domingo, 24 de fevereiro de 2008

O Amante das Amazonas

Este romance, inspirado em fatos reais, históricos, conta a saga do ciclo da borracha, do apogeu e decadência do vasto império amazônico, na maior floresta do mundo.

Cerca de cem volumes da época foram lidos e mais de dez anos de trabalho necessários para escrever esta obra ímpar na literatura brasileira.

O autor (www.geocities.com/rogelsamuel) é professor aposentado adjunto doutor do Departamento de Ciência da Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro e já publicou os seguintes livros: Crítica da escrita, 1979; Manual de teoria literária, 14 edições e Literatura básica, em três volumes, ambos pela editora Vozes, 1985; O que é Teolit?, ed. Marco Zero, 1986; 120 poemas, ed. Aió, 1991 e o Novo Manual de teoria literária, lançado em 2005, já está na quarta edição pela ed. Vozes.

Além disso tem várias centenas de artigos, crônicas, contos e poemas em jornais e na internet. É o editor da Revista Eletrônica, vide site acima, webjornalista (http://br.groups.yahoo.com/group/cronicasdesabado/). Colunista de ( www.blocosonline.com.br ), o maior portal de literatura no Brasil.

Amazonense de Manaus, Rogel Samuel nasceu em 1943, filho de francês com brasileira. Seu avô alsaciano foi rico comerciante de borracha na amazônia, no início do século XIX.

A narrativa mistura ficção e fatos reais, contados por testemunhas, e transcreve um conjunto de acontecimentos do apogeu e da decadência daquele império amazônico, além de relatos de “Jaguareté, o guerreiro”, de Albert Samuel, seu pai, navegador por 40 anos na Amazônia, com quem conheceu a floresta.

Apesar de tudo – alerta o editor – qualquer semelhança ainda é mera coincidência.

Esta é a segunda edição de O amante das amazonas, já nas livrarias de todo o Brasil, com o timbre da Editora Itatiaia, de Belo Horizonte.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

No Princípio era a Fábula

“Lógica” procede da palavra logos, que originária e propriamente significou “fábula”, no italiano traduzido por favella (que corresponde, em português, à “faculdade de falar”, ou língua, conforme observa em nota o tradutor, Antonio Lázaro de Almeida Prado). E a fábula também se chamou para os gregos müthos, que resulta para os latinos mutus, pois, nos tempos mudos (ne’ tempi mutoli) nasceu como linguagem mental – eis que Estrabão, num passo áureo, disse ter a linguagem mental aparecido antes da linguagem vocal, isto é, antes da articulada. Por isso, logos tanto significa “idéia” quanto “palavra”.

PIGNATARI, Décio. Semiótica da arte e da arquitetura. São Paulo, Cultrix, 1981, p. 22.

Algumas edições da Bíblia nos informam que logos equivale a verbo em português. Partindo do que nos fala Pignatari, podemos (com todo respeito e reverência, visto que este é um blog de estudos e pesquisas) reescrever os versículos 1 a 4, do primeiro capítulo do Evangelho de João da seguinte forma:

1 No princípio era a Fábula, e a Fábula estava com Deus, e a Fábula era Deus. 2 Ela estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dela, e, sem ela, nada do que foi feito se fez. 4 A vida estava nela e a vida era a luz dos homens.

(conferir: Bíblia de Estudo de Genebra. Cultura Cristã/Sociedade Bíblica do Brasil. São Paulo, 1999, p. 1228).

Ao reescrever procedemos a uma re-escritura. E meditamos então sobre a importância da Fábula em nossas vidas.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Heidegger and the Holy. A buddhist reading

ROCHA, Antonio Carlos P. B. Heidegger and the Holy. A buddhist reading. Rio de Janeiro. Letters College - UFRJ, 2007, PhD thesis in Literature Science – Poetics.

SUMMARY

Our thesis's proposition is to try to show the deep similarities between the thoughts of the german philosopher Martin Heidegger, in the first half of the XXth century, and Sidarta Gautama, who since the VIth century bC. and all along these two milleniums and a half is known as “the Buddha”, “the illuminate”, “ the awaken”.

