quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Viva a Linguística !

Antonio Carlos Rocha*

Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !

Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.

É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.

Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.

Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?

Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração

Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem

Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.

Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes

Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.

Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.

(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Viva a Linguística !

Antonio Carlos Rocha*

Abaixo o “terrorismo purista”
Pelas Liberdades Gramaticaes !

Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.

É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.

Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.

Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?

Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração

Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem

Pois como disse Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo
A língua certa do povo”.

Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes

Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.

Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide
É só, tenho dito.

(*) Mestre e doutor em Ciência da Literatura, UFRJ.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Literatura e Espiritismo

Tese de doutorado na Unicamp pesquisa livros de Chico Xavier:

O Caso Humberto de Campos: Autoria Literária e Mediunidade.

Alexandre Caroli Rocha defendeu, em 4 de junho de 2008, tese de doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, em Campinas (SP). Trata-se dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, passando também pelo famoso processo que a família do escritor moveu contra o médium mineiro e a Federação Espírita Brasileira para requerer direitos autorais. Abaixo (trechos) da entrevista com o autor, que já defendeu tese de mestrado em Literatura sobre a obra Parnaso de Além-Túmulo, o primeiro livro de Chico Xavier:

Folha Espírita – O que você pesquisou na tese de doutorado?

Alexandre Caroli da Rocha – Estudei a obra de Humberto de Campos (1886-1934) e os livros que Chico Xavier (1910-2002) atribuiu a ele e a Irmão X. O objetivo foi pesquisar o problema autoral desse conjunto de livros do médium mineiro. Na tese, entre outros temas, apresentei um histórico dessa atribuição de autoria e analisei as estratégias textuais utilizadas pelo autor dos livros psicografados para se representar como Humberto de Campos após sua morte.

FE – Os especialistas chegaram a fazer uma comparação entre as obras de Humberto de Campos, escritas quando encarnado, com as que escreveu através de Chico Xavier?

Rocha – Alguns escritores e intelectuais, especialmente em 1944, publicaram artigos a respeito de suas impressões de leitura, relacionando as duas obras. Na tese, analiso boa parte desse material. Em síntese, há duas questões envolvidas: uma é textual e outra é teórica. Uma grande parte dos comentadores achou que os textos psicografados apresentavam muitas afinidades com o que Humberto de Campos costumava escrever (fator textual). A partir desse dado, alguns arriscavam uma explicação (fator teórico) e outros diziam não saber como explicar o fenômeno. Entre as tentativas de explicação havia a kardecista (o espírito do escritor comunicou-se através do médium); a do pastiche, consciente ou inconsciente (o médium imitou Humberto de Campos); a demonista (o verdadeiro autor é o diabo); a sobrenatural (houve um milagre e o milagre não pode ser explicado). Um bom exemplo é o que passou com Agrippino Grieco, em 1939. O crítico acompanhou uma sessão espírita na qual Chico Xavier psicografou uma carta a ele dirigida e assinada por Humberto de Campos. A respeito do texto, ele declarou que parecia mesmo ser um escrito inédito do autor de Memórias, mas não sabia como explicar o fenômeno.

FE – Como ter acesso à tese?

Rocha – Na internet, ela já está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp, no endereço: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434.

(texto acima conforme a Folha Espírita, novembro de 2008, www.folhaespirita.com.br ).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Deus que gosta de Poesias

Antonio Carlos Rocha*

No próximo ano, 2010, será realizado pela primeira vez no Brasil, simultaneamente em Jandira, SP, e em Brasília, o Festival de Poesias da Oomoto, uma linhagem Xintoísta que está presente em diversos países e, naturalmente, em nosso país, inicialmente através dos imigrantes japoneses e hoje em dia através de muitos brasileiros, sem nenhuma ascendência visível com os nipônicos, a não ser as espirituais que, por enquanto, não temos como provar.

Diz a antiqüíssima lenda que, após abater a “gigantesca serpente diabólica”, o Deus Susanoo, filho do Deus Celestial, ficou triste porque percebeu que ainda, em todos os países, os seres humanos continuavam apegados às mais diversas formas do mal. Então a esposa do Deus Susanoo, chamada Kushinada-hime , fez um tambor e começou a tocar, cantar e dançar para alegrar o marido. Nesse momento, o Deus Susanoo compôs um poema (tanka) que dizia:

“Embora eu tenha destruído o chefe dos maus espíritos, entre todos os países do mundo, ainda existem grandes barreiras, sobre as quais esvoaçam grossas nuvens. Portanto, elimine também essas barreiras e essas nuvens, em favor da paz”.

Estudiosos afirmam que foi nessa ocasião que nasceu a tradicional poesia japonesa chamada tanka, composta de uma única estrofe com cinco versos: a primeira linha com 5 sílabas; a segunda linha com 7 sílabas e assim alternando até o quinto verso.

As informações acima estão na revista Oomoto Internacia, edição bilíngüe, esperanto e português. Os oomotanos estudam, falam, praticam e divulgam o idioma internacional esperanto. Maiores detalhes www.oomotodobrasil.org.br

É bem provável que o nome da cidade de Suzano, no interior paulista, venha desse Deus, visto que os imigrantes japoneses, desde 1908, se espalharam pelos mais diversos pontos do Estado de São Paulo. A explicação para se realizar o Festival em Jandira é porque lá fica a sede nacional da linhagem e em Brasília por ser a capital federal.

