domingo, 11 de novembro de 2007

Arte e Sociedade

“A literatura faz parte do produto geral do trabalho humano, isto é, da cultura. A cultura de um povo são suas realizações, em diversos sentidos, como as ciências e as artes. É um conjunto socialmente herdado, que de certo modo determina a vida dos indivíduos.

“Para compreender a literatura (e a arte em geral) do ponto de vista cultural, há de fazer-se certas distinções e algumas observações.

“Em primeiro lugar, é necessário distinguir objeto artístico de utensílio.

“A arte não se pode identificar com um utensílio. A arte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria arte. A arte não deve ter finalidade, porque ela é uma finalidade em si mesma. É pois uma atividade lúdica, isto é, não tem finalidade fora de si mesma. Isto não quer dizer que a arte não sirva para nada, mas outra coisa, foi a sociedade moderna que estabeleceu que o padrão da realidade de um determinado objeto é sua necessidade, isto é, os objetos são definidos não pelo que são, mas para o que servem. Tudo na vida social é visto com respeito a um determinado fim. Todos os produtos humanos e todas as ações humanas (o trabalho) estão assim definidos”.

(Rogel Samuel (org). Manual de teoria literária. Vozes, 1984, p. 7).

sábado, 10 de novembro de 2007

Os Poemas da Minha Vida

O médico e escritor português Luís Portela organizou para o jornal Público, de Lisboa, o volume 18 da coleção com o título acima. São 112 páginas reunindo poesias de autores portugueses de diversas épocas: João de Deus, Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes, Gomes Leal, Augusto Gil, Luís de Camões, Fernando Pessoa, Ermelinda Duarte, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário de Sá Carneiro, António Gedeão, Camilo Castelo Branco, Maria de Souza, Bocage, Jorge de Sena, Miguel Torga, Pedro Ayres de Magalhães, Guerra Junqueiro, Agostinho da Silva, Sofia Lago, João Matos, Miguel Ângelo.

Na coletânea Luís Portela selecionou também outros autores estrangeiros: o chinês Lao Tse, o belga Gerard Dorn, o indiano Rudyard Kipling e o libanês Khalil Gibran.

“Admitindo que gostei de outros que agora não recordo, estes são os poemas que me fizeram vibrar ao lê-los, ou que me impressionaram, ou até me marcaram. Em diferentes momentos ao longo da vida, eles tiveram um significado especial para mim. E ainda tem. São de autores muito diversos. Desde alguns dos mais importantes nomes da literatura portuguesa, a alguns jovens pelo menos ainda quase desconhecidos. Desde pensadores que marcaram a História, até simples compositores de música ligeira contemporânea.

“Os temas abordados são também diversos. Desde a amizade à simplicidade. Da ciência à paz. De Deus e de liberdade. De crianças, de aves e de mar. De vida, de espiritualidade e de amor. Talvez se possa considerar como tema comum a Vida.”

A edição é de 2006.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Crônica

“No início da era cristã, chamava-se crônica a uma relação de acontecimentos organizada cronologicamente, sem nenhuma participação interpretativa do cronista. Nessa forma, ela atinge o seu ponto alto na Idade Média, após o século XII, quando já apresentava uma perspectiva individual da história, como fez Fernão Lopes, no século XIV. As simples relações de fatos passam, então, a chamar-se “cronicões”. E, no século XVI, o termo “crônica” começa a ser substituído por história.

“A partir do século XIX, a crônica já apresenta um trabalho literário que a aproxima do conto e do poema, impondo-se, porém, como uma forma especial, porque não se permite classificar como aqueles.

“Ligada ao tempo (chrónos), ou melhor, ao seu tempo, a crônica o atravessa por ser um registro poético e muitas vezes irônico, através do que se capta o imaginário coletivo em suas manifestações cotidianas. Polimórfica, ela se utiliza afetivamente do diálogo, do monólogo, da alegoria, da confissão, da entrevista, do verso, da resenha, de personalidades reais, de personagens ficcionais... afastando-se sempre da mera reprodução de fatos. E enquanto literatura, ela capta poeticamente o instante, perenizando-o.

“Conscientemente fragmentária (e essa é a sua força) pois não pretende captar a totalidade dos fatos, a crônica vem-se impondo nos quadros da literatura brasileira...”

(Angélica Soares in Gêneros literários, 6ª edição, Ática, 2000, págs. 64 e 65. A autora é doutora em Letras e professora de Teoria Literária na UFRJ).