sábado, 22 de março de 2008

Espaço e Tempo

“Vários autores têm sublinhado que espaço e tempo são noções relativas, que não existem em termos absolutos, sendo apenas uma questão de perspectiva; à medida que modificamos a nossa perspectiva, experimentamos a realidade de formas diferentes.

“Tal como se olha para uma pedra aos nossos pés e se vê a pedra, nesse preciso momento e nesse lugar, inteira, completa e perfeita. Mas, mesmo na fração de momento em que a pedra se mantém na nossa percepção, passam-se muitas coisas nela – um movimento incrível, a uma velocidade incrível, das partículas (átomos, prótons, nêutrons e partículas subatômicas) dessa pedra. E que fazem essas partículas? Fazem da pedra o que ela é.

“Ao olharmos para essa pedra, não vemos este processo. Mesmo que, conceptualmente, estejamos conscientes dele, para nós está tudo a acontecer “agora”. A pedra não se está a tornar uma pedra; é uma pedra, aqui e agora mesmo.

(...)

“Assim sendo, os fenômenos “espaço” e “tempo” são funções da perspectiva. Se resolvermos assumir uma perspectiva diferente poderemos deixar de ver a micro-realidade para passar a ver a macro-realidade. Ou vice-versa. Ou poderemos passar a perspectivar em simultâneo a micro e a macro-realidade.

“O “espaço” e “tempo” serão, então, perspectivas; não existem nem deixam de existir. À medida que cada ser vai modificando a sua perspectiva, vai experimentando a realidade de uma forma diferente. Provavelmente cada vez mais abrangente. Provavelmente cada vez mais próxima do Todo, desde o infinitamente pequeno até o infinitamente grande”.

- PORTELA, Luís. Encarar a realidade. Porto, Asa, 2004, págs. 21 e 22.

(o autor é médico, escritor e jornalista português).

domingo, 16 de março de 2008

Metáfora Rural

“Para muitos que leram Heidegger não ficou instantaneamente claro de que diabo ele está falando. Felizmente o próprio Heidegger tinha consciência dessa dificuldade e da necessidade de tratar dela. Para esclarecer seu pensamento nesse ponto, usou simples uma metáfora rural. O método para compreender a questão do ser, disse, era como o de abrir uma clareira na floresta. Limpamos a mata cerrada e a vegetação rasteira de modo que a luz possa se irradiar no terreno da clareira. A palavra alemã Lichtung, que significa “clareira”, contém a palavra Licht, que significa “luz”. Espalhamos luz sobre o terreno limpo que está oculto sob o que é imediatamente aparente. Expomos seu substrato, que é assim “desvelado”.

Mesmo para Heidegger, porém, há uma dificuldade aqui. Quando pomos à mostra o ser que estava velado, nós o desvelamos. Ele chama o que é desvelado aletheia. Essa é a antiga palavra grega para “verdade” – mas significa também não-esquecimento ou desvelamento. No entanto, segundo Heidegger, esse mesmo desvelamento produz velamento, encobrimento. Como pode ser isso? Ao desvelar revelamos o ser de um modo, mas ao mesmo tempo velamos todas as suas outras possibilidades. Ao escolher uma revelação, bloqueamos as outras revelações possíveis. Isso explica como o ser pode ter uma história, que não é necessariamente de progresso. O que os gregos antigos revelaram do ser perdera-se agora para nós em nossa revelação tecnológica do ser. Nosso desvelamento resultara em ocultamento”.

STRATHERN, Paul. Heidegger em 90 minutos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004, págs. 41 e 42.

sábado, 15 de março de 2008

Heidegger e o Sagrado: uma leitura budista

Tese de Doutorado de Antonio Carlos Pereira Borba Rocha na Faculdade de Letras da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendida em 26 de abril de 2007.

Tese completa em PDF, 235 páginas, acesse:

www.ciencialit.letras.ufrj.br/trabalhos/2007/antoniocarlospereira_umaleitura.pdf-

domingo, 9 de março de 2008

Bloglit Memórias de Lásaro

“Entrei na fase reflexiva em que resolvi mudar de vida. Depois de muitos conflitos comigo mesmo decidi dar um tempo, (...) por isso larguei tudo, entrei em uma fase, digamos Zen de vida.

