano de Sant’Anna dispensa maiores apresentações, registre-se apenas que foi professor da UFMG e quando eu era aluno de graduação, no Rio, ele veio somar com o excelente time de professores que aportavam ali, na Faculdade de Letras da UFRJ, na antiga Avenida Chile.
Vejamos alguns trechos das páginas 39, 40 e 41:
“Jorge Amado publicou No País do Carnaval aos 19 anos e começou já aí a fazer sucesso. Pôde viver de literatura bem cedo. É evidente que ter pertencido ostensivamente ao partido comunista ajudou na divulgação de sua obra no exterior, o que, por outro lado, dificultou a sua circulação aqui dentro, pois vários de seus livros foram recolhidos e queimados pela polícia de Getúlio Vargas.
“Graciliano (também membro do antigo PCB) se tornou conhecido porque, como prefeito de Palmeira dos Índios, AL, fez um relatório que foi lido por Augusto Frederico Schmidt, que suspeitou ali um escritor. Mas Graciliano quando publicou Caetés, já tinha 41 anos. A primeira edição de Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1928, foi de 800 exemplares e o primeiro livro de Drummond, Alguma Poesia (1930), quando ele tinha 28 anos, foi de 500 exemplares e numa edição particular”.
“(...) José Mauro de Vasconcelos (até hoje ainda mal interpretado pela crítica) há um fenômeno que mereceria mais atenção. No caso de José Mauro de Vasconcelos, há inclusive um dado complicador. Eu vi seus livros em diversas livrarias nos Estados Unidos, Alemanha, Argentina, França e Itália. Quer dizer: fazia sucesso em diversas línguas e culturas. Logo, deve ter ali algum tipo de mensagem que encontra eco num tipo específico de público, que é universal. No mínimo, isto significa que ele conseguiu sintonizar seus sentimentos escritos com uma faixa de sensibilidade determinada. Não me consta que tivesse atrás de si um agente literário tão eficiente como os best-sellers americanos”.
José Mauro de Vasconcelos não era badalado pelos intelectuais, pela mídia da época; morava em Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro. Aliás, dos 4 aos 11 anos residi ali perto, primeiro no Barata, depois em Realengo, até que mudei para a cidade satélite do Gama, DF. Saudosos tempos...
(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.
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