We emphasize the verb “try” because we do not have a closed, a finished, a concluded intention. By the way, such a determinist point of view does not agree with the principles neither of the german thinker's work nor of the Buddhism. We raise questions and we signalize the closeness of some approaches concerning life, reality and art.

Among the vast work of Heidegger we detach the book Memorial Adress, yet unpublished in Brazil but edited in Portugal. It seemed to us an authentic guide of buddhist meditation, full of the philosophical jargon that distinguishes Heidegger, who created a whole original language, almost a dialect; hermetic, accessible to the initiated, the chosen ones. The three texts that compose this volume date from 1944/45, 1954 and 1955, when the Zen-budhism was in “fashion” in Europe and in Occidental world.

Another text that we detach is the chapter “A dialogue on language”, from the book On the way to language. In the dialogue it remains evident that the thinker from the Black Forest had japanese students, that he knew about the existence of some japanese buddhist philosophers (monks) and that he experienced even a little bit of the nipponic culture through the film Rashomon, from the japonese motion picture director Akira Kurosawa.

We tried also to make a parallel between the Heidegger's basic work, Being and time, and the book The time being, from the japanese buddhist monk Dôgen (1200-1253), considered as the founder of the philosophical thinking in Japan. Uji, the japanese original title for this work, was written in 1240.

The originality of our thesis resides in the fact that, until a contrary proof, we do not know “any buddhist reading of the Martin Heidegger's work” in the brazilian academic field. We did not find anything similar in any mentioned and consulted bibliography, including some important libraries in Rio de Janeiro, as the considered National Library and the Library of the Letters College of UFRJ, and also several thesis database.

What we are suggesting here is a provocation in the academic sense. In a certain way, we recognize that “to read” Heidegger under the Oriental optics is an effrontery, however it was in this form that his texts appeared to us.

The so anthropocentric, cartesian, logical Occidental world needs to accept the contribution of the Oriental thinking, and particularly, of the buddhist thoughts, moreover during this globalization times. Here is our position for the debate. We repeat that we are not closed, neither ready nor finished, we are beginning, with this thesis, the discussion in the brazilian university.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Religião e Poesia

“Assim, tanto a Religião como a Poesia são formas de revelação do encontro do homem com o sobrenatural, com o que o rodeia e ele não tem olhos para ver, como se diz em várias passagens da Bíblia. A linguagem da Religião está fundada no símbolo, quer dizer, é absoluta, é vertical, de cima para baixo, impositiva; ao passo que a Poesia parte do signo, é horizontal como o discurso e se abre para o imaginário de cada um.

A Poesia é por isso o exercício maior de nossa liberdade de ser: através dela tomamos contato com uma categoria de “sagrado” que não é bem o sobrenatural, mas uma saída do comum, da linguagem comum que nos achata, que nos faz igual a todo mundo, que ilude a nossa individualidade. A liberdade de que falamos está na possibilidade de escolhermos as nossas palavras e de organizá-las segundo o nosso gosto, de investir nelas as significações mais caras às nossas emoções e ao nosso imaginário. Aí está a criação na poesia: o poeta foge da linguagem de todo mundo, ordenando-a de outra maneira, construindo dentro dela o seu cosmo particular, que é o poema, objeto verbal artisticamente estruturado. Nisso ele procede como Deus: parte do caos e da criação para o cosmo do poema e da poesia. Ele também pronuncia, mas para dentro da escrita.

Nesta concepção, o poema provém de um ritmo que passa pelo mais íntimo do poeta, repercute no cosmo cultural e toca, em última instância, o Logos do Criador. Um ritmo que se faz musicalidade para revelar os estados emocionais e inconscientes ainda não tocados pelo sentimento ou pela razão, um ritmo mágico, que fascina como um sortilégio na linguagem, um ritmo sagrado que se torna litania, oração e prece.

Como nada é conclusivo, continuamos em busca de elementos novos para a construção, não definitiva, do que poderá ser um dia uma possível Filosofia da Criação Poética”.

(Gilberto de Mendonça Teles. Sortilégios da criação. Edições Galo Branco, 2005, págs. 61 a 63).