Eu passei a encarar seriamente, pela primeira vez na vida, um problema existencial de frente, surpreendi-me recentemente quando procurava finalizar estas memórias, haver anotado em uma caderneta de endereços as observações que se seguem, deste período de profundas reflexões. “Mesmo o mais descrente dos homens em momentos de aflição, quando no limite da existência corpórea, quando o seu espírito se encontra despedaçado, a alma em frangalhos, olhando para todos os lados e não vislumbrando uma única saída do labirinto em que está sucumbido, é capaz de apelar para qualquer ente transcendente que lhe esteja acima de seu domínio de percepção, seja Ele chamado Deus, ou um Poder Superior a nós mesmos. Ele tenha ou não a existência em si mesmo, é chamado por nós na esperança de aliviar a nossa dor, de nos tirar do buraco, daquele infortúnio sem saída, dentro do campo da razão ditada pela lógica do ser. É aí que ele descobre a Fé como único meio de salvação, não uma salvação futura, mas imediata”.

(trechos do livro Memórias, de Lásaro Venceslau dos Santos, Editora Caetés, 2008, p. 111 e 112).

- O autor nasceu em Francisco Santos, Piauí, reside no Rio de Janeiro desde 1968, é professor de matemática e física na rede estadual.

sábado, 8 de março de 2008

Quem escreveu a "Divina Comédia" ?

“Simplesmente de pasmar as descobertas sensacionais que a alta pesquisa histórica moderna está realizando no campo das instituições e quanto à autoria das grandes epopéias da humanidade; por exemplo: a instituição do Salteo ou dos alfaqueques, ambas por nós descobertas e, por incrível que pareça, a autoria da própria Divina Comédia atribuída a Dante Alhigieri, pois bem, saibam todos, que a maior epopéia do renascimento não é de Dante Alhigieri, como até agora estudávamos e ensinávamos: ela é cópia quase literal dos ensinamentos da escola mística muçulmana-espanhola de Ibn-Massarra, como prova de maneira irrefutável o grande arabista espanhol, professor Assim Palácios, na sua imortal obra intitulada “La Escatologia Muçulmana en la Divina Comedia”, que, por incrível luxo de detalhes, prova extremos tão curiosos como os conhecimentos da gíria siciliana por parte de Dante Alhigieri.

Por exemplo: existe na Divina Comédia dois versos que ninguém até hoje soube traduzir. E sabem o que esses versos dizem? Pois pasmem: são dois solenes palavrões utilizados na gíria árabe da Universidade Siciliana de Palermo, onde reinava Frederico II, íntimo amigo e protetor de Dante Alhigieri e tão arabizado, apesar de ser cristão caudatário do Papa, que até harém possuía; e que como diz o velho ditado espanhol: “Lo Cortés no quita lo valiente”.

Nem o famoso Bartolomeu Mitre, presidente da República Argentina, foi capaz de traduzir os ditos versos na sua versão espanhola da Divina Comédia; o autor de tão hilariante descoberta foi nada mais nada menos que o nosso modesto e despretensioso professor Kurban, recentemente falecido, nesta mesma metrópole paulistana”.

(trechos do livro Mundo árabe berço da civilização, Fearab – Brasil – Confederação de Entidades Árabe-Brasileiras, 2006, p. 37 e 38).

quarta-feira, 5 de março de 2008

Poesia Bosquímana

autor: Nils-Aslak Valkeapää

Eles vêm a mim
E mostram livros
Livros de direito
Que eles mesmos escreveram
“Esta é a lei e ela também se aplica a você
Veja”

Mas eu não vejo irmão
Eu não vejo irmã
Eu não posso dizer nada
Eu só lhes mostro a tundra

Eu vejo nossas montanhas
Os lugares em que vivemos
E escuto a batida de meu coração
Tudo isso é meu lar
E eu o carrego
Dentro de mim
Em meu coração

Eu posso ouvi-lo
Quando eu fecho os olhos
Eu posso ouvi-lo

E eu posso ouvi-lo
Mesmo quando eu abro meus olhos

Mas eles continuam vindo e perguntando
Onde é seu lar

Eles vêm com papéis
E dizem
Isto não pertence a ninguém
Isto é terra do governo

Tudo pertence ao Estado

Eles trazem livros velhos e grossos
E dizem
Esta é a lei
Ela se aplica a você

O que devo dizer irmã?
O que devo dizer irmão?

Você sabe irmão
Você entende irmã.”

(in pág. 133, do excelente livro Minhas Memórias de África – uma viagem pelo caminho interior, de autoria do brasileiro Thomas Paul Bisinger. Edição do Autor, 2007, 176 páginas, dezenas de fotos coloridas e em preto/branco).

domingo, 2 de março de 2008

Diálogo

"Percebi que o diálogo é um gênero literário, uma forma indireta de escrever"

- Jorgel Luis Borges (in Borges em diálogo, 1988).