No dia do Festival, que será oportunamente divulgado, os praticantes escrevem poemas no estilo tanka (não confundir com haikai que é menor). As poesias são escritas em pequenos papéis e colocadas no altar. Diz a milenar tradição que o Deus Susanoo fica muito feliz, alegre e contente lendo as poesias dos fiéis. Podem ser pedidos, agradecimentos, louvores à paz mundial etc.

Obs.: Respeitamos a grafia oficial da linhagem e escrevemos Deus Susanoo com “d” maiúsculo.

(*) Antonio Carlos Rocha é professor e escritor.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Carta de Monteiro Lobato ("evangelizante") a Anísio Teixeira

“São Paulo, 3-6-1944.

Anísio,

Passou por aqui um engenheiro baiano, Nery, que muito me falou de você; e também um moço da livraria do Otales, que te levou me abraço. Mas esta não é para nada disso – nem para comentar a entrada americana em Roma, o grande fato do dia de hoje. É para te comunicar algo muito importante. Todos nós, Anísio, temos o vago sonho de encontrar um livro que nos seja uma casa definitiva – a casa de sonho que procuramos. Um livro no qual; moremos, ou passemos a morar como um rato dentro de um queijo. Um livro que seja casa e comida. E se como D. João saltava duma mulher para outra em busca da única, ou da certa, nós vivemos como gafanhotos, a pular de livro em livro, é que nunca aparece o nosso livro. Quando Sto. Agostinho dizia temer o homem de um só livro, ele se referia ao perigo que é o homem que encontra o seu livro (...).

Pois creio que encontrei o meu livro – o queijo para casa e comida do rato velho que sou. E chama-se A Grande Síntese, de Pietro Ubaldi.

Quis mandar-te o livro em vez de apenas indicá-lo, mas não achei nenhum nas livrarias, estão tirando nova edição. Fica aí de alcatéia, para fisgar um quando saia. E leia-o como estou fazendo: sem pressa nenhuma, com a simpatia aberta como uma flor (...). Estou ainda pouco avançado na leitura tanto me deslumbro e paro pelo caminho, e tenho um medo imenso de que com você não se dê a mesma coisa. Mas há de dar-se. Impossível que você não veja o que esse livro é. E sabe que A Grande Síntese está cá em casa há quase dois anos, e só agora eu a descobri? Purezinha morou nela todo esse tempo, e foi essa persistência que me atraiu a atenção: Abria-a ao acaso, comecei a lê-la... e eis-me evangelizante ! Eis-me a escrever ao Anísio, para que a leia também. Por que ao Anísio e não a outro qualquer? Porque você é a Inteligência pura, Anísio, e tenho a certeza de que, a tua opinião sobre o livro podia coincidir com a minha – e que glória para mim por tê-la a indicado ?

Mas se acaso seguires meu conselho e leres A Grande Síntese, não quero que me escreva logo após a leitura – e sim um ano depois; isto é, depois que a leitura amadurecer como os vinhos...

Adeus. Dê-nos a tremenda notícia de que anda projetando uma daquelas famosas vindas a S. Paulo. Venha levantar o ânimo de S. Paulo que está “crest fallen” com a tua já tão longa ausência.

Mil abraços do
Lobato”

(trechos da carta do escritor Monteiro Lobato ao educador Anísio Teixeira. O original encontra-se no CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas, na Praia de Botafogo, Rio. Conforme www.pietroubaldieditora.com.br

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Diálogo com Chuang Tzu Hoje

Antonio Carlos Rocha*

“Hoje, século XXI, 2008, qual a importância das palavras de Chuang Tzu para nossas vidas? Propositalmente escrevo a palavra “palavra” e aproveito para citá-lo:

“A armadilha de peixes existe por causa dos peixes; uma vez apanhado o peixe, pode-se esquecer a armadilha. O laço para coelhos existe devido ao coelho; uma vez apanhado o coelho, pode-se esquecer o laço. As palavras existem pelo seu significado; uma vez captado o significado, podemos esquecer as palavras. Onde encontrarei um homem que tenha esquecido as palavras, para que possa trocar com ele uma palavra?”

Inicialmente queremos ponderar que talvez o mais indicado seja em vez da palavra “palavra”, colocarmos a palavra questão. Estamos repetindo a palavra “palavra” porque ela nos lembra lavra. O verbo lavrar nos remete a arar a terra, preparar o terreno para o plantio. E o que é que plantamos nesse terreno? O que é que, com as palavras, estamos fazendo com a nossa Terra, com o nosso planeta Terra? Será que um dos problemas que está acontecendo no mundo de hoje é com a palavra? Está na palavra? Está com o (e no) excesso de palavras? Como bem se diz, a questão é o emaranhado de palavras? Com essa teia? Com essa rede de palavras? Será que é porque falamos demais e nos entendemos de menos? Será que é isso o que Chuang Tzu está querendo nos dizer?

“Será que as palavras são armadilhas? Será que as palavras podem ser armadilhas? Do que é (e do que) são feitas as palavras? E hoje, podemos viver sem (as) palavras? Note-se que, cada vez mais, as empresas de telefonia estimulam o uso de seus aparelhos. Não estamos falando do aspecto saudável que é o uso de um telefone quando se precisa transmitir ou receber uma mensagem. Estamos falando que hoje somos reféns da indústria que alimenta e favorece as palavras. Concordando com Chuang Tzu, caímos na armadilha do consumismo”.


(*) O presente artigo é parte de um texto que o autor publicou na revista Tempo Brasileiro, nº 171, cujo tema é : “Permanência e Atualidade da Poética”. A edição foi organizada pelo professor Manuel Antonio de Castro, titular de Poética na Faculdade de Letras, da UFRJ.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"Os veados de Nara"

Antonio Carlos Rocha*

No início dos anos 1980, a Faculdade de Letras da UFRJ criou o curso “Português-Japonês”. Tempos depois, um grupo de professores foi ao Japão através de intercâmbio acadêmico.

Certa amiga e professora, do curso Português-Literaturas, portanto, não falava japonês, contou o “mico” que pagou por não saber ler os ideogramas daquele país:

Ao visitar um parque público, notou que vendedores ambulantes ofereciam pacotes de biscoitos. Comprou um e guardou na bolsa. Ao final da tarde, já de volta no trem que a levava para o hotel, sentiu fome. Naturalmente abriu a bolsa, abriu o citado pacote e pôs-se a comer o biscoito.

Nesse momento, os japoneses que estavam sentados à frente dela no vagão, começaram a rir e explicaram que aquele biscoito era para dar aos veados que habitam o parque, como aqui, no Ocidente as pessoas compram milho para os pombos.

Ela argumentou que o pacote não tinha uma única frase em inglês, tudo em japonês daí a gafe. Mas todos riram inclusive ela.

A curiosidade acima me fez lembrar do escritor e médico Cláudio de Souza (1876-1954), membro da Academia Brasileira de Letras, em seu livro Impressões do Japão, publicado em 1940 pela Editora Civilização Brasileira.

O autor visitou o País do Sol Nascente em 1940, andou de norte a sul, era um apaixonado pela cultura nipônica. O veado é um animal especial no Budismo; em muitos quadros, paisagens e afins, vemos o Buda meditando na floresta tendo ao lado os pacíficos animais.

À página 157 Cláudio de Souza escreve:

“Não vos apresseis. Vamos permanecer por mais alguns momentos na lenidade do bosque. Aproxima-se um vendedor de cartuchos com biscoitos leves para os animais sagrados. Metei a mão no bolso; trazei para fora o porta- moedas. Por alguns cents o vendedor sorridente nos vende um cartucho. Os veados de Nara – estamos em Nara – viram nosso movimento e vem acudindo. Estendei-lhes a mão com o biscouto. Sentirei suas línguas húmidas e tépidas molhar-vos os dedos.

Naquele cenário e naquele ato bucólico perguntareis de novo:

- Estamos no ano da graça de 1940, ou ainda naquelas priscas eras em que homens e animais formavam uma só família nos bosques mitológicos?”.

(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Arte da Guerra

Antonio Carlos Rocha*

Apesar do título é um livro que fala de paz, que fala da vida, pois a vida, em certo sentido, podemos lê-la, como se fosse uma guerra. E neste livro compreendemos que os soldados são os nossos pensamentos. Uns contra, outros a favor, mas a soldadesca dos pensamentos está sempre aí, em nossa mente.

O autor, Sun Tzu, era um pensador, um filósofo, um civil, que viveu no século V AC, logo após a aparição de Buda neste mundo, que foi no século VI AC. O pensador inspirou-se na Lei da Impermanência que Sakyamuni tanto falava e escreveu os famosos treze capítulos de sua Arte da Guerra, a arte de vencer a si mesmo, pois o Buda ensinava que é mais fácil vencer um exército de mil guerreiros do que vencer a si mesmo.

O texto de Sun Tzu impressionou tanto o imperador chinês da época que o nomeou general de seu exército. Conta-se que, enquanto viveu, e só faleceu bem idoso, nenhum reino daquele tempo, conseguiu vencer as tropas de comandadas por Sun Tzu.

Uma ótima edição brasileira é a da Editora Record, 1983, adaptada pelo escritor e especialista em Extremo Oriente James Clavel. São 120 páginas com magníficas reflexões sobre a arte de viver.

Atualmente, muitos empresários utilizam A Arte da Guerra em cursos, simpósios e seminários de treinamento para executivos, para melhorar performances de produtos e dinamização de recursos humanos etc.

Vejamos alguns trechos:

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...”.

“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.

“A arte da guerra é governada por cinco fatores constantes que devem ser levados em conta. São: a Lei Moral, o Céu; a Terra; o Chefe; o Método e a disciplina”.

“A arte da guerra é de importância vital para o estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína. Assim, em nenhuma circunstância deve ser negligenciada”.


(*) Antonio Carlos Rocha é escritor.