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A impossibilidade da Completação

“Heidegger nunca completou seu tratado sobre a impossibilidade da completação. (...) Outra alternativa é ver Ser e tempo como que aguardando ser completado pelo trabalho de outros, (...) As maiores aventuras do pensamento do século XX, em outras palavras, podem ser pouco mais que uma série incompleta de notas de rodapé a Ser e tempo de Heidegger”.

Jonathan Rée. Heidegger. Unesp, 2000, pp. 63 e 64.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Poesia e Filosofia

“Dentro do conceito de uma filosofia da ciência literária, assim como queriam os alemães por volta de 1930, tentarei estabelecer, da maneira mais sintética possível, uma impossível unidade de idéias em torno do termo POÉTICA, que designa nos meios especializados uma ciência cujo objeto é toda a literatura – criação e arte, gêneros e formas, texto e contexto, autor e leitor, enfim, uma matéria aparentemente sem “fronteiras”, e que, situando-se no seu tempo e espaço, abre-se utopicamente para outros tempos e espaços do imaginário de todos os tempos.

A constituição da Poética como Ciência da Literatura, iniciada com Aristóteles e prolongada no Ocidente sobre os princípios da geometria euclidiana, foi-se fazendo dentro das Ciências Humanas, com o material recortado da Filosofia, da Filologia, da Gramática e da Retórica. No Oriente, a ciência desenvolveu-se não com a lógica mas com a analogia e com a álgebra, possibilitando, pelo tipo especial de cada escrita, um modo visual e anagógico de se pensar a produção literária.

Mas para a compreensão mais profunda do conceito de Poética, preferimos trata-la como Ciência da Poesia, como, aliás, o quer o grupo de Liège. E tanto no Ocidente como no Oriente, é preciso que ela seja percebida nos seus dois sentidos fundadores: um que trata da invenção, da criação ou da recriação; outro que olhe sobre essa criação, que olhe, que ache conforme e que a julgue de algum valor como forma artística, assim como Deus fez com a sua Criação.

Elas são as duas faces da moeda literária – uma que, a priori, especula a fenomenologia criadora; outra, a posteriori, que examina o sentido de originalidade da obra em consonância com o cânone e com os elementos novos que essa obra acrescenta à tradição”.

(trechos do discurso de posse de Gilberto Mendonça Teles na Academia Brasileira de Filosofia, 2005: “Para uma Filosofia da Criação Poética”.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Interpretação e Filosofia

“Como se entrosam e se diferenciam as filosofias? A única força histórica constatável, da qual resultam as alianças, os transportes e as modificações desses conjuntos teóricos, é a interpretação de um filósofo por outro. A história da filosofia não é senão o campo serenado dos conflitos e antagonismos que precedem essas transformações (...). É um fato, porém, que a interpretação sempre conduz esse processo, qualquer que seja o modelo utilizado, ou de derivação, pelo qual uma filosofia se origina de outra, ou de conjunção, quando uma se casa com outra. Não será descabido afirmar que quanto mais se multiplicam os atos interpretativos de uma filosofia, mais a sua identidade própria se robustece.

Pode-se interpretar uma filosofia guardando-se distância de seu pensamento; mas também pode o intérprete assimilar esse pensamento, fazendo-o seu. Heidegger interpretou Nietzsche, integrando-o ao seu modo próprio de pensar. De qualquer forma, quem interpreta está identificando o interpretado. Que identidade filosófica Heidegger atribui a Nietzsche?

É preciso considerar, antes de mais nada, que essa assimilação de Nietzsche não é, como ato de interpretação, apropriativo de uma outra filosofia, um dado extraordinário, isolado, do fazer filosófico em Heidegger. Singularizado pela questão do ser, inerente à definição mesma do Dasein, como ser-no-mundo, o pensamento de Heidegger tem no ato de reinterpretar todas as grandes filosofias da Antiguidade grega, da Idade Média e da época moderna, conferindo-lhes, portanto, novas identidades, o princípio mesmo de sua economia interna ou, se quisermos, de sua endogenia”.

(Benedito Nunes in O Nietzsche de Heidegger. Pazulin Editora, 2000, pp. 15 a